spoiler visualizarWagner269 07/07/2020
Stoner
Parece que nunca vou poder ler Stoner sem derramar umas lágrimas.
Termino o livro pela segunda vez com a mesma sensação do primeiro, como se parte de mim tivesse realmente se perdido naquele último parágrafo. Vinha já escorrendo conforme eu percebia que o fim estava próximo. Ao contrário do que acontece em outras releituras, Stoner não apenas se manteve com o mesmo poder, como trouxe um novo elemento. O desafio de descobrir porque nos prendemos tanto a esse livro.
Falar sobre esse livro é bem mais complicado do que parece a primeira vista: Stoner é um homem passivo, poucas vezes ele realmente está feliz, somos levados por 300 páginas de momentos tocantes que depois pensamos que talvez não tenhamos lido tudo, como se tivéssemos lido esse livro através das nevoas, tal qual Stoner percebe alguns dias da sua vida quando tenta rememora-los.
Também nos sentimos assim, em certas circunstâncias sobre nossas vidas – aquelas situações em que olhamos e pensamos, como foi que passamos por isso ou por aquilo?, e o tempo todo assistimos William Stoner, passar por situações em que vive como se fosse um espectador e esse é o maior defeito do nosso herói: Sua passividade.
Stoner vê a esposa afastá-lo da filha que ele realmente ama e depois vê impotente que o único relacionamento carnal que possui é destruído pela ira de Lomax e nessas situações que esperamos – em outros livros – que o herói lute e bata o pé, ele se retrai e espera acontecer.
Ah, willy, para citar Edith nos momentos que mais desejamos ter a capacidade de enforca-la.... tá bom, ta bom, to pegando pesado. Mas pensa, que mulher cruel! Mas a crueldade dela, ainda que a gente não saiba o motivo, a gente sabe que há algo por trás, inclusive esperamos isso ser contado e simplesmente o autor não conta.
Também não entendemos a relação de Lomax com o aluno que causa todo o atrito, esperamos melhores explicações e elas não vêm e Stoner não parece interessado nisso. Outro herói iria atrás até as ultimas consequências, mas não podemos esperar isso de Stoner...
Mas o que esperamos de Stoner?, quando no inicio do livro, contra todos os prognósticos decide mudar o curso para o qual havia sido enviado pelos pais para ajuda-los na fazenda? Por que então, literatura inglesa?
Talvez, de fato tenha sido seu verdadeiro amor. Mesmo que nós tenhamos visto ele amar a filha, quando algo se pos entre os dois, ele não quis de forma alguma mudar isso, nem mesmo quando perdeu Katherine - mas em dado momento Stoner se pôs a força em relação a literatura, por isso cai em desgraça ao defender irredutivelmente que um aluno preguiçoso, mesmo que genial não se forme, pois será um péssimo professor – Stoner está defendendo a literatura.
Talvez Stoner, seja como aqueles estudantes que ele ve passar e que somem quase sem deixar vestígios, mas deixam a grama levemente marcada.
Às vezes, me vejo segurando este livro, olhando para ele e pensando no poder dessa obra. Na capa um homem morto. Stoner morto, iniciamos a leitura sabendo que não passou de professor assistente. E mesmo assim, não conseguimos parar de ler, capitulo a capitulo. E somos levados a observar lentamente a vida de William Stoner.