Renata CCS 09/05/2018Leitura preguiçosa..
“No final somos todos iguais... Em tempos diferentes...”.
- Edny Senna
Logo após a perda de Lucas, seu segundo marido, a editora Heloísa decide mudar os ares de sua vida e compra uma casa no litoral do Uruguai, onde antes morou uma renomada escritora, Laura Berman, com sua família. Totalmente sozinha Heloísa passa seus dias em meio a móveis e outros pertences deixados pelos antigos moradores e que, de certa forma, ficaram impregnados com um pouco das memórias das pessoas que ali residiam.
Como se uma porta no tempo fosse aberta, a história dessas duas mulheres passa a se cruzar, como se Heloísa desse vida aos dias que a família Berman ali viveu, reconstruindo – ou reinventando – uma história da qual ela não fez parte, e assim, passa a ser testemunha de acontecimentos perdidos em um tempo passado que nem ela mesma é capaz de distinguir se é real ou imaginário. E isso não importa. O que realmente importa a protagonista é que a família de Laura parece distraí-la de sua própria realidade e, possivelmente, é apenas isso que ela precise naquele momento dolorido de sua vida. E no meio disso tudo, as duas mulheres terão suas vidas reunidas por meio de recordações.
Há tempos queria ler algo de Letícia Wierzchowski e escolhi NAVEGUE A LÁGRIMA entre os dois títulos que possuo por conta de suas 208 páginas com diagramação bem espaçada, imaginando que seria uma leitura rápida e uma boa oportunidade para conhecer o estilo da escritora.
Creio que a ideia de L.W. foi fazer o leitor enxergar o livro através dos olhos de Heloísa, que encontra uma casa cheia de história e significados para a sua própria vida. Honestamente, para mim, a identificação não ocorreu. Fui apenas uma observadora distante das duas histórias que eram narradas em paralelo.
A escrita da Letícia é bem poética e floreada de descrições de bom gosto, mas confesso que tive muita dificuldade para me concentrar nas palavras, frases, parágrafos, então a leitura seguiu arrastada até o final. É um livro com pouquíssimos diálogos e muitas reflexões. Fiquei com a impressão de que nada acontece, que tudo já aconteceu, ou que nada daquilo nunca aconteceu. Tudo é passado ou apenas imaginação. Se a ideia era fazer uma viagem sem sair do lugar, em nenhum momento consegui entrar na história e percorrer as páginas com Heloísa. Longe de ser um caso de livro ruim, essa foi apenas uma leitura com a qual não rolou química.
É uma obra elegante, sofisticada até, pois é um tipo de livro construído mais para fazer o leitor sentir do que para fazer algum sentido. Mas para mim faltou o essencial: emoção, e também uma pitada de carisma. Tem uma premissa interessante e ousada, mas faltou fervor na narração.
Bem, emoções são subjetivas. E cada pessoa sente o mundo de um jeito particular. O que há de mais mágico na literatura é o fato de cada leitor poder fazer a sua viagem, e a cada um vale ter a sua própria perspectiva.
Aos que gostaram, a certeza de que o subjetivismo é a única medida certa em literatura.
Talvez seja apenas mais um bom livro nas mãos da leitora errada...