O natimorto

O natimorto Lourenço Mutarelli




Resenhas - O Natimorto


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Dara 27/12/2020

O grito mudo da intrusão ressentida.
O Mutarelli é um pouco de tudo. Ator, escritor, quadrinista.

Eu já ouvi falar dele antes, mas nunca havia escutado. Hábito que admito inevitavelmente cultivar.

Ouvi justamente sobre "O Natimorto". Na realidade, folheei-o enquanto encontrava um amigo. Lembro-me de ler um trecho. Lembro-me de ter sentido minha mão pesar com a gravidade da Terra sobre o que lia. Esqueci-me até ganhá-lo num presente súbito. Recebi-o com uma surpresa alegre e com uma familiaridade desconhecida. Foi no 'só depois' que o re.conheci.

Gosto da solidão ressentida e pessimista do Agente. Não posso deixar de admitir, é um pouco a minha.

"Quem quebrará o silêncio?
Ninguém quebra o silêncio.
Nós apenas o cobrimos com palavras.
Com ruídos e palavras."

É também um pouco a da Voz. Personagem esta que é nomeada precisamente com aquilo que inexiste em si. Sua falta é anunciada com luzes de neon que piscam nervosamente. O outro faz do seu buraco a evidenciação mais aberta e escrachada. Em certo nível a produz. (Será que a falta da voz era uma falta tão dolorosa antes?).

O Agente diz "O nada é ausência. Não há graça na ausência" e a Voz responde "Será?". Questão que abre e não fecha. O feminino e o vislumbre do movimento possível unicamente pela falta. As ausências podem ser grandes estradas.

A dinâmica do amigo intruso que "pede uma coisa aparentemente tão inoportuna... com tanta doçura". Entra e fica e vai ficando. Contra intuitivo deixa-lo ficar. Lembrei-me do conto do barba azul. Em um dado momento da trama pensei que ele caminhava em direção ao destino que buscava evitar. Mas não. Depois vi que não.

Registro da anotação que fiz na página 32: MUITO cuidado com a redoma que os homens nos querem dentro.

"A Voz - Se minha voz é tão... maravilhosa como você diz... não seria egoísta demais você tê-la só para si?". As transparências enganam. O ressentimento ciumento compõe a arte dessa rica metáfora que é este livro.

Colapso.

"Antes, tudo o que eu dizia era fantástico e deveria ser escrito num livro, agora tudo o que falo é bobagem." Lembrei-me da capa do Seminário 4. O quadro do Francisco de Goya. Escrevi "O tempo devora muita coisa".

E depois, por fim, a introjeção e ingestão do outro.

Nossa! Quanta coisa reverberou desse encontro literário!
Espero ainda ler muito Mutarelli.
Alê | @alexandrejjr 07/06/2021minha estante
Que resenha fantástica! Parabéns!


Dara 07/06/2021minha estante
Oi, Alexandre. Obrigada pelo comentário e por me lembrar desse texto!
Um abraço!




Tito 22/06/2010

Outra história de dissolução, agora antevista pelos novos arcanos formados pelas sinistras advertências presentes nos maços de cigarro.
Ana 26/09/2010minha estante
ah, o Mutarelli ... li um (de título longo, que não lembro agora, e gostei muito). Aí fui esperando tudo do 'cheiro do ralo', e achei chato. Acabei não lendo mais nada do Mutarelli, mas acho que deveria ... (até pq tenho um estigma de não gostar de unanimidades: além do Mutarelli, sou a única pessoa que conheço que abomina cupuaçu, por exemplo)




Menezes 11/10/2009

Mundo estranho de Mutarelli
Ao encarar Lourenço você deve ter em conta algumas coisas: Que você possivelmente gosta de Kafka e que se algo está parecendo esquisito é porque é mesmo, e por último é um mundo muito próximo de um eufêmico pesadelo. Falo eufêmico, pois ele não é necessariamente forte, mas quando colocado em análise nua e crua é algo que passa beirando o grotesco, mas suavemente, como é o caso do final do livro em questão.
Natimorto está sendo relançado pela Cia. Das Letras, juntamente com o novo livro de Mutarelli Miguel e os Demônios, que alias foi lançado ontem, ao qual eu pretendo ainda falar brevemente. A história do nosso livro em questão gira em torno de uma mulher “A Voz” que tem um canto tão puro que ninguém consegue escutar e seu agente, “O Agente”, que lê a sorte nas propagandas antitabagistas dos maços de cigarro, ao qual ele tem a teoria de que são reinterpretações de cartas de tarô. Curioso e confuso? Normal. Mas espere ainda tem mais, ao serem expulsos da casa da mulher do gente ele propõem que eles vivam juntos em quarto de hotel por 5 ou 6 anos. Ah, sim ele é escrito em um misto de poesia com teatro. Sim, é realmente bem interessante, mas não espere nenhuma jóia escondida ou floreio narrativo mais extraordinário que isso, eu li em uma sentada e foi divertidíssimo!
O agente é um personagem deliciosamente deprimente, quase tão deprimente quanto os personagens de Phillip Roth, conforme os dias vão passando e o relacionamento dos dois vai mudando isso vai se tornando uma espiral destrutiva, que culmina na insinuação mais grotescamente medonha de um final de livor que eu tenha lido recentemente.
O grande defeito da história é sua brevidade, parecia que dava muito mais pano pra a manga, parece que quando você está no melhor filme a luz acaba ou aparece alguém dizendo “é tudo por hoje”, mas ele vai virar filme, não sei como uma vez que não consigo ver a história como um filme sem destruir toda sua estilística esperta, mas tomara que como filme verifiquem outras possibilidades para essa história macabra.

http:\\metempsicose-mtempsicose.blogspot.com
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Isinhaps 20/11/2009

Natimorro
Terrivelmente poético. O livro começa com uma proposta tentadora para todos aqueles sensíveis demais...mas, pelo visto, Mutarelli curte mesmo a exorbitação da sensibilidade, a tal ponto que ela deixa de ser "humana". Para quem gosta de livros perturbadores é um prato cheio!
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jeffy18 08/02/2010

Minhas observações aqui
http://modojeh.blogspot.com/2010/01/o-natimorto-lourenco-mutarelli.html

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Aline 25/10/2010

Viscoso, porém gostoso.
Rápido, criativo e esquisito. Um bom livro para quem quer variar. Recomendo.
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Luiz Ribeiro 01/10/2010

poesia em romance em teatro em imagem
De uma poesia dilacerada e de um sentimentalismo patético, Mutarelli construiu um universo lírico e problemático, enfático e escorregadio.
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Lidy 25/03/2011

À margem da própria humanidade
O Agente, a Voz, a Esposa e o Maestro. Quatro personagens foram suficientes para construir a narrativa da segunda obra de Lourenço Mutarelli, O Natimorto. O autor desenvolve com destreza uma história fora do convencional em forma e contexto, expondo fragmentos semelhantes às poesias, como se fossem oriundos de um texto teatral.

O contato prematuro com a narrativa do Agente mesclada aos diálogos é suficiente para constatar a genialidade do escritor ao designar os elementos da história. O Agente apropria as imagens com mensagens antifumo em maços de cigarro ele interpreta as fotografias como cartas de tarô utilizando por base o conhecimento sobre carteado, obtido com a tia que o criou.

Ele envolve uma jovem cantora com as tentativas de prever o futuro por meio dessas interpretações. A Voz, recém chegada à cidade e carregando a expectativa pelo reconhecimento de seu talento, canta com tamanha beleza e candura a ponto de tornar-se inaudível. O Agente, cansado de lidar com a sensação de invisibilidade perto àqueles de sua convivência, a impotência e a traição da mulher, encontra alento na Voz. Atenta às histórias, ela é, em um primeiro momento, a personificação da pureza e perfeição não mais encontrada por ele na sociedade.

Em um misto de encanto, loucura e fuga a um mundo onde as mazelas são predominantes, a personagem central faz-lhe uma proposta isolar-se com ele no hotel onde ela se hospeda. E ali viver, sem a necessidade de recorrer ao mundo pecaminoso. Mas o desafio que num primeiro instante a instiga, revela-se agonizante com a convivência diária.

[Leia o restante no blog: http://ow.ly/4mF6I ]
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Gabriel 06/04/2015

Consigo imaginar, ao ler o livro, uma cena no teatro onde o cenário se limita ao quarto do hotel. Ocorre um diálogo bem fluido entre a Voz e o Agente e com o convívio a relação começa a se desgastar e os personagens começam a deixar de reprimir suas verdadeiras essências.
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Arthur 15/02/2018

O natimorto: a loucura e o desajuste entre um cigarro e outro
Lourenço Mutarelli é um famoso e premiado quadrinista, ganhador 12 vezes do HQMix, mais importante prêmio da HQ brasileira. Estreou no campo literário em 2002 com "O cheiro do ralo", livro inquietante sobre o dono de uma loja de quinquilharias que alimenta uma obsessão pelo cheiro do ralo do banheiro do seu armazém e pela bunda da garçonete da padaria que frequenta diariamente.

Em "O natimorto", sua segunda incursão literária, com uma linguagem extremamente peculiar (que se assemelha tanto à poesia, como ao script de teatro, ao roteiro cinematográfico e, inclusive, a uma espécie de raf linguístico de quadro a quadro de uma possível HQ), Mutarelli nos apresenta um narrador-personagem conturbado que lê sua própria sorte nos maços de cigarros. Fumante compulsivo, ele consome exatamente um maço por dia, o que o leva a fazer das imagens perturbadoras antitabagismo dos maços o prenúncio (ou melhor, a advertência) de como será o seu dia, em analogia ao tarô, buscando estabelecer transposições das imagens dos maços para os arcanos do tarô.

A narrativa se inicia com esse narrador-personagem (identificado como Agente, devido à sua profissão de caça-talentos) na rodoviária aguardando a chegada da talentosa artista que descobriu (nomeada como Voz da Pureza ou apenas como Voz, tendo em vista que "não podemos ouvir um único som emitido de sua suave boca por se tratar de um som que, de tão puro, de tão cristalino, faz-se inaudível aos mortais"). A proposta é que o Agente apresente a Voz da Pureza ao Maestro, seu conhecido, para que este possa fazer com que a carreira dela deslanche após contemplar seu enorme talento.

O maço de cigarros desse dia traz a imagem do natimorto, ou seja, "um bebê recém-nascido cheio de tubos e visivelmente doente, decrépito", quiçá nascido morto devido à "irresponsabilidade" ou ao "vício" de uma mãe, que fumava mesmo advertida de que "Em gestantes, o cigarro provoca partos prematuros e nascimento de crianças com peso abaixo do normal e facilidade de contrair asma". O natimorto é alguém que apenas "viveu uma vida intrauterina", isolado e protegido de toda e qualquer ação externa, alheio ao mundo, à dor e à degradação que viver imputa ao ser humano. "Isso o torna um ser superior, quase santo. Viveu sem macular-se do mundo. Pulou uma passagem de sofrimento e desilusão. Foi da não existência pura para a não existência protegido no interior de sua mãe. Puro.".

É justamente isso que o narrador-personagem vai buscar a partir do momento em que tem coragem o suficiente para se desprender de tudo que ainda o liga ao mundo e às convenções sociais. Ele chega à conclusão de que sua existência física precisa ser como a do natimorto, ou seja, uma mera existência, desprovida de qualquer ligação com o mundo à sua volta, a não ser a Voz da Pureza, que, de tão pura, não pertence a este mundo banal, mortal, corruptivo e degradante.

Tal condição remete às seguintes palavras do estudioso francês Georges Bataille: "Somos seres descontínuos, indivíduos que morrem isoladamente numa aventura ininteligível, mas temos a nostalgia da continuidade perdida. Suportamos mal a situação que nos prende à individualidade fortuita, à individualidade perecível que somos. Ao mesmo tempo que temos o desejo angustiado da duração desse perecível, temos a obsessão de uma continuidade primeira, que nos religa geralmente ao ser."
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Herval 15/02/2018

Aquém às expectativas
Após dois livros e um filme, ficou a impressão de que os protagonistas do Mutarelli, sempre cambaleantes pelo limiar da sanidade, na verdade são representações do mesmo personagem... Seria um alter ego do autor?

Essa atmosfera de estranheza que caracteriza suas histórias, e talvez o próprio, numa persona pública que ele faz questão de alimentar, me interessa de muitas formas, mas dessa vez não embarquei na viagem.

Apesar da originalidade da premissa, aproximando as imagens dos maços de cigarro às cartas do tarô, a trama não me pareceu apropriar-se da mesma, revelando-se simplória no seu desenrolar. Os personagens também soaram como fantoches para os devaneios do autor, em grande parte devido aos diálogos pouco convincentes.

Enfim, fiquei na plataforma. Pretendo dar outra oportunidade ao Mutarelli, mas agora nas HQs, sua mídia de origem.
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