Jairo.Escudero 24/11/2012
Uma busca pessoal, com trama interessante, que toca em várias feridas de nossas cidades grandes.
A busca do personagem central (sem nome) por uma cantora de sucesso de tempos atrás, chamada Dulce Veiga, constitui o desenvolvimento e o suspense da história, a qual se passa numa só semana (de segunda a domingo). Bem contada, com momentos desvairados de descrições aleatórias, estranhos sonhos e "viagens" malucas, a história prende o leitor, fazendo com que ele queira realmente saber onde anda Dulce Veiga e porque ela desapareceu, há mais de 20 anos. A narrativa também expõe, se bem que sutilmente, pois fazem parte do ambiente habitado e traçado pelo protagonista, vários dos problemas das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, tais como os sem-tetos, as drogas e a violência.
Um dos melhores momentos epifânicos acontece quando finalmente, depois de encontrar Dulce Veiga, ela lhe dá um chá que faz com que, durante a longa alucinação que se desenrola, ele ouça uma voz, sem saber de quem, a qual diz:
"— São tudo histórias, menino. A história que está sendo contada, cada um a transforma em outra, na história que quiser. Escolha, entre todas elas, aquela que seu coração mais gostar, e persiga-a até o fim do mundo. Mesmo que ninguém compreenda, como se fosse um combate. Um bom combate, o melhor de todos, o único que vale a pena. O resto é engano, meu filho, é perdição."
Literatura sempre deve fazer-nos refletir, e a citação acima juntamente com a metáfora do joguinho da gota de mercúrio no labirinto (cujo objetivo é chegar ao centro do labirinto inteira) foram as mais contundentes fontes de reflexão neste livro que, na minha opinião, vale a pena ler.