Gabriel 18/06/2016
A "guerreira" dos Acoma
A Filha do Império foi o primeiro livro escrito por mais de um autor que eu li. O escritor Raymond E. Feist, conhecido aqui no Brasil pela Saga do Mago, decidiu nesse seu trabalho dividir a carga com a escritora Janny Wurts, especializada no gênero Fantasia. O resultado da parceria, no final das contas, foi o melhor possível: ambientada no mesmo universo da primeira série do Feist, A Saga (ou Trilogia) do Império veio para acrescentar, evoluir, corrigir algumas falhas, e principalmente amadurecer o universo dos mundos de Midkemia e Kelewan, criados pelo autor. Não é à toa que muitos consideram esse o melhor trabalho do Raymond.
Todavia, essa resenha incube-se em apenas comentar o primeiro livro da série: A Filha do Império. Enquanto na Saga do Mago o leitor foi apresentado a um universo aos moldes do que se espera em um livro de fantasia, isso é, com castelos, cavaleiros, rei, príncipes, e outras características que remetam a Terra-Média do Tolkien, nessa obra houve perceptivelmente um charme criativo maior por parte da dupla Janny e Feist. A principal inspiração dos escritores foi dessa vez a cultura asiática, principalmente do período dos impérios.
A trama se passa no império de Tsuranuanni, cujos leitores da Saga do Mago são apresentados vagamente durante os trechos da série que se passam em Kelewan. É um ambiente com intensos conflitos políticos entre famílias, hábitos um tanto quanto estranhos, hierarquias sociais, e um grande respeito da população (os tsruani) nas leis que se fundamentam na honra ao imperador ou aos seus senhores. A protagonista da obra, Mara, é justamente uma dessas senhoras. Na verdade, a nossa personagem principal acaba se tornando a líder de sua própria casa por fatores exteriores a sua vontade, que já são explicados na sinopse do livro.
Em um súbito instante, Mara é encarregada do cargo de comandante dos Acoma, sua linhagem, e deve agora enfrentar as divergências políticas iniciadas pelos seus antecessores, garantir a sobrevivência de sua família, servos e trabalhadores, guarnecer suas forças militares, e proteger suas terras dos aproveitadores do momento difícil de sua Casa. Temos, portanto, principalmente nesse livro, uma história de sobrevivência, e a apresentação de uma personagem que foge dos padrões normais tantos dos livros de Fantasia quanto do senso comum quanto ao papel da mulher.
Ao invés de ser alguém que domine as artes marciais e renda boas cenas de ação comuns em obras do gênero fantástico, ou uma personagem apaixonada por um príncipe, que deve desempenhar seu heroísmo para salvar sua amada, Mara é uma protagonista que necessita acima de tudo de sua inteligência para conhecer e driblar as sutilezas políticas do império de Tsuranuanni, vencendo as adversidades as quais sua casa está sujeita. É uma figura cativante que faz com que o leitor torça incessantemente pela sua vitória em cada etapa desse difícil processo de sobrevivência. Portanto, é uma personagem importante para contrapor os papéis das coadjuvantes presentes na Saga do Mago, cuja importância na movimentação da história é mínima.
O que eu posso enfim comunicar a você, leitor, que provavelmente está lendo essa resenha para saber se A Filha do Império vale a pena, é que a obra é sim muito boa e merece ser lida. Embora não seja necessário ler a primeira saga do Raymond E. Feist para desbravar essa série, mesmo os outros livros tendo alguns acontecimentos que influenciam diretamente o desenrolar da história da Trilogia do Império, já que as duas sagas se passam durante o mesmo tempo, eu recomende ao leitor que leia a Tetralogia do Mago (Aprendiz, Mestre, Espinho de Prata e As Trevas de Sethanon) ou ao menos pesquise sobre o seu conteúdo antes de partir para a trama de Mara. Não desista do trabalho do autor se não gostar de Mago. A evolução da escrita e o amadurecimento da história de uma saga para outra são grandes. É necessário enfatizar, no entanto, principalmente aos leitores de Fantasia, que o andamento do livro é lento, e não há tanta ação, comum em outras obras do gênero. Vejam bem... é um livro de tom político, então paciência, né?!