Annalisa 09/10/2020A lista de Schindler
Terminei a leitura faz quase duas semanas, e ainda não consegui encontrar as palavras para descrever a sensação ao virar a última página, mas mesmo assim, me proponho a tentar, pois se há um livro que merece uma resenha, é este.
É um misto de vergonha, tristeza, desolação e incredulidade.
Realmente difícil de acreditar que parte da humanidade foi conivente e capaz de uma atrocidade dessas.
O livro retrata com maestria essa parte negra da história, creio eu, que este seja o melhor livro que retrata esse tema, justamente por não contar uma simples história, mas sim apresentar fatos. Ele é cru e real, sem enrolação, sem amenizar os acontecimentos.
Ele te joga as informações na cara, e você, caro leitor, que se vire para conseguir absorver tudo.
Ele apresenta a realidade como ela foi, e como ela é. Contada justamente pelos "judeus de Schindler", é então, preciso fazer uma menção honrosa ao trabalho minucioso e caprichado de Thomas Keneally, que não apenas realizou uma pequisa fabulosa de campo, mas também aceitou o desafio de contar de forma envolvente e realista tudo pelo qual nossos protagonistas passaram.
Schindler não foi salvador do mundo e da pátria, nem um Deus em forma humana. Mas basicamente, ele foi a pessoa certa, na hora certa, no lugar certo, com as influências certas.
Mas conhecido como um "bon vivant", um cara boêmio, orgulhoso e ganancioso, com dinheiro, poder e contatos. Ele foi capaz de ao mesmo tempo fazer parte da "linha de frente" dos nazistas alemães, sendo ainda membro do partido e realizando frequentemente encontros, festas e jantares com homens de alta patente e também enganar na cara dura todos eles e proteger os "seus judeus".
É um livro que todos nós, leitores assíduos ou não, deveriam ler. Justamente para termos esse choque de realidade e não permitir que esse capítulo da história se repita novamente.
Se você tem alguma dúvida, não tenha mais. Leia este livro, engula suas palavras e chore suas letras, porque é preciso saber o horror pelo qual essas pessoas passaram. Não é porque já está no passado, que deverá ser esquecido. Não é um livro fácil, não é gostoso de ler. Mas ele te prende de uma forma, que você não consegue parar antes de chegar no fim, e ao chegar você não consegue simplesmente desligar e partir para outro, ele te tira do eixo.
O que muito me choca são os números, a quantidade absurda de judeus que tiveram seus tristes fins decretados pela crença de um fanático.
Acho que uma da partes mais memoráveis do livro é o discurso final de Schindler, quando o final da Guerra já estava decretado e ele precisava fujir para não ser morto/preso, pois querendo ou não ele ainda era um Diretor de um campo de concentração, e pouco importaria aos russos ouvir a história completa antes de atirar.
Ele afirma que ficará com os judeus até cinco minutos depois da meia-noite, e pede para que ao serem "libertados" não mantenham a raiva e o ódio no coração, que não busquem vingança, que não se rebaixem ao nível daqueles que os torturaram e mataram seus familiares, que não reiniciem o ciclo de ódio e matança. Mas que tentem ao máximo seguir o caminho da paz e restabelecer suas vidas.
Que não direcionem suas frustrações para as vilas alemãs próximas ao campo onde estão, pois aqueles moradores alemães também contribuíram para a sobrevivência, mesmo que indiretamente, deles. Fornecendo suprimentos e comidas através dos desvios e subornos de Schindler.
Acho que amor ao próximo, empatia e lealdade resumem as ações e palavras de Oskar Schindler.
E fica aqui a mais real verdade apresentada no livro:
"[...] aquele que salva a vida de um homem salva a vida do mundo inteiro."