EXPLOD 20/07/2020
Dá pra mergulhar na leitura facilmente!
Há muitas críticas sutis e relevantes; outras, porém, são fracas e simplórias (especialmente umas poucas sobre religião). Claro que a ideia de uma ‘Mãe’ (como ser adorado pelas personagens) é um ponto típico e aceitável para o tema.
A ingenuidade (para não dizer outra coisa) está nas conclusões que a autora faz a respeito da eternidade e a respeito do bem e do mal (mas como é uma utopia, é até compreensível). Mas isso é interessante, porque me fez notar o quanto as pessoas insistem em dissociar o ‘amor’ da ‘justiça’.
As características que, no livro, são dadas ao ‘caráter feminino’ ou ao que a autora toma como atributos majoritariamente femininos, são críveis. E a autora expôs tudo sem muita adulação.
Muitas das formas de agir que são elencadas como ‘essencialmente femininas’ me pareceram plausíveis, muito razoáveis mesmo, principalmente estas: cautela; relação de praticidade e utilidade com a de beleza; o trato do ambiente e a organização eficiente. Consigo associar cada uma delas (reconhecendo, claro, que não são exclusivas das mulheres).
Por outro lado, numa situação ideal (de população, ambiente, sentimento comunitário, enfim), me pareceu muito pouco verossímil a ideia de que todas as mulheres viveriam em plena harmonia, sem as consequências da inveja, do ciúme, da trapaça e de todos os sentimentos ruins que acometem os seres humanos (bom, preciso lembrar de que se trata de uma utopia).
Dá pra dizer que nesse ponto a autora tentou se precaver: a necessidade de manutenção da ordem num lugar isolado e a existência de um método (não suficientemente explicado) de controle de natalidade para mulheres ‘inadequadas’ regulariam aquela situação ideal sem as contrariedades da natureza humana.
Eu me surpreendi (positivamente) com o fato de o aborto ser condenável, mas entendo que o motivo foi a sua adequação com a imagem que a autora faz das mulheres (pelo menos na sua obra ficcional, porém muito reveladora de suas concepções): de que elas são todas boas, amáveis, compreensíveis... Em uma palavra, maternais. Bom, é clichê, mas faz sentido na história que ela criou (quero dizer, para a relação entre aborto e aquelas características ditas femininas). Então, parece que a questão do aborto é tratada dessa forma mais pelas qualidades ‘femininas’ e pela continuidade da raça do que pela razão e pela ética. Isso fez o texto ser mais pobre (claro que não é para ser um tratado, mas... enfim, enfraquece e aparenta ter ficado incompleto).
Até a metade o livro vai de vento em popa, e depois vai decaindo, decaindo... E a sensação que fica é a de decepção.
Contudo, vale a reflexão sobre o valor das mulheres.