O livro do riso e do esquecimento

O livro do riso e do esquecimento Milan Kundera




Resenhas - O Livro do Riso e do Esquecimento


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Alê | @alexandrejjr 27/06/2021

Os três pês de Kundera

Milan Kundera é um dos mais celebrados romancistas contemporâneos. Não por acaso, o autor tcheco está sempre cotado para ganhar o Prêmio Nobel. Em “O livro do riso e do esquecimento”, Kundera vai guiar os leitores sob três temas principais que eu jocosamente chamarei de os “três pês” de Kundera.

Vamos ao primeiro “p”: Praga. A capital da atual República Tcheca é parte indissociável da identidade de Milan Kundera e, portanto, de sua literatura. A história reforça essa ligação. A antiga Tchecoslováquia, que foi libertada pelo regime comunista soviético em 1945 das garras nazistas, posteriormente revelou o que todos nós já sabemos: que a ambição é um mal sem limites. Sob asas soviéticas, o país que sonhava com um “socialismo de face humana” teve uma fracassada tentativa de “russificação”, culminando na famosa Primavera de Praga, em 1968, tão cara ao autor e intrinsecamente ligada à sua história. Sob a perspectiva de um cidadão exilado desde 1975, pois foi privado de sua cidadania checa até 2019, quando seu país lhe devolveu aquilo que o escritor jamais deixou de ter, Kundera exerce o olhar privilegiado de quem não tem amarras. E é através dele que tenta analisar o que significa fazer parte de uma nação que foi usurpada por ideais que pregavam a uniformização, a centralização e a completa ausência de discordância. E isso nos leva ao segundo grande tema do livro.

O próximo “p” é, talvez, o mais importante da obra: o passado. É através dele que o autor irá trabalhar filosófica e existencialmente a ideia do esquecimento e o que ele representa dentro da memória coletiva. Sob esse eixo de raciocínio é que se dá a principal ligação das sete histórias presentes na narrativa não linear do romance, que às vezes se mesclam ou se somam a outros estilos, como o conto e o ensaio, tudo sem aviso prévio aos leitores. O passado interessa muito mais que o futuro, concluirá Kundera. Mas em meio ao ousado hibridismo técnico, que impossibilita definir o gênero predominante do livro, Kundera irá mostrar que há algo que não se pode abdicar em tempo algum, o que nos leva ao último tema.

O terceiro “p” é o que está presente nas mais variadas formas de expressão das personagens: a política. Para Kundera, a política se expressa até nos mínimos detalhes e em todas as ocasiões. É a política que define o sexo, que define as relações de poder e que impiedosamente exerce influência nas emoções. E é por isso que o escritor elege, poeticamente, o riso como uma válvula de escape alegórica. O riso é a expressão do fim, da dor, do inevitável diante do absurdo. É aqui também que o autor traz elementos da sua conhecida predileção pelo erotismo, com passagens que inevitavelmente esbarram no machismo que todos os homens carregam e parecem - como devem parecer - anacrônicas.

Este “O livro do riso e do esquecimento”, primeiro romance escrito na França - mas ainda em checo - pelo exilado Kundera é o testemunho de uma necessidade humana: a de contar. Milan Kundera conta porque é necessário saber, é necessário refletir, pois no fim tudo não passa de histórias e delas, como o romancista sabe muito bem, o tempo não se desfaz.
dani 27/06/2021minha estante
Resenha interessante! Ainda não li nada do autor, mas quero ler em breve.


anna 28/06/2021minha estante
Adorei a resenha! Se não me engano, esse é o único romance do Kundera que ainda não li. Já estava ansiosa, agora fiquei ainda mais.


Henrique Fendrich 29/06/2021minha estante
Muito bom. Há alguns dias, Kundera recebeu o Prêmio Kafka, concedido por tchecos, depois que permitiu a tradução tcheca dos seus romances. Hoje, embora tenha fama mundial, Kundera ainda é pouco conhecido no seu país natal, fruto dessa relação tensa ao longo da sua trajetória.


Alê | @alexandrejjr 29/06/2021minha estante
Dani, ainda acho que um livro mais interessante pra conhecer a literatura dele é "A insustentável leveza do ser" e é tão bom quanto este;

Anna, que fantástico conhecer uma "kunderiana"! Bora completar mais essa figurinha;

Bem pontuado, Henrique. E não sabia que ele tinha sido reconhecido com esse prêmio, estava na hora.

Pessoal, obrigado por dedicarem tempo para ler o texto. ?


Alanna Fernandes 03/07/2021minha estante
Eu queria te conhecer pessoalmente!


Alê | @alexandrejjr 03/07/2021minha estante
Se estiver perto de Porto Alegre, podemos fazer acontecer, mas acredito que eu me expresso melhor escrevendo do que conversando, Alanna. ??


Fanny Galvão 16/04/2023minha estante
E aí rolou o encontro ? Gente preciso saber kkkk


Alê | @alexandrejjr 16/04/2023minha estante
Não rolou a fic, Stephani! Acho que nunca mais nos falamos, inclusive (e ela nunca me respondeu!!). Mas tirando a brincadeira, acho que ambos estávamos pensando num encontro sem esse sentido que tu pensasse. ?


Fanny Galvão 16/04/2023minha estante
Ale que pena :( já imaginei vocês caminhando pelo campo tomando chimarrão KKK


Leila 22/05/2023minha estante
excelente resenha, amigo


Alê | @alexandrejjr 25/05/2023minha estante
Obrigado por ter lido e pelo carinho, Leila. Fico feliz também que tenhas gostado do livro!




Michela Wakami 27/03/2024

Detestei
Um livro que fala mais sobre sexo, do que de qualquer outra coisa.
Aqui tem suruba, tem pedofilia, etc.
Iwatanii 27/03/2024minha estante
Misericórdia ?


Ramon 27/03/2024minha estante
As vezes penso em ler algo desse autor, mas sempre fico com um pé atrás com o que está na moda...


Michela Wakami 27/03/2024minha estante
Ramon, eu também tenho pé atrás, mas infelizmente as vezes acabando dando azar de arriscar errado.?
Só terminei de ler esse, para poder alertar as pessoas, que assim como eu, não gostam desse tipo de livro, pois ninguém fala sobre isso nas resenhas.


Michela Wakami 27/03/2024minha estante
Ou melhor, quase ninguém*.


Michela Wakami 27/03/2024minha estante
Misericórdia mesmo, amiga.


anoca 27/03/2024minha estante
amo qnd algm diz que o livro tem pornografia pq nem chego perto.. obrigada


Michela Wakami 27/03/2024minha estante
Por nada, Anoca. ??

Também amo ser avisada.


Paloma 29/03/2024minha estante
Gosto quando você fala sobre na resenha. Assim fica mais fácil a escolha de querer ler ou não.


Michela Wakami 29/03/2024minha estante
Obrigada, Paloma. ??


Ramon 29/03/2024minha estante
Lembrei de um livro que me decepcionou muito pelo mesmo motivo, se chama Quarto Escuro. Recomendo que passe longe. Comprei pela sinopse na contracapa e o livro não entregou nada do que prometia.


Michela Wakami 29/03/2024minha estante
Obrigada pelo aviso, Ramon.
Vou passar longe, com certeza.
Pior é a sinopse não trazer nenhum tipo de alerta.
A casos em que, nem correspondem com o conteúdo, parece até, que foi escrita, por alguém que não leu o livro.?


Alê | @alexandrejjr 30/03/2024minha estante
Acho, sinceramente, que esse livro fala sobre muitas outras coisas antes do sexo. Mas entendo o incômodo, especialmente pelas claras passagens machistas presentes no romance. Mas reitero: existe um projeto estético interessante nesse livro, goste-se ou não dele.


Michela Wakami 30/03/2024minha estante
Alê, sinceramente, eu nem olhei pelo lado machista.
Meu incômodo maior é o fato de uma mulher que após a morte de seu marido, não conseguir mais se realizar sexualmente com outros adultos, por ver neles o rosto do marido falecido, e indo para uma ilha aonde só moram crianças, ter relações sexuais com elas e só assim conseguir se realizar sexualmente.

Observação: crianças de 6 a 12 anos.

E isso é retratado em várias páginas.

E tem outras partes sexuais entre adultos, e na maioria das vezes, sexo em grupos, que também me incomodam.

Se essas coisas não te incomodam, tudo bem.
Mas me incomodam e muito.

Por isso dei essa nota baixa, e fiz esse comentário na resenha.

E assim como eu, tem várias outras pessoas que não gostam desse tipo de livro, esse alerta é para essas pessoas.

Se tinha algo de relevante, nesse livro, passou a não ser mais relevante para mim.
A única coisa que senti, foi vontade de nunca mais ler nada do autor.


priscyla.bellini2023 04/04/2024minha estante
Sou testemunha ksksks Não li, nem lerei, mas ainda quero ler outros livros do autor.




L F Menezes 16/11/2012

Tornando inesquecível o esquecimento
Como disse o próprio autor, o livro se trata não de contos, mas de um romance escrito em variações de um tema para conseguir um aprofundamento que uma obra normal não alcançaria. Não quero resumir o que é o livro apenas com isso. Esse é o aspecto formal do texto. Existem vários outros.
Um é a beleza com que Milan escreve: uma linguagem fácil, uma ironia sutil escondida nas reflexões um tanto quanto filosoficamente geniais e o uso de cenas eróticas (que não deixam de ser oníricas).
Outro aspecto é o tema, que já é expresso pelo título: a obra explica o que é, significa, faz e desfaz o riso e o esquecimento. A história gira em torno de Tamina, uma mulher sensual e que perdera o marido por uma doença; mesmo que as histórias não sejam todas protagonizadas por ela, se remetem à moça, que vive olhando para trás, assombrada pela imagem de seu homem morto.
Mas o aspecto mais importante está oculto. O objetivo de Kundera ao escrever o livro: por mais que o livro fale que não há como lutar contra o esquecimento, toda a obra não passa de uma tentativa do autor de impedir seu país natal, sua antiga nação, de cair no esquecimento. Ou seja, Tamina (repare: começa com a letra T) é a representaçã da República Tcheca que com uma doença (os russos) perde seu amor, seu sentido, seu destino e caminha para o esquecimento (perda da cultura).
Porém, incrivelmente, não se trata de um livro triste. É aí que fica clara a genialidade de Kundera: depois de ler 280 páginas de pura agonia, a reação é nada mais que aquele sentimento estranho, que pode ser diabólico ou angelical (também segundo o autor), o riso.
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Ana Quintela 19/08/2009

Inesquecível
Foi uma grata surpresa para mim perder minha "virgindade" literária de Milan Kundera. O Livro do Riso e do Esquecimento me levou muito além do que eu imaginava. Ele conduz a ocupação da antiga Tchekoslováquia pelos Russos (e tantos outros) para o campo dos relacionamentos pessoais e individuais. Ele mostra com a alma aberta a hipocrisia, os medos, o temor e a compreensão da morte, o amor, o sexo, a poesia, a música, ou seja, tudo pelo qual passa o ser humano. Uma narrativa estarrecedora que nos faz pensar sobre a tênue linha que divide as fronteiras da vida e da morte. Virei fã.
arthur felipe 10/12/2011minha estante
Além de tudo é muito bem escrito.
Me pergunto se ele passou por tudo isso, como é presumido na quarta parte do livro ''As Cartas Perdidas.''




Leila 22/05/2023

O livro do riso e do esquecimento, do renomado autor Milan Kundera, é uma obra que me conquistou profundamente, assim como sua obra-prima A insustentável leveza do ser que é um dos meus livros da vida. Aqui, Kundera revisita alguns dos mesmos temas que abordou em seu livro anterior e também expõe a vida das pessoas na Republica Tcheca após a invasão russa de 1968.

Uma das características marcantes do livro é a sua natureza híbrida, que mescla romance, contos e ensaios. Essa abordagem multifacetada permite ao autor explorar os temas de maneiras diferentes, oferecendo ao leitor uma perspectiva ampla e variada sobre os assuntos tratados. Kundera apresenta narrativas entrelaçadas, personagens complexos e reflexões profundas, criando uma teia literária envolvente.

O tema central da obra gira em torno do apagamento da memória, da tendência que temos de esquecer rapidamente os eventos negativos, feios e errados. Kundera questiona a capacidade da sociedade em lidar com a História e ressalta a importância de confrontar o passado, mesmo que seja desconfortável, para evitar a repetição dos erros.

Além disso, o autor elege o riso como uma forma de enfrentar o absurdo da vida. O humor e a ironia são utilizados como instrumentos para desmascarar as contradições e os equívocos humanos. Kundera enfatiza a capacidade do riso em desafiar convenções, revelar a fragilidade das estruturas sociais e criar um senso de liberdade diante das circunstâncias opressivas.

Encontrei diversos pontos de similaridade entre O livro do riso e do esquecimento e A insustentável leveza do ser. Ambas as obras exploram temas existenciais profundos e oferecem insights perspicazes sobre a natureza humana. Kundera possui uma habilidade única de retratar as complexidades das relações humanas, mergulhando nas nuances da existência e apresentando personagens memoráveis ( como o Tomas e Teresa de A insustentável leveza do ser ).

Enfim, O livro do riso e do esquecimento é uma leitura rica e instigante. Milan Kundera mais uma vez demonstra sua maestria na escrita, combinando narrativa envolvente, reflexões filosóficas e um olhar aguçado sobre a condição humana, isso sem mencionar as suas pitadas de erotismo, né? rsrsrs. Se você apreciou A insustentável leveza do ser e/ou outros livros do autor, certamente encontrará em O livro do riso e do esquecimento outra obra inspiradora e provocativa.
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Deini 14/01/2013

Vale muito a pena.
Mais um ótimo livro do Milan Kundera. Mas sou suspeito de falar. Gosto muito de sua prosa, suas exposições, sua apelação para a contemplação das emoções e do genêro humano. O mergulho que ele nos leva a dar no lago interior das sensações, pensamentos, no psicológico dos personagens. Muito bom, a união entre retrato histórico e reflexão psicológica e filosófica!
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Helder 27/05/2023

Um Kundera para não esquecer
Este é o segundo livro que leio do autor e posso dizer que foi um desafio interessante.
Diferente do que eu pensava, este livro tem uma narrativa diferente de um romance, o que a princípio me trouxe uma certa estranheza, pois aqui temos sete contos com poucas conexões entre eles e que discutem diversos temas, mas sempre passando levemente pelo riso, mas principalmente pelo Esquecimento que é algo muito forte que assolou a República Tcheca após a invasão russa em 1968.
Este é o primeiro livro que Kundera escreveu no exilio, quando foi expulso de seu país como diversos outros intelectuais que pensavam diferente dos comunistas russos. Kundera escreveu este livro em 1978 e já morando em Paris, o que talvez até explique a liberalidade de alguns textos que talvez na França fossem mais aceitáveis já naquele momento, mas que no mundo do leste europeu de onde ele vinha, com certeza devem ter causado diversas polêmicas.
Acho que posso dizer que todos os textos deste livro falam sobre política e/ou erotismo, e tudo de maneira filosófica fazendo a gente parar e pensar em tudo o que o autor vai trazendo em seus textos.
Porém, diferente de sua obra prima A Insustentável Leveza do Ser onde as discussões filosóficas estavam inseridas na história e a movimentavam, aqui elas aparecem de uma maneira mais truncada, o que torna este livro mais desafiador do que seu grande sucesso.
Mas isso não é demérito. O que me causou estranheza é que muitas vezes eu tinha a impressão de que ele estava falando sobre um assunto, mas ai de repente ele passava a divagar sobre outro assunto, e este era tão interessante que me dava vontade de parar para marcar partes e partes do texto, e ai de repente eu já não lembrava sobre o que o texto vinha falando no seu início.
E agora, fazendo esta resenha aqui eu já não me lembro de muitas informações que talvez tenham sido essenciais para algumas pessoas, mas mesmo assim terminei este livro carregando incríveis momentos na minha cabeça que acho que levarei para a vida.
Momentos como a história de Mirek, que se apaixonou por uma mulher feia com quem deixou cartas no passado que hoje podem o condenar no novo regime, onde tudo aquilo que é contra o governo é apagado, e ele não quer que seu passado seja apagado, mesmo que ele seja preso por isso. Ou a história das Cartas de Tamina, que fugiu da República Tcheca com o marido que acabou morrendo em seu novo país. E Tamina está esquecendo este amor e deseja reencontrar diários que escreveu durante anos e que talvez falem mais de amor do que de política, mas ficaram em Praga, local onde ela não pode voltar. A necessidade dela em ter estes diários de volta e as maneiras que acredita poder recuperá-los chegaram até a me trazer uma sensação de claustrofobia. Que vontade de me oferecer para ir até ali buscá-los. E temos ainda o maravilhoso capítulo do jovem estudante que se apaixona pela mulher mais velha que tinha um marido bronco e um amante bruto e que se apaixona pela inteligência do jovem, que frequenta uma reunião de escritores alemães que me fizeram sentir um leitor sem cultura, ou sentir o litost, que você precisa ler o livro para descobrir do que se trata. E por fim temos um capitulo sensacional onde o erotismo está exacerbado, mas que discute diversos assuntos interessantes que devem ter sido muito polêmicos na data de lançamento deste livro, pois o texto tem muitos trechos que parecem extremamente machistas, mas que no final percebemos que na real quem controla todas as relações são as mulheres, que neste conto de Kundera são extremamente libertárias e bem resolvidas. Para se bater palma, mas que em tempos de “sabidos do twitter” podem ser lidos de maneira enviesadas e gerar um cancelamento para o bom velhinho Milan Kundera e sua vida tranquila em Paris aos 94 anos.
Ah, mas você pode estar se perguntando onde esta o riso? Te confesso que me parece que o riso foi abolido daquele local com a chegada do comunistas, mas mesmo assim ainda temos um trecho delicioso de Kundera, ou seu personagem, trabalhando como astrólogo para um jornal controlado por comunistas e numa parte onde ele nos conta que o riso foi inventado pelo diabo e que depois os anjos tentaram copiá-lo.
Resumindo, é um livraço. Desafie-se. Pegue um marca-texto. Leia devagar. E não desista. Te garanto que vai valer a pena, e que ao chegar ao fim você terá a sensação de que está mais inteligente e que sua visão de mundo aumentou.

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Claccostaa 09/09/2021

2a viagem à ilha de Kundera
O meu segundo livro de Kundera. Que sorte é poder ter acesso a tanta riqueza, a tanta sensibilidade, sendo atingida por palavras que atravessam os limites da linguagem, traduzindo tão lindamente sensações que eu jurei serem indefiníveis.
Ler O Livro do Riso e do Esquecimento é um processo tão rico, tão claro e tão misterioso, ao mesmo tempo... As rererencias políticas conseguem atingir temáticas existenciais. Diálogos sobre relacionamentos, sexo, erotismo fogem do que, na primeira visão, poderia estar contido no universo particular. O indivíduo e a sociedade são dois e um ao mesmo tempo. O próprio riso, que pode ser tão banal, tão cotidiano, uma harmonia de sons inteligíveis, vira coisas que só um gênio consegue metabolizar. Eu sou uma grande fã e tudo que eu queria era esquecer esse livro, só pra ter o prazer de ler pela primeira vez.
Não posso deixar de falar, no entanto, da ausência de protagonistas femininos. Com exceção de Tamina, as mulheres parecem sempre estar a serviço dos homens (e nunca sendo referenciais intelectuais ou algo do tipo). Não gosto de moralizar obras, nem personagens, mas, sendo mulher, não consigo permanecer inerte a "coisificação".
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Karina Paidosz 26/07/2021

Minha primeira leitura de Kundera;
Achei bem tranquila apesar de ficar um pouco perdida com as 7 histórias.
Pretendo ler " A insustentável leveza do ser" para ter uma noção melhor do autor, segundo alguns leitores, esse não é um de seus melhores livros.

Sem entrar na questão machista, mas só para descrever alguns pontos na história que me incomodou: impossível não se sentir incomodada com o protagonismo da mulher sendo apenas como sexual.
O homem como protagonista, exatamente da forma como ninguém idealiza. (...)

A narrativa é bem descontraída e eu queria mais riso ??
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Caco 09/04/2024

Não precisa ficar em litost para ler esse livro!
Kundera é um escritor admirável. Consegue conduzir prosa, diálogo, filosofia e ensaio num mesmo enredo e ainda assim cativar o leitor. A leitura deste livro é dividida em 7 partes. Cada um dos capítulos evoca a narrativa de personagens distintos. O ritmo é agradável e perdura quase toda obra, exceto o capítulo "Os anjos" onde acredito que Milan Kundera viaja um pouco na maionese, mas nada que atrapalhe a história.

É preciso dizer que a palavra Litost que tem até um capítulo exclusivo a ela. Se for a procura de uma tradução no Google, encontrará ironicamente a palavra "leveza", um substantivo que ficou famoso no título de sua obra-prima.
Litost não tem tradução em outros idiomas. A origem dela é tcheca. Parece com inveja mas não é. Seu equivalente mais próximo é imaginar que está na merda e se acaso ver alguém que está melhor que ti, desejar ardentemente que este chegue ao fundo do poço contigo. É estar próximo de sua própria mediocridade. Aquele que é ferido quer estar no mesmo lugar daquele que não se fere. Há um adjetivo derivado no idioma tcheco que pode indicar alguém que leva tudo para o lado pessoal, o famoso dramático.

Por fim, recomendo fortemente o romance aos leitores familiarizados com as obras deste autor, mais especificamente o clássico A Insustentável Leveza do Ser. Cabe ressaltar que esta obra publicada em 1984, assim como O livro do riso e do esquecimento e a Imortalidade fazem parte de uma trilogia. A temática em comum é a abordagem voltada ao erotismo assim como o exilio do escritor na França. O motivo: A República Tcheca fazia parte do bloco comunista da União Soviética.

Nota: 8,14 (0 a 10,5)
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Renato 16/07/2023

O que é a ?litost?? (Citação)
O que é a ?litost??

Litost é uma palavra tcheca intraduzível em outras línguas. Sua primeira sílaba, que se pronuncia de maneira longa e acentuada, lembra o lamento de um cachorro abandonado. Para o sentido da palavra, procuro inutilmente um equivalente em outras línguas, embora eu tenha dificuldade de imaginar que se possa compreender a alma humana sem ela.
Vou dar um exemplo: o estudante tomava banho com sua amiga, também estudante, no rio. A moça era esportiva, mas ele nadava muito mal. Não sabia respirar embaixo d'água, nadava devagar, a cabeça nervosamente levantada acima da superfície. A estudante estava tão irracionalmente apaixonada por ele e era tão delicada que nadava quase tão devagar quanto ele. Mas como o horário de banho estava quase na hora de acabar, ela quis dar por um instante livre curso a seu instinto esportivo e dirigiu-se à margem oposta num crawl rápido. O estudante fez um esforço para nadar mais depressa, mas engoliu água. Sentiu-se diminuído, desmascarado na sua inferioridade física, e sentiu a litost. Lembrou-se de sua infância doentia, sem exercícios físicos e sem amigos, sob o olhar excessivameqte afetuoso da mãe e ficou desesperado consigo mesmo e com sua vida. Ao voltarem para casa por um caminho campestre, os dois se conservaram calados. Ferido e humilhado, ele sentia um irresistível desejo de bater nela. "Oque está acontencendo com voce?" perguntou ela, e ele a censurou: ela sabia muito bem que havia correntes perto da outra margem, ele a tinha proibido de nadar daquele lado, porque ela corria o risco de se afogar ? e deu-lhe um tapa no rosto. A moça começou a chorar e, diante das lágrimas em seu rosto, ele sentiu pena dela, tomou-a nos braços e sua litost se dissipou.


Video do canal: Isto não é Filosofia
https://youtu.be/_7KNFC7EmoQ
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Henrique Fendrich 21/09/2021

Reli esse livro depois de 14 anos, como fiz com outros do Kundera. Continuei gostando (é mais um que considero superior ao "A insustentável leveza do ser").

É um "romance" apenas porque não temos classificação melhor, pois, na verdade, é um livro que perpassa e subverte os gêneros, entre os quais se destaca o conto e o ensaio. A sua ficção é permeada pela metalinguagem e por relatos de experiências pessoais do autor. O que pode, num primeiro momento, deixar o leitor um tanto "perdido", na verdade representa uma interessante unidade a partir dos assuntos que dão título à obra. O "riso" e, sobretudo, o "esquecimento" dão a dimensão filosófica na qual os seus personagens irão atuar.

O livro, portanto, não é linear, são vários pequenos capítulos de leitura muito ágil, que contam diferentes histórias, embora alguns personagens (e alguns refrões) se repitam. Há 14 anos atrás eu já havia deixado registrado que "me atrai muito a não linearidade das histórias". Kundera escreve com muita naturalidade, inclusive sobre temas-tabus, e aí, quando nos damos conta, já estamos nós mesmos achando que eles nem são tão tabus assim (o Henrique de 14 anos atrás, contudo, certamente se chocou muito mais do que o de hoje).

Mesmo o Henrique do passado, porém, deixou registrado o seguinte: "Todas as páginas, embora dotadas de uma crueza que à primeira vista pode assustar, são recheadas de vida e sentimento, como poucos" e, ainda, "Sinto uma ternura muito grande pulsando por ali". Essa ternura sinto especialmente na primeira história de Tamina, com a sua tentativa de fazer com que alguém fosse à Praga e pegasse para ela as cartas do seu falecido marido.

Nas minhas antigas anotações, encontro também uma exaltação às metáforas do autor, "criativas, bem explicadas, e se repetem no decorrer da história", "como se o significado delas ficasse martelando o tempo todo". Cito o exemplo da "dança da roda", usada por Kundera como uma espécie de exaltação, praticamente um transe, entre pessoas que compartilham de um mesmo pensamento e de uma sensação de unidade, mas o que mais me marcou nessa primeira leitura, e uma das poucas coisas de que me lembrava, era a "metáfora do avestruz" (a ave que abre a boca como se estivesse querendo nos comunicar alguma coisa e não sabemos o quê, mas é meramente o desejo de expressar a sua individualidade, e se nós não a ouvimos é, em grande parte, porque estamos preocupados com a nossa própria).

A parte "política" também desempenha um papel importante, como em toda obra do Kundera, a partir da invasão russa que acabou com a epifania da Primavera de Praga. Acho muito interessante a maneira como o autor insere a política tanto na ficção como na sua filosofia.

As duas últimas histórias me agradaram menos, em especial o caráter excessivamente alegórico da penúltima, além de eu achar que as reflexões do Kundera sobre a música traem um elitismo e um conservadorismo que não se coadunam com os seus personagens. Mas mesmo nessas últimas histórias eu encontro achados incríveis. Um pequeno capítulo de duas páginas sobre um enterro, um homem que quer fazer um discurso e outro homem cujo chapéu é levado pelo vento é uma das coisas mais sublimes do livro e funcionaria isolado.

Também há passagens problemáticas facilmente identificadas como machismo, no mínimo dos personagens, o que, certamente, não me agrada. Apesar de, no geral, ter gostado do livro, noto que dei 4 estrelas agora, depois de ter dado 5 na primeira leitura. As 5 estrelas eu dei com louvor nas duas vezes em que li "A brincadeira".
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Cris.Aguiar 19/11/2020

Não postergue essa leitura
Nunca tinha lido nada de Kundera, embora o livro "A insustentável leveza do ser" seja famoso; fiquei extremamente feliz por começar por esse.

Foi um presente que ganhei em 2005, mas que só esse ano caiu na minha graça de leitora. O livro foi o primeiro romance escrito por Kundera quando se exila em Paris e traz nele todo o sentimento, a visão poética, acontecimentos históricos em uma escrita peculiar. Se esse livro é um começo do que é Kundera, com certeza lerei outros dele no ano que vem.

RECOMENDO MUITO!
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Devesa 30/01/2021

Gostei!
No início demorou um pouquinho a apanhar o gosto, mas depois adorei! Profundidade de personagens, conceitos muito interessantes e desenvolvidos de forma genial! Recomendo!
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Luca Coelho 27/04/2011

Excelente livro sobre as revoluções que acontecem na vida da gente sem que se tenha total controle sobre elas. Como é um dia você perceber que não faz mais parte da "roda". Como ter que viver longe do seu país, de seus amigos e refazer sua vida. É um livro sobre esquecimento, mas não muito sobre o riso.
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