Lucas Fagundes 20/02/2022
#1
E eu decidi, um por um, ler os mais de 35 livros de Jorge Amado, meu baiano e autor preferido, em ordem de publicação. Muitos deles serão relidos; outros, como esse, foi e serão lidos pela primeira vez.
O país do carnaval, publicado em 1931, quando Jorge tinha apenas 19 anos, destoa completamente do que a literatura dele viria a ser depois. Não é uma literatura em que a história acontece cronologicamente e de uma forma contínua: esse é um romance psicológico.
Além de não termos uma cronologia bem definida, também não temos personagens principais bem desenhados. Sim, a história gira em torno de um grupo de 5 amigos, mas tenho pra mim que o protagonista dessa história é o tédio e a monotonia que todos ali estão inseridos.
Ao ler esse livro, senti que, aos poucos, os personagens definhavam sob um sofrimento e desespero inenarrável. Temos um que acreditou que o amor seria a razão da felicidade da vida. Outro acreditou que a felicidade viria com o dinheiro. Para outro, com a honra. Outro, com a filosofia. O quinto (e talvez o mais certo na visão do autor) não acreditava ser a felicidade possível em vida (ou ainda fora dela).
Para contextualizar o momento histórico em que Jorge Amado escreveu esse livro, o nosso país tinha acabado por passar pela revolução de 30 e pelo fim da política do café com leite. Dessa forma, navegava em um mar de instabilidade social e política, frente ao fim de uma oligarquia agrária e rural e a ascensão da burguesia e proletariado urbano. Esses eram anos em que o Brasil era um mar de incertezas e pesava sob os ombros de seus moradores.
Entretanto, apesar de tantos elogios, é um livro difícil de ser lido e, por muitas vezes, senti o mesmo tédio e monotonia dos personagens. Talvez essa realmente tenha sido a intenção de Jorge Amado: trazer para o leitor essas mesmas sensações, mas não me agradou muito.
Talvez o trecho que mais sintetiza esse livro seja: ?Depois: tédio? A mesma coisa, sempre. A Terra a girar em torno do Sol trezentos e sessenta e cinco dias. Um dia, outro dia. A Terra a girar sobre si mesma em vinte e quatro horas. Dia. Noite. Sempre a mesma coisa. A maior tragédia: a tragédia da monotonia??