PorEssasPáginas 08/10/2015
O livro começa mostrando a juventude de José Inácio de Alvarenga Peixoto, sua vida de bon vivant, seus gastos desmedidos com bebida e diversões, parte de sua formação profissional, até sua indicação como ouvidor de uma comarca nas Minas Gerais no século XVIII. Em São João Del Rei ele conhece essa moça linda, inteligente e de temperamento forte, a Srta. Bárbara Eliodora que passa a ser o grande amor de sua vida.
Vemos os altos e baixos de seu relacionamento, a chegada dos filhos, a mudança de José Inácio de ouvidor para administrador de suas terras. A influência de D. Bárbara nas decisões administrativas e políticas do marido. O envolvimento de José Inácio com a Inconfidência Mineira e seu triste resultado.
O livro é bastante interessante, principalmente as últimas 60 páginas. Dá pra perceber que o trabalho de pesquisa foi muito bem feito e que houve uma preocupação com a precisão dos dados.
Meu único problema foi que levei 1 mês para ler um livro que eu leria em uma semana. O que me atrapalhou bastante foram os diálogos, por serem fiéis ao português falado na época (o que por um lado é bom para levar o leitor para dentro da história e da época; mas por outro, fica um pouco cansativo) com seus “tus” e “vosmecês”, e os nomes gigantes dos personagens históricos (creio que todos os personagens do livro), como, por exemplo, Dr. Feliciano Gomes Neves, D. Lourença Filipa Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, e por aí vai. São muitos nomes. Acho que por isso tive uma certa dificuldade em me conectar com o livro e, consequentemente, levei este tempo todo para lê-lo.
O livro retrata bem a vida em São João Del Rei, principalmente, e outras comarcas de Minas Gerais, no Século XVIII, os saraus e festas. O livro trás também muitos poemas, que eu confesso que não são muito meu tipo de leitura. O legal é que são poemas reais de autores do século XVIII, não foram criados para este livro; eles foram pesquisados e adicionados a momentos da história.
O livro também faz menção ao Arcadismo (uma escola literária que surgiu na Europa no século XVIII. O nome “arcadismo” é uma referência à Arcádia, região campestre do Peloponeso, na Grécia antiga, tida como ideal de inspiração poética.
A principal característica desta escola é a exaltação da natureza e de tudo o que lhe diz respeito. Por essa razão muitos poetas do arcadismo adotaram pseudônimos de pastores gregos ou latinos (Wikipédia)) e aos pseudônimos utilizados pelos poetas.
Ao longo do livro todo vamos tendo pinceladas de momentos de corrupção e abuso de poder. Mas o final do livro, quando os planos da inconfidência são descobertos e os inconfidentes começam a ser presos e interrogados mostram de uma forma clara e revoltante a corrupção, a injustiça e o abuso de poder. E acho impossível o leitor brasileiro não se identificar com um pedaço de sua própria história. E são estes momentos do livro que trazem mais empatia e envolvimento do leitor. Momentos que causam angústia e indignação. E apesar da Inconfidência Mineira não ter trazido resultados imediatos e ter parecido uma derrota para aqueles que queriam se ver livres do governo “sangue-suga” de Portugal, naqueles momento foi plantada uma semente, que mais tarde gerou frutos.
O livro é excelente em sua pesquisa e relato, trata de um momento de nossa história que não se vê em muitos romances. Há momentos em que temos que lembrar que apesar de toda a pesquisa este é um romance histórico e não uma biografia.
Eu estava pensando em três estrelas na avaliação, mas as 60 últimas páginas me fizeram mudar de ideia. Ele mereceria 5 estrelas se eu não tivesse me enrolado tanto com ele.
Para aqueles que querem saber um pouco mais da nossa própria história e que curtem poemas, recomendo!
site: http://poressaspaginas.com/resenha-um-poema-para-barbara#more-20410