PedroS2 31/10/2023
Dualidade preconcebida
Não poderia eu, antes de quaisquer introdução, desenvolvimento ou conclusão, deixar de explicitar que: Há mais nesse livro que os olhos podem ver. Que poder ele pode exercer sobre um leitor atento.
Incrível! É uma opinião superficial sobre este magnífico livro, que se assemelha visualmente à um Manifesto Comunista Parte 2.
Confesso, que de maneira exacerbada este livro me trouxe um mix de emoções intensas devido a certos aspectos aos quais qualquer pessoa poderia se identificar ao abrir sua mente para o que o autor pretende demonstrar.
A surpresa inesperada foi espetacular, quando li sobre o livro. Confesso que esperava algo como "Rainha Vermelha".
Como eu poderia estar tão errado. E quão bom foi estar errado.
O autor constrói um mundo magnífico, com um tema extremamente interessante que é a vida fora da terra. Para mim é muito cativante tal cenário.
Com personagens secundários tão bem desenvolvidos e carismáticos que você sofre com eles, ama eles. E os odeia na medida extrema.
Darrow. Não deseja mudança. Não deseja revolucionar. Mas parece que o chamado só aparece para aqueles que não estão preparados. E isso interessante, a imposição.
Um dos pontos mais destacáveis é justamente o MC, que foi construído de maneira majestosa... Um humano. E é isso que faz você amá-lo.
Mesmo enquanto anseia pela fantasia os seres humanos buscam a realidade.
Ele é inteligente, calculista, frio. Mas tão quente e tão possuidor de emoções quanto qualquer um.
Magnífico, como é trabalhado o luto. Impossível não ver claramente isso transcrito em Darrow, por mais problemas que possam ser resolvidos, por mais trabalho que possa ocupar sua mente.
A dor de uma perda nunca será sanada, ela é como uma cobra peçonhenta, que espera o melhor momento para te ferir com suas presas, infectando seu coração e queimando sua mente.
É realista. Como qualquer pessoa detentora de sentimentos, eles vem. Vão. Em momentos realmente inesperados, causando mais e mais empatia e simpatia pelo mesmo.
Ele comete erros. Eu me vi diversas vezes pensando "Cara. Você é tão inteligente mas as vezes é tão burro." O arco final me surpreendeu de maneira realmente inesperada.
De todos os cenários que eu imaginava, nenhum se tornou realidade. Majestoso é a construção do autor, ele esconde o necessário e mostra o essencial para puxar seu tapete quando você menos esperar.
"Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro" Friedrich Nietzsche. Essa foi a única frase que define o protagonista para mim.
Atiçador foi, ver Darrow aos poucos se identificando e cada vez mais se tornando como aqueles que ele mais odeia. Porém com isso o vazio.
Uma das lições que o autor quis transcrever, creio eu foi: A falta de pertencimento. E o uso de máscaras.
Tantas vezes não nos sentimentos pertencentes aos locais onde estamos, sejam grupo sociais, emprego, escola.
Porém usamos máscaras para nos adaptar e enturmar, e "n" motivos.
Essa dualidade é magistral em seu início, desenvolvimento e conclusão.
Darrow é proveniente de dois mundos. Porém assim como muitos de nós, não pertence a nenhum.
Um garoto sonhador e simples. Endurecido pela vida.
"Essa não é a pessoa que eu sou, a pessoa que eu quero ser. Quero ser pai, marido, dançarino." Página 182