Gabriel Dias - @Done.em 22/05/2020
Morreste-me
Uma “carta”, uma libertação e principalmente uma memória, morreste-me é tudo isso, uma composição sentimental, primeira obra de José Luís Peixoto que nesta semana completou 20 anos de publicação, traz o relato da perda, do luto, do pai.
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Com apenas 62 páginas o livro nos esgota de sentimentos, de reflexões intimas. É engraçado que mesmo sendo um livro sobre luto, ele consegue nos abraçar da forma mais positiva, engana-se quem acredita ser um livro triste, ele é sim, uma homenagem. É doloroso, pela reflexão daquilo que não foi vivido, é feliz por relembrar e ressignificar ainda mais a figura do pai, mas principalmente uma forma de entender que a ausência física não significa a ausência sentimental e da memória.
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A construção pessoal, faz com que nos aproxime da situação de perda, onde a identificação é causada no leitor pelos detalhes, seja pelo lugar “dele” na mesa, seja pelas estações do ano, o sentimento é traduzido na forma mais profunda e poética, levando ao leitor a ser absorvido pelo poço afetivo, aquele descrito na página 29.
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É um livro que nos surpreende pela qualidade da escrita, mas o que mais me impactou é a forma que ele é escrita, onde nota-se uma forma de raciocínio que não é apenas coerente, é um desabafo onde a construção de todos os parágrafos, de todas as cenas, onde os cenários e as situações são tão criveis quanto quem está ali, vivendo.
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Um livro que deve ser lido, apreciado e sentido, da forma mais crua, sendo inevitável não se emocionar, seja na simplicidade ou na forma mais complexa do sentimento, aqui descrito.
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“Os teus olhos fechados para sempre. E, de uma vez, deixas de respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai. Tudo o que te sobreviveu me agride. Pai. Nunca esquecerei”.
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