Francine 05/06/2015Só o amor poderia libertá-la!Um sobrenatural e moderno conto de fadas! Foi minha primeira percepção sobre Kitty quando iniciei a leitura. Uma obra nacional que, em muitos aspectos, é diferente do que já li.
Para começar, nossa protagonista está presa no corpo de uma gata há mais de quatrocentos anos. Vagando pelas ruas de São Paulo e se alimentando das sobras dos restaurantes, seu destino se cruza ao de Eduardo. O rapaz estava sofrendo pelo término de um relacionamento e escolheu justamente o beco onde a gata-humana dormia para vomitar. Ele estava bêbado quando a tomou nos braços e a levou para casa, procurando consolo na companhia felina. Quem sabe adotar um gato diminuísse um pouco sua solidão?
De tão bêbado, Eduardo mal notou que o gato em questão era fêmea, e que ela não estava nada contente por ser domesticada. Depois de muitos nomes masculinos, Eduardo finalmente reconheceu toda a feminilidade da sua nova gata e a batizou de Kitty. Ao mesmo tempo em que Eduardo a mimava com carinhos e salmão, Kitty ansiava por voltar às ruas e proteger seu segredo. Ela planejava fugir de Eduardo assim que tivesse oportunidade, porque já conhecia a dor da rejeição quando sua maldição era desmascarada. Como Eduardo reagiria se soubesse que sua preciosa gatinha era, na verdade, uma humana? Estando cada vez mais cativada por Eduardo, Kitty não queria descobrir isso. Ela não queria causar mais sofrimento àquele humano tão adorável ou a si mesma quando fosse expulsa da vida dele.
Nesse livro, acompanhamos um romance encantador! Kitty apaixona-se por Eduardo, por cada mínimo detalhe dele, mas está presa a uma maldição que torna seu amor impossível. Ela pode voltar a ser humana por poucos minutos, quando as palavras certas são pronunciadas, e (embora não a reconheça) Eduardo se encanta pela moça misteriosa. Será que ele poderia amá-la em suas duas formas? Será que poderia aceitá-la completamente? Só um amor grande demais poderia ser capaz disso.
O romance é o foco da narrativa da autora, mas o que mais gostei foi o modo como a natureza felina de Kitty foi desenvolvida. A maldição que lhe foi lançada trazia um requinte cruel: Kitty não era capaz de se comunicar com ninguém, felinos ou humanos. Sua voz lhe foi roubada. Por mais de quatrocentos anos, ela viveu em silêncio. Isso a tornava uma aberração. Ela não foi capaz de se adaptar à vida felina, nem à vida humana. Sua natureza ambígua a fazia se sentir deslocada e a autora soube expressar claramente a infelicidade de não pertencer a nenhum lugar.
Os personagens secundários desempenharam papéis importantes e gostei muito disso. Arthur, o melhor amigo de Eduardo, é o tipo de pessoa que vale a pena conhecer. Carismático, bondoso e honesto. Da mesma forma, o felino Marvin também me encantou com seu jeito aristocrático e um pouco arrogante. Sendo em primeira pessoa, a narrativa foi o ponto alto para mim. Já imaginou colocar-se no lugar de um gato? Adorei a originalidade da autora! Kitty é sarcástica e cheia de humor negro, mas igualmente doce, de um jeito que senti vontade de consolá-la e ajudá-la.
O contexto de São Paulo foi explorado com qualidade, citando pontos turísticos e valorizando a perspectiva felina sobre a cidade. Eu também gostei da caracterização de Eduardo. Ele não é o típico playboy gostosão que a maioria dos livros traz. Ele é doce, um pouco tímido, suave e romântico. Ele, inclusive, estava em uma posição de desvantagem no seu relacionamento com Alice, sua namorada. Gostei de ver que um homem também pode sofrer por prender-se a alguém que não sabe amar. Na maioria dos livros, vemos homens abusando dos sentimentos das mulheres, mas nesse a autora explorou o contrário.
Como aspectos frágeis, no entanto, cito a descrição frequente dos sentimentos amorosos de Kitty por Eduardo. Houve um momento que desejei dizer: okay, já entendi que ela está apaixonada. Soou exagerado, para mim, a frequência com que Kitty descrevia os cabelos ruivos, os olhos calorosos, as mãos... de Eduardo. Isso dramatizou demais as circunstâncias, mas reconheço que para um conto de fadas encaixou-se adequadamente.
Li Kitty em e-book e achei a diagramação maravilhosa! O livro impresso deve ser lindo e valer muito a pena. Infelizmente, flagrei algumas incoerências que a revisão poderia ter ajustado, mas nada que prejudique a leitura. Esse é um livro que recomendo a quem procura um romance diferente, com um quê sobrenatural formidável!
Confira meus quotes favoritos na resenha postada no My Queen Side:
site:
http://myqueenside.blogspot.com.br/2015/06/resenha-94-kitty.html