iagofelipeh 25/05/2020
Bulgákov foi gênio!
Sátira visceral do modus operandi soviético, enredo rebuscado, cheio de referências literárias, musicais, teatrais, etc. Prosa também muito fluída e instigante; engraçada e irônica em muitos momentos.
Inspirada em Fausto, do Goethe, e na ópera homônima de Gounod, trata-se da variante russa desse clássico. A narrativa é muito boa, o narrador é deveras irônico, jura por mais de uma vez que trata-se de uma conjuntura real,se coloca, muitas vezes, sob a perspectiva dos personagens, é um dos prediletos.
A trama é iniciada pela chegada de Satanás e seu séquito demoníaco em Moscou. Causam muita baderna, caos social, cometem assassinatos e, na medida em que realizam suas peripécias, evidenciam o autoritarismo, nacionalismo e burocracia exacerbados do regime, tudo isso de modo orgânico e sutil. Outrossim, temos o casal amante mestre e Margarida, ele, autor de um livro sobre Poncio Pilatos, acaba indo parar num sanatório; ela, por sua vez, casada com um homem que não ama, vive deprimida numa mansão e daria TUDO pra rever seu amante.
O Procurador da Judeia tem papel central no livro, sendo o protagonista do enredo pararelo: uma versão sob seu ponto de vista das duas semanas que comportaram a crucificação de "Yeshua". Entrando aqui (além de como o romance do mestre que de certo modo aconteceu, ou não) como um contraponto ao ateísmo como política de estado, corroborando, é claro, a própria presença do diabo ali.
O desenrolar é único, recomendo a todos a obra-prima de um escritor oprimido pelo seu país e pela imprensa, que, inclusive, só foi publicado na Rússia 33 anos depois de sua morte.