kleris aqui, @amocadotexto no ig 29/09/2017Não imaginava o tamanho tesouro de Veríssimo que tinha em mãos! (Esta resenha teve corte de quotes e imagens do livro; visite o link para conferir)
A décima segunda noite é baseada na peça Noite de Reis, de Shakespeare, e faz parte de uma coleção de adaptações, chamada Devorando Shakespeare, da Editora Objetiva. Os livros são independentes, todos novelas literárias, e com autores diferentes para cada título. Além de Veríssimo, temos Jorge Furtado no primeiro livro e Adriana Falcão no terceiro.
Não conheço muito de Shakespeare para poder calibrar uma crítica à adaptação, porém, já assisti um filme baseado na mesma peça, um high school americano chamado Ela é o Cara (com Amanda Bynes e Channing Tatum) que me salvou de entender e me orientar nas loucuras da história. Veríssimo ainda aproveitou a oportunidade para mergulhar em Paris, cidade pela qual é fascinado e onde toda a novela se passa. Eu diria, inclusive, que é uma novela inglesa afrancesada à brasileira. E metaficção!
A gente chega na primeira página e já é golpeado pela trama. Tem um papagaio tagarelando sem fim sobre algo que a gente ainda não sabe o que é, nem o que tá acontecendo. Esse é um toque maravilhoso de Luis Fernando, que faz grandes imersões no ofício da escrita dentro da própria escrita e narração. O papagaio narrador é Henri, bisbilhoteiro, piadista, erudito e um verdadeiro contador de história.
Conforme o passar dos capítulos, vemos que ele é a única testemunha de uma tragicomédia em Paris. Por isso mesmo estão gravando seu depoimento. Como toda metaficção (uma ficção que conta sobre a própria arte e construção de ficção), a história é de camadas. O brilhantismo de Veríssimo atua bem aí, pois afora toda a confusão da Décima Segunda Noite (data conhecida após o Natal, que é a Noite de Reis), temos um grande mistério no ar com mil e uma pistas: Quem é que tá gravando? Por que tá gravando? Qual o interesse nessa gravação? Não imaginava o tamanho tesouro de Veríssimo que tinha em mãos!
Entre os disse-me-disse de Violeta, Orsino, Olívia, César, Negra, Malvolio e outros, nos embrenhamos nos mal-entendidos, mistérios e toda emoção. A leitura é super rápida, de uma sentada, com muitos OH-MY-GOD! para soltar. Mon Dieu, são muitos babados numa só novela! Por isso mesmo não indico lugares que possam interromper a leitura, pois você não vai querer largá-lo de jeito nenhum.
Super legal também é o show de representatividade que Luis coloca, de maneira tão natural, além de tratar de uma época interessante da história do Brasil e França. Uma nota ademais é que Henri de vez em quando solta umas falas em francês, nada muito difícil e que nem nos atrapalha. São elementos que só enriquecem a obra. E o resto... bem, Henri te conta.
Se você procura um bom livro com gostosas sacadas, suspense, humor, conspiração e confusão, com toda a certeza, é A décima segunda noite, de Luis Fernando Veríssimo!
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http://www.dear-book.net/2016/12/resenha-decima-segunda-noite-luis.html