spoiler visualizarTane 06/04/2024
"Vazio é viver acorrentado pelo medo."
Em "Fúria Vermelha", somos transportados para um futuro não tão distante, onde a humanidade domina a tecnologia e começa a colonizar outros planetas. Dessas incursões surge uma sociedade estratificada por um regime arcaico de castas, onde as pessoas são segregadas por cores. Os Ouros ocupam o topo da pirâmide, enquanto os Vermelhos são relegados à posição de operários, formando a base dessa estrutura de desigualdade,sem saber desses avanços tecnológicos e sendo manipulados a pensar que Marte ainda está em fase de colonização.
Nesse contexto, conhecemos Darrow, um jovem Vermelho que não possuía grandes perspectivas de vida até o momento em que sua esposa é brutalmente assassinada por um Ouro. Determinado a vingar sua perda, nosso protagonista une-se aos Filhos de Ares, uma organização que almeja derrubar os Ouros que subjugam as demais castas.
Contudo, Darrow busca mais do que simples vingança pessoal; ele aspira à liberdade de seu povo e ao cumprimento do sonho de sua esposa, Eo.
"Fúria Vermelha" é uma narrativa profundamente impactante que desnuda as falhas do capitalismo, evidenciando como a meritocracia, as injustiças sociais e a opressão do homem sobre o homem são males não apenas presentes nessa realidade fictícia, mas também na nossa própria.
Acompanhar Darrow em um mundo que o despreza por ser Vermelho, mas que o venera quando ele se torna um ideal de moral como um Ouro, revela a hipocrisia dos poderosos, que se consideram superiores e ensinam seus filhos a agirem assim. No entanto, a verdade é que um Vermelho poderia ser ainda melhor se não fosse pela miséria imposta pelos Ouros, que os limita a lutar apenas pela sobrevivência.
Apesar do ódio nutrido contra os Ouros ao longo do livro, também nos deparamos com personagens admiráveis entre eles. Isso suscita um debate: todos são realmente maus? Seria a aniquilação a melhor resposta? Observar Darrow se infiltrar nesse meio e, por vezes, esquecer-se de que está em um ninho de cobras é fascinante, pois todos ao seu redor foram criados para dominar, enquanto ele foi criado para obedecer. A jornada de libertação mental do protagonista é crucial, pois a libertação de seu povo requer mais do que apenas derramamento de sangue; exige uma transformação completa na mentalidade de um povo que nasceu oprimido.
Quando um dos personagens declara: “A morte não é vazia como você afirma ser. Vazia é a vida sem liberdade. Vazio é viver acorrentado pelo medo, pelo medo das perdas, pelo medo da morte”, compreendemos a dureza da realidade dos Vermelhos.
Essa obra é mais do que um verdadeiro manifesto comunista com uma jornada de herói; ela nos faz refletir e associar diversas situações do livro com questões que enfrentamos em nossa própria realidade. Como não se sentir excluído, limitado e sufocado neste mundo? As dores dos Vermelhos ecoam as dos grupos marginalizados e oprimidos em nossa sociedade. Impossível ler essa obra apenas como mais uma ficção científica; ela se revela como um espelho das ruínas de nossa própria sociedade.
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