z..... 15/05/2016
Edição da L&PM (2015)
Coletânea com histórias do universo feminino. São mais de cem, contadas com brevidade e mostrando personagens da história, da cultura popular e de situações rotineiras. O autor privilegia o povo latino e o enfoque varia entre drama, humor, surrealismo e folclore. Daquelas obras que vão da euforia à melancolia.
Em livros assim, com uma proposta tão diversificada de histórias, costumo registrar algumas para que fique como identidade da obra em minhas lembranças.
O autor cita personalidades famosas (como Frida Kahlo, Marilym Monroe, Evita Peron, Rita Hayworth, Carmem Miranda e outras), mas entre estas deixo em registro o texto sobre Xica da Silva (pág. 99), que rememora seu caráter desafiador em sua época. A referência é de duas páginas apenas e parece ter sido instigada através do filme dos anos setenta (impressão que fiquei pela citação do famigerado barco construído para um inusitado deleite). Além da Xica e Carmem Miranda (por adoção), outras brasileiras são citadas em textos sobre prostituição no Rio e cultura afro na Bahia. Bom deixar esclarecido que as histórias buscam ênfase a algum aspecto do universo feminino e não de se deter em biografias pois, como citei, os textos são realmente sucintos. Nesse aspecto de famosas e especificamente às brasileiras, cá com meus botões, o autor talvez escreveria algo muito interessante também se conhece as histórias de Maria Bonita ou Olga Benário.
Na questão de humor e cultura popular, gostei mais da primeira história do livro, chamada "O Amor", que traz uma visão engraçada sobre a descoberta "daquilo" em um casal no estilo Adão e Eva na Amazônia.
Os textos de cunho dramático são diversos e passeiam pela história, citando a inquisição, a religiosidade, guerras e sofrimentos impostos de maneira absurda através de ideologias. "A Virgem de Guadalupe contra a Virgem dos Remédios" (na pág. 109) foi o que mais me impressionou, citando a guerra entre espanhóis e mexicanos sob a proteção de suas padroeiras.
Entre as histórias corriqueiras e anônimas, maioria no livro, gostei especialmente de duas:
"Pássaros Proibidos" (pág. 140) é espetacular, expressando poesia ingênua e libertária na visita de uma menina a seu pai na prisão. Terna demais em sua pureza infantil! O texto mais bonito do livro em minha opinião.
"Janela sobre uma mulher - 1" (pág. 160) é literalmente uma poesia, breve, em um paralelismo entre uma casa e uma mulher.
Há histórias surreais que não entendi. Talvez em outra leitura.. "A cultura do terror - 2" (pág. 64) é uma destas. Parece óbvia e poderia até escrever algo, mas as releituras para melhor entender acabaram me deixando alheio ao que realmente quer expressar. Fiquei confuso com novas perspectivas.
Curiosidade a parte, confesso que minha primeira empatia e motivação de leitura foi topar com essa capa na livraria, de uma moça nua com muitas flores. Parece evocar brasilidade e cultura popular, que me atraem. Após leitura, afirmo que é uma imagem bem representativa da percepção do livro: histórias oferecidas em verdades nuas e cruas, do fascinante universo feminino.
Gostei.