Aline 19/01/2024
Enquanto William se torna professor, Charlotte se torna romancista
Primeiro romance escrito por Charlotte (publicado postumamente), o professor prediz sobre a potência das obras futuras da autora. É possível perceber uma jovialidade na escrita de Charlotte, que já se mostra muito elegante e estruturada. Os personagens, embora bem construídos, ainda ficam na superfície, assim como o enredo. Não há complexidade, profundidade, mas em contrapartida, possui leveza e fluidez. Quanto à história, é um romance de formação. Acompanhamos William Crimsworth, um jovem inglês, órfão, criado à contragosto pelos tios aristocratas, que romperam com a irmã, mãe do nosso herói, por ter se casado com um comerciante. Eles desejam que William seja clérigo, pois não cogitam que ele deseje seguir a abjeta profissão do pai. Mas aqui vemos que, apesar de William ter todas as características de um aristocrata e acreditar não ter vocação para o comércio, em resposta ao tratamento indigno dado pelos tios aos seus pais, ele se decide justamente por essa profissão. Ele rompe com os tios e vai pedir auxílio ao irmão mais velho, comerciante já estabelecido, mas com quem nunca conviveu. O irmão o trata com frieza e grosseria, pois se ressente da educação cara recebida por William e por ele ser mais culto e inteligente. Apesar de odiar o emprego oferecido pelo irmão e de ter consciência do tratamento humilhante que ele lhe dá, William encara tudo como algo temporário. Ele sabe que precisa trabalhar para se sustentar, mas não sabe o que gostaria de fazer, e por isso vai se deixando ficar na mesma situação, ainda que desagradável. Nosso herói é meio devagar, demora muito para tomar atitudes, e acaba despertando a impaciência de Hunsden, um próspero comerciante de uma família importante e antiga, que é aquele tipo de pessoa que diz o que pensa sem pestanejar e doa a quem doer. Ele simplesmente implode a relação de William com o irmão explorador e provoca a sua ida para Bruxelas, onde ele finalmente se encontra na profissão de professor. A partir daí acompanhamos seu aprendizado nessa nova profissão, as relações que constrói, a perda da inocência em relação à boa-fé das pessoas, a vontade de vencer por seus próprios meios e a sua busca pela realização pessoal e profissional. Não é um romance que esteja à altura de Jane Eyre, mas é leve e prazeroso de ler.