Rodrigo1001 30/04/2019
Belíssima obra-prima (Sem Spoilers)
No meio de todos os horrores habituais de uma guerra, alguém poderia pensar que não há como as coisas piorarem, porém, lendo este livro, fica claro que isso não poderia estar mais errado.
Em A Lista de Schindler, de Thomas Keneally, há genocídio, assassinato, sadismo, barbárie e crueldade extrema em uma escala que vai muito além do nosso poder de compreensão. É o retrato do horror absoluto.
E é um relato verídico.
É real.
Aconteceu há pouco mais de 75 anos.
E, se você acha que isso representa muito tempo, reveja seus conceitos: talvez seus avós tenham mais ou menos a mesma idade.
Indo direto ao ponto, o que mais me encanta nesse livro é a força que o autor emprega na narrativa dos fatos. Como eu disse, não se trata de uma ficção, mas de um relato histórico. Como tal, o livro poderia ter se tornado um coquetel mortal de fatos analisados por uma ótica gélida, distante e contemplativa, mergulhando numa tristeza quase melodramática. Mas, felizmente, não; o conteúdo segue justamente na direção oposta.
A narrativa é direta, cortante e bastante dinâmica. A crueza dos relatos dos sobreviventes e a maneira como como são expostos transportam o leitor de volta aos anos 40, quando o mundo enlouqueceu. Você não consegue abstrair, não consegue ficar alheio a torpeza de um povo que resolveu exterminar mais de 6.000.000 pessoas em um ímpeto colérico e absolutamente irracional de criar uma raça pura. Cremaram mulheres. Cremaram homens. Cremaram crianças. E, com o fogo, cremaram a chama de esperança que muitos tinham na humanidade.
Que A Lista de Schindler retrata as agruras da Segunda Guerra Mundial não deve ser novidade pra ninguém. Agora, que tenha sido escrito de maneira tão sublime, isso sim, pode ser um fato novo. Ouso dizer que Thomas Keneally mostra o mesmo talento de Robert K. Massie em seu fabuloso Catarina, A Grande. Uma união perfeita entre pesquisa minuciosa de historiador e maestria narrativa de romancista. De tão bem escrito, parece ficção (antes fosse!) e embora os relatos pareçam remotos e inacreditáveis, são comprovadamente reais.
Cumprindo com excelência a tarefa de expor um dos capítulos mais negros da história mundial, o livro cria um poderoso alerta quanto ao fenônemo que vivemos hoje, com uma polaridade cada vez mais forte, com a aparente morte das nuances e da ponderação em nome de uma crescente massa cega, estupidamente ignorante e absolutamente incapaz de se colocar no lugar do outro e conviver com aquilo que nos faz especiais: as nossas diferenças.
Se você não conhece o livro, não exite em lê-lo. Se não sabe quem foi Oskar Schindler, por favor, faça um favor a si mesmo e leia-o.
Pra encerrar, quando me perguntam sobre alguma personalidade que admiro, a resposta é sempre Oskar Schindler.
E depois deste livro, tão mais completo do que o belíssimo filme de Spielberg, continuará sendo.
Leva 5 estrelas, dolorosas e brilhantes. Leia sem pestanejar.
PS: Visitei o Museu do Holocausto de Israel, o Yad Vashen, em 2014 e o extinto gueto de Varsóvia em viagem a Polônia em 2015. O holocausto é um fato histórico estarrecedor. Se você o nega, não só me ofende a nível molecular, mas ofende a bilhões de pessoas mundo afora.
PS 2: Para meu mais absoluto espanto, decidi assistir ao filme A Lista de Schindler minutos após terminada a leitura do livro. Isso foi no último domingo, dia 28/04. E 28/04 é justamente a data de nascimento de Oskar Schindler.
PS 3: Dedico essa resenha à todas as vítimas do nazismo e aos seus familiares. Lembrar para jamais esquecer.