Paula H. 06/08/2015
"Ouça, você vai entender"
Embora temas como bullying e suicídio sejam bem “divulgados” e tudo o mais, a Michelle Falkoff conseguiu escrever uma história sobre isso que fluísse e intrigasse no decorrer de toda a obra. A história começa quando Sam encontra seu melhor amigo, Hayden, morto. No quarto de Hayden ele encontra um pen-drive e um bilhete escrito “Para Sam. Ouça, você vai entender”. No pen-drive havia uma playlist com aproximadamente trinta músicas, cada uma supostamente trazendo algum significado no que o fez tomar a decisão de tirar a própria vida. Tudo que Sam sabia era que houvera uma festa e uma briga.
No decorrer da história vê-se Sam tentando compreender a mensagem que o amigo lhe deixara, enquanto passa pelo período de luto num ciclo de raiva, culpa e saudades. Já de início se vê que a vida de Hayden não era fácil, tendo por principal ponto sua família. Seus pais viviam brigando com ele, e seu irmão e amigos o maltratavam com frequência. Particularmente acho essa violência desnecessária, mas são assuntos complicados, já que sempre há diversas questões por trás – embora não justifique.
“Com Hayden, nunca dava para ter certeza” (p. 14).
Um fato curioso logo ao início da obra é o de que Hayden já esperava que quem o encontrasse – morto no próprio quarto – fosse Sam. O que ele deixou não fora um bilhete como geralmente se espera, o que acaba por não responder de fato, definitivamente, o que o fez se matar. Não há um bilhete “Eu me matei por isso”. É algo subjetivo, e a resposta só vem a ficar clara nos últimos capítulos. E é esse ponto, que dá nome ao livro, que foi, em minha opinião, o ponto forte do livro. Não apenas por não deixar uma resposta clara, mas por proporcionar uma visão da pessoa a partir das músicas que, aliás, são ótimas. A quem for ler, recomendo que não deixe de ouvi-las. (Tem até Linkin Park! *-*) A playlist de Hayden, em minha opinião, ficou muito boa. São, no geral, músicas que abordam temas mais tristes, o que, convenhamos, fechou com o teor do livro.
“Pensei por um minuto sobre a crescente lista de pessoas que se sentiam responsáveis pela morte de Hayden. Todos nós estávamos certos e todos estávamos errados ao mesmo tempo. E, por fim, foi Hayden quem tomou aquela decisão”. (p. 277)
No decorrer do livro vários temas são abordados, como, por exemplo, a culpa. De quem fora a culpa pelo suicídio de Hayden? Esse questionamento aparece com certa frequência nos capítulos, junto a outras questões como raiva, bullying, solidão, amizade, etc. A “conclusão” dessa questão, aliás, é apresentada no final do livro, mas vale considerar que são coisas que podem nos fazer refletir bastante. Afinal, até que ponto influenciamos a vida alheia?
Há outros pontos que valem a pena ser pensados, e de que se pode tirar alguma reflexão pertinente. Vê-se bastante o ser aceito pela sociedade, quais problemas que as pessoas se deparam com isso, a vergonha, a humilhação, a exclusão, etc.
Talvez uma das questões fundamentais do livro, pelo que tirei de minha leitura, seja que nunca conhecemos alguém de fato, e precisa-se ter consciência disso, de modo a evitar julgamentos e ações equivocadas. Algumas pessoas tendem a guardar as coisas apenas para si, e isso precisa ser, de certo modo, respeitado.
De pontos negativos, diria que tive a impressão de que ela tentou tornar Sam um adolescente um pouco “perfeitinho” demais. O que não é ruim, mas que me pareceu um pouco forçado. Aliás, um ponto do livro que me deu certa agonia foi que o rapaz não dorme! Fez sentido, claro, mas foi um pouco irritante – ao ponto de querer entrar na história e jogar sonífero na cara do Sam.
Observei alguns pequenos erros no texto, sendo uns que não sei dizer se a responsabilidade recai no tradutor, no revisor, ou na própria autora. Não é querer culpar, apenas que observei pequenos erros, que até podem passar despercebidos. A edição do livro ficou muito boa, gostei dos capítulos terem por “título” as músicas da playlist. E devo dizer, aliás, que o título da obra aqui no Brasil ficou mais atrativo do que no original (Playlist for the dead).
Por fim, o desenvolvimento da história e dos personagens foi bem elaborado. Sam e Hayden são adolescentes que curtem músicas, jogos, coisas geeks e etc., e basicamente são amigos desde que Sam se mudou para aquela cidade quando tinha seus oito anos. A questão da condição econômica e social de cada um ser diferenciada fez com que alguns pontos, talvez até clichês, tenham aparecidos, de modo a criar nos personagens motivos para suas ações. Hayden é de uma família rica, é disléxico, e tem certas desavenças com os pais, que exigem muito dos filhos, quanto às notas na escola, por exemplo, e quanto à alimentação, no caso específico de Hayden. O ponto marcante em Hayden é seu jeito quieto, tornando-o de certo modo um personagem forte. Particularmente, em grande parte da história o personagem que mais me agradou foi Hayden – Sim, mesmo ele tendo começado morto e ter se suicidado.
Quanto ao final, acho que eu esperava um pouquinho mais... Mas não deixa de ser bom. Recomendo para todos que se interessam por esses temas e que gostem de um pouquinho de drama.
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