Camila Lobo 12/06/2016Resenha: Kitty (Por Livros Incríveis)Kitty é uma gata rebelde e sarcástica que vive pelas ruas de São Paulo há mais de... 400 anos. Ela é uma gata amaldiçoada, ou melhor dizendo, uma humana presa em um corpo felino. Ela estava bem satisfeita sem donos e com seus hábitos, como pedir comida num bistrô com funcionários bonzinhos. Até que em uma madrugada ela é pega e acolhida por Eduardo Molina. Por mais que acabe fugindo, já que isso pode gerar sérias consequências, é com ele que sempre se encontra. Pode o cara ruivo que abala seu coração ser também seu salvador?
Desde que conheci a Editora Arwen no ano passado, Kitty foi o livro que mais me chamou a atenção. Não só por eu ser catlove (ou crazycatlady, vocês decidem), mas também por eu nunca – repito, nunca – ter visto uma sinopse ou premissa parecida. Um livro narrada por uma gata, uma mulher que conheceu o Brasil de 1500. Ou seja, se a autora conseguisse fazer com que eu realmente acreditasse que era um gato que narrava, já daria em uma ótima história. E ela conseguiu.
Kitty é narrado em primeira pessoa, pela mente de um bichinho cinza e de quatro patas, que só consegue se comunicar (apesar de ninguém, nem mesmo outros gatos a entenderem) através de miados. A história então é toda narrada pelos seus pensamentos e reações aos diálogos dos outros personagens, e nem por isso deixa de ser interessante. Elle S. Tem uma escrita consistente, divertida e instigante; e construiu personagens carismáticos e uma protagonista forte e extremamente bonitinha, o que deixou a história ainda mais agradável.
Um outro ponto positivo é como a autora vai lançando a informação relativamente devagar, nos fazendo acompanhar e compreender de pouco em pouco que há uma maldição, como ela funciona, como pode ser quebrada, além de flashbacks de períodos especificos da protagonista. Isso ajudou a manter todo o mistério em torno do plot principal do livro e não foi feito de forma forçada, e sim para atiçar a curiosidade.
Kitty, ou Catarina, melhor dizendo, é uma mulher da época de 1500 e que jovem, foi amaldiçoada e presa ao corpo de um felino. O romance não é histórico, porque esse é apenas o plano de fundo da personagem e por isso não há foco no que mulher presenciou ao longo doas anos. Inclusive só se descobre o que aconteceu com ela no final do livro.
A gata é extremamente sarcástica e logo nas primeiras páginas percebe-se como ela é orgulhosa, egoísta e superior pra comer um simples pedacinho de atum. É divertidíssimo ler sobre a raiva de Kitty em ter uma família, mas derretendo-se toda pela “ração do saquinho roxo de salmão”.
Entretanto, conforme Kitty vai se apaixonando por Eduardo, seu lado humano passa a dividir cada vez mais espaço com seus instintos felinos, e por causa disso, tornando-se mais séria e creio eu, que perdendo um pouco a essência que conhecemos no início.
“Recebi um carinho malditamente bom nos pelos da minha cabeça. O que eu reconheci como uma técnica bastante eficaz de distração. Afinal, meus olhos se fecharam instantaneamente, um pouco contra a minha vontade.”
Ela e Eduardo fazem um belo par. Catarina aparece em um momento extremamente difícil de Eduardo, onde ele dedica-se muito a bebida e sofre muito. Duda é um cara sensível, que pinta a mulher dos misteriosos olhos de gato, e sua tristeza era tanta que a vontade era de poder guardá-lo num potinho e dizer que tudo ficaria bem.
Dou destaque também a Arthur, o cozinheiro do bistrô que Kitty frequentava e melhor amigo de Duda. Apesar de seus dramas estarem em segundo plano, ele foi o personagem mais carismático ao lado de Kitty, e em minha opinião, até mesmo roubava a cena quando aparecia, já que trazia o lado cômico e pé no chão ao livro. Além disso, foi extremamente divertido ler todos os pensamentos da gata sobre o cozinheiro, pessoa que ela considerava um dos melhores amigos e ainda assim, um ser
ultrajante.
O ponto neutro vai para o final que com alguns plot twists, torna-se confuso e de certa dificuldade de compreensão. No caso, era uma coisa, que torna-se outra, que vira outra. A dificuldade de compreensão está no fato de não ter sido tão bem explicado, por mais que consiga-se entender depois de algumas lidas adicionais.
Para terminar, Kitty é um livro divertido e original, que cativa com sua história e seus personagens.
E me deixou mais apaixonada ainda por felinos, se é que isso é possível.
Leia mais resenhas em:
site:
http://porlivrosincriveis.blogspot.com.br/2016/06/resenha-kitty-elle-s.html?m=1