Sparr 10/02/2023
E seguimos como alvo para as fogueiras dos homens.
De fato, nascer mulher é nascer um alvo. Somos alvos de uma mídia que nos engessa, nos mede e oprime de todas as formas possíveis. Somos alvos de moldes sociais que nos silenciam, restringem, diminuem, oprimem, violentam. Somos alvos das religiões que nos perseguem, dos políticos que nos odeiam, das sociedades patriarcais que nos temem e nos execram. Somos as três faces das deusas. Somos força e fúria da natureza e isso assusta o homem e ele nos limita, nos mata.
O mito da beleza está no esforço de fazer-nos perder a fé, da cegueira que se vende, do padrão que se estabelece como medida de valia. Afinal, em uma sociedade capitalista, somos um produto. A barganha da compra e venda. A moeda de troca. Somos as bruxas, as anciãs, as mães, as sacerdotisas, as freiras, as filhas, as irmãs. Somos uma força universal que não pode ser contida. Mas o homem aprendeu a execrar. Quando não cabemos nos padrões, o sofrimento é tamanho, que nos abandonamos para sentir jm pouco de paz. Nós nos perdemos. A nossa beleza real ficou oculta sob muitas camadas de opressão e existem muitos escombros para remover até que possamos nos reencontrar.
Apesar da potência e da acura em narrar a força do mito, o livro possui recortes, e é preciso ler com a consciência de classe. Ler e entender que ele não abarca todo o feminino brasileiro, todo o feminino mundial. Ele não abarca muitas mulheres. Apesar de, ainda assim, abraçar a todas nós. É preciso cuidado e gentileza ao olhar para os recortes não citados. Por isso, leva quatro estrelas. Mas é, sem dúvida, um livro necessário, denso, mas certeiro, firme em uma luta quase sobrenatural de tão desumana, que é ser mulher e resistir para existir um dia mais.