Maria - Blog Pétalas de Liberdade 06/11/2015Lisbeth invade a NSA A garota na teia de aranha é o quarto livro da série Millennium, da qual já tem resenha do primeiro, Os homens que não amavam as mulheres, no blog. A série tem como personagens principais o jornalista Mikael Blomkvist e a hacker Lisbeth Salander.
A revista Millennium, da qual Mikael é um dos donos, está passando por uma fase difícil, correndo o risco de ser controlada por um grupo que tem uma visão bem diferente sobre o que deve ser publicado. Mikael precisa de uma grande reportagem se quiser virar o jogo.
"- Mas depois veio o escândalo.
- Que escândalo?
- O que começou depois que você peitou a liderança do Ove.
- Eu não peitei nada, Erika. Simplesmente fui embora.
Ainda deitada na banheira, Erika tomou um gole de vinho e em seguida abriu um sorriso melancólico.
- Quando você vai entender que você é Mikael Blomkvist? - ela perguntou.
- Achei que já tinha começado a me dar conta.
- Pois não parece, senão você saberia que quando Mikael Blomkvist sai no meio de uma apresentação sobre a revista dele, isso se transforma num acontecimento, quer Mikael Blomkvist queira, quer não." (página 97)
Pesquisando tudo o que tem recebido de suas fontes, Mikael se depara com o caso de Frans Balder, um cientista que alega ter tido um de seus projetos roubados. O que faz com que Mikael se interesse pelo caso, é o fato de uma hacker ter sido chamada para vistoriar o computador de Frans e ter confirmado o roubo. Pela descrição que Mikael recebeu, essa hacker só pode ser Lisbeth, a quem ele não vê já faz algum tempo. E se ela está envolvida, há a possibilidade de Mikael ter algum bom assunto sobre o qual escrever.
"Mesmo que existissem poucos indícios e as provas fossem um tanto questionáveis, havia sinais bastante claros de que uma tecnologia ocidental tinha sido roubada e ido parar na mão dos russos." (página 173)
Na noite em que Mikael vai encontrar Frans, acontece um crime, e a única testemunha que talvez possa ter alguma informação importante é August, filho de Frans, mas o menino é autista e não se comunica verbalmente. August tem um talento especial: é capaz de fazer desenhos perfeitos, é como se algumas cenas fossem fotografadas em sua memória e depois ele as passasse para o papel com riqueza de detalhes. Saber que ele poderia desenhar o rosto do criminoso é uma esperança para a polícia, mas também um risco para os criminosos que precisam eliminá-lo.
Quem protegerá August? É aí que Lisbeth precisa sair detrás dos computadores e entrar em ação. Só que em seu último trabalho, ela invadiu o sistema da NSA, a agência de segurança (e espionagem) dos Estados Unidos, deixando alguns profissionais da agência bem bravos e encontrando arquivos super sigilosos.
O que os desenhos de August e os arquivos da NSA tem em comum? Será que vão render mais um furo de reportagem para a Millennium? O que Lisbeth estava procurando na NSA? Será que ela seria pega pela polícia?
"Lisbeth Salander estava satisfeita por ter feito uma nova descoberta sobre o grupo criminoso que andava rastreando, e porque agora havia obtido provas concretas de uma ligação que antes não passava de uma suspeita. Guardou tudo para si e se surpreendeu ao ver que seus colegas realmente acreditavam que ela havia hackeado o sistema apenas por mero capricho.
Ela não era nenhuma adolescente com hormônios à flor da pele, nem uma idiota com necessidade de se exibir. Quando se arriscava nesse tipo de ação, tinha sempre um objetivo concreto em mente, mesmo que o hacking, em casos isolados, também fosse para ela uma ferramenta de outro tipo. Nos piores momentos de sua infância, tinha sido também uma maneira de fugir e de levar uma vida um pouco mais livre. Com a ajuda dos computadores, ela ultrapassou muros e barreiras que de outra forma teriam permanecido intransponíveis e viveu momentos de liberdade. E com certeza havia também uma boa medida desses sentimentos em tudo que acontecia agora.
Mas, acima de tudo, Lisbeth Salander estava em uma caçada que havia começado desde o instante em que ela acordara de um sonho em que uma mão batia com movimentos rítmicos e insistentes contra um colchão na Lundagatan." (páginas 85 e 86)
Os três primeiros livros foram escritos por Stieg Larsson, que faleceu em 2004, antes de a trilogia ser lançada e se tornar um sucesso. Em 2015, David Lagercrantz continuou a história e havia a dúvida se ele conseguiria manter o nível da série ou não. Para mim, havia ainda a expectativa de conseguir ou não aproveitar a leitura, já que eu ainda não li o segundo e o terceiro livro da série. O que afirmo é que A garota na teia de aranha superou minhas expectativas!
Senti que no quarto livro a história ganhou um ritmo mais acelerado do que no primeiro, já foi possível ver logo de cara do que se tratava a trama (pontos positivos), talvez por os personagens principais e o cenário já serem conhecidos.
Na narrativa de David Lagercrantz, o foco muda bastante de personagem, enxergamos a história tanto pelo ponto de vista dos protagonistas quanto dos vilões e de alguns personagens secundários. No primeiro livro, creio que o foco estava mais concentrado.
Fiquei contente ao perceber que David Lagercrantz manteve uma das melhores características de Stieg Larsson: não deixar as personagens femininas em segundo plano. Em A garota na teia de aranha não são só os homens que tem cargos importantes, as mulheres também tem. Não se trata de superioridade de um gênero, e sim de igualdade, de representatividade, e isso é muito importante.
E Lagercrantz tem uma capacidade admirável para criar bons personagens, daqueles que nos conquistam (mesmo que depois ele mate alguns e nos deixe revoltados).
Achei a capa super bonita, a diagramação está ótima, com margens, espaçamento e letras de bom tamanho. As páginas são amareladas e a revisão também está boa.
Enfim, A garota na teia de aranha é um livro que gostei e que recomendo. Uma trama que fala sobre jornalismo, espionagem, tecnologia, autismo, violência doméstica e muito mais, de forma ágil e atual.
"- Será que era para ser assim, Sonja?
- O que você quer dizer?
- Todo mundo com receio de escrever ou de dizer alguma coisa com medo de estar sendo espionado." (página 282)
Ah, eu pretendo ler os volumes que faltam assim que puder. Millennium é uma série que quero ter completa na minha estante. Não encontrei dificuldade por não ter lido os dois livros anteriores, só acho que quando for lê-los, já saberei muita coisa do passado da Lisbeth. E parece que vem um quinto livro por aí.
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