jota 17/04/2016No fundo do poço...Dolores Claiborne, a narradora de Eclipse Total, diz palavrões cabeludos o tempo todo feito nosso asqueroso ex-presidente molusco. Mas ao menos ela é engraçada muitas vezes. Ou irônica, para poder suportar a vida desgraçada que leva, torná-la um pouco mais leve aos nossos olhos.
Dolores conta aqui um tanto de sua história, de sua vida, para a polícia de uma ilhota no Maine, suspeita que é da morte de uma rica idosa moradora da comunidade. Além do policial que toma seu depoimento, há uma jornalista gravando tudo. Como tem poucos diálogos e intensa narração, parece que o livro tem muito mais do que suas 286 páginas.
E a coisa esquenta mesmo depois de uma centena delas lida. Até então a narrativa, ainda que interessante em vários trechos, andava ficando meio repetitiva com a falação ininterrupta da mulher. Só ela fala o tempo todo; quando há diálogos eles são a reprodução das conversas que ela teve ou tem com outros personagens.
Nunca havia lido Stephen King antes, mas apreciava algumas versões cinematográficas de suas obras. Eclipse Total foi lançado em 1993 e vertido para o cinema em 1995 (a história se passa entre os anos 1950 e 1990). É daqueles livros dele em que não há terror nem suspense ou algum grande mistério - senão talvez não tivesse lido -, apenas duas mortes e algumas surpresas espalhadas ao longo da história que, claro, fazem nosso interesse aumentar mais.
Penso que Eclipse Total é assim uma obra fora da curva na carreira de King (que conheço mais do cinema mesmo), tanto quanto Misery, que também virou filme de sucesso, com a mesma atriz de Eclipse Total, a talentosa Kathy Bates. Vi Misery (no Brasil, Louca Obsessão), que é muito bom de fato, com um final de arrepiar. O livro também está bem avaliado aqui no Skoob.
Bem, depois da centena de páginas lidas o interesse pela história de Dolores Claiborne cresce e lá pela página 200 e até o final quase não dá para largar o livro. King não facilita muito a leitura: apesar de conter parágrafos essa história não é dividida em capítulos, pois tudo se passa, melhor, tudo nos é contado num único dia, o do depoimento de Dolores à polícia.
Acho que valeu a pena o tempo que dispensei a este livro (enquanto lia outro, de Irvin D. Yalom) embora não me sinta motivado a ler outra obra de Stephen King tão cedo. Minha nota: 3,9.
Lido entre 10 e 17/04/2016.