Tenda dos Milagres

Tenda dos Milagres Jorge Amado




Resenhas - Tenda dos Milagres


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Dtorreshp 18/10/2020

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Um bom livro que expõe discussões pertinentes sobre miscigenação, religião, teorias arianas, ciência, política e muito mais. O livro conta a vida de Pedro Archanjo, homem mestiço defensor da miscigenação no Brasil, como forma de diminuir o racismo no país. O autor retrata a religiosidade e a cultura afro, elementos que enriquecem e estimula o leitor a levar a leitura até o final, porém em contrapartida tive a sensação que a história e a construção dos personagens ficou em segundo plano, em meio a estes assuntos, me causando um certo incômodo na leitura.
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Tiago.Porto 12/10/2020

Um livro cheio de ritmo
Uma delícia de livro pra qualquer um, sem dúvidas, mas certamente ainda mais especial para os admiradores da cultura baiana, da riqueza do povo, comidas, sotaques, religião, etc. Eu lia com sorriso no rosto pensando “sou da mesma terra dessa galera fictícia aqui”.

Jorge Amado é muito gênio! O livro tem ritmo, história, música, poesia, tem drama, romance, comédia e muita muita crítica social ao que se vivia na década de 60 (e que ainda são questões hoje). O livro é sobre Pedro Arcanjo, escritor autodidata que só viria a ser conhecido depois que um pesquisador americano validou suas obras como grandes contribuições anti-racistas, e aí foi um corre corre de aproveitadores dizendo serem melhores amigos do baiano Arcanjo, o Ojuobá, que morreu desconhecido dos críticos (aquele nosso colonialismo rotineiro).

São contados muitos anos da vida e aventuras de Pedro Arcanjo, um amigo fiel e generoso, cheio de amores, que lutou contra racismo e intolerância religiosa, contra polícia corrupta que atuava a serviço da burguesia na época, que era sempre a favor do povo.
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Sa | @umadose.de.literatura 11/09/2020

Livro incrível
Livro com tantas discussões pertinentes que nem sei se consigo listar todas. Jorge Amado tem uma escrita que encanta.
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Pedro Luiz da Cunha 01/08/2020

"Uma reflexão sobre a formação da nacionalidade brasileira"
Escrito em 1969, "Tenda dos Milagres" é um romance "que mostra a importância da mistura e da luta contra o racismo no Brasil" nas palavras do próprio autor.

A história acontece na virada do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. O personagem principal, Pedro Arcanjo é um mestiço pobre que vive na periferia de Salvador. Ao lado de personagens tão cativantes como Lidio Corró e Zabela, desenvolve seus estudos sobre o sincretismo cultural e genético do povo da Bahia. Bedel da Faculdade de Medicina em um momento em que grassavam as teorias do racismo "científico", a exaltação da cultura africana e da miscigenação, presente em seus estudos, golpeia profundamente a elite acadêmica da época.

Depois de sua morte, sua obra é redescoberta por um estudioso norte-americano e em plena ditadura militar, seus livros são incorporados pela elite branca, que transforma Arcanjo em herói nacional idealizado, esvaziando o seu conteúdo político e apagando sua trajetória de vida marginalizada.

Podemos pensar que a obra dialoga com os estudos de Gilberto Freyre que apostou na singularidade brasileira presente da ideia de "democracia racial". No entanto, Jorge Amado trabalha muito bem as desigualdades sociais e o preconceito racial presentes em nossa sociedade. A cultura africana e o sincretismo são exaltados e não diluidos em nome da miscigenação.

Por fim, há que se dizer que a leitura é muito prazerosa, com grandes reflexões. Apesar de pouco conhecida, é mais uma obra espetacular do grande autor que foi Jorge Amado.
Nic 01/08/2020minha estante
Perfeito ??


Chokito Kakarico! 01/08/2020minha estante
Resenha chamativa e atraente. Já quero muito ler


Pedro Luiz da Cunha 01/08/2020minha estante
Obrigado! Vc não vai se arrepender, é uma ótima leitura




Carolina CM 26/06/2020

Reflexivo, truncado...
Temos muitas discussões válidas nesse livro: a ciência x religião, raças, teorias arianas x mestiçagem brasileira, a capacidade de um auto didata escrever um livro de importância, respeito, desrespeito, coragem...também aparece forte a hipocrisia da sociedade quando, ao querer homenagear um gênio local (porque um estrangeiro disse que era um gênio) há inúmeras distorções e uma total falta de vontade de entender realmente essa figura e respeitá-la. Esse é um livro de inúmeras reflexões e críticas. Mas eu senti que nesse monte de reflexão e crítica, a história em si fica subentendida. Ela não é propriamente contada...é totalmente retalhada entre passado e presente e os acontecimentos não tem muita conexão entre si. Você termina achando que entendeu um pouco de quem foi Pedro Archanjo, seus propósitos...mas não muito. O escritor do presente, nem lembro o nome...É um livro que tem o seu valor, claro, mas eu não achei um livro gostoso de ler. Me faltou aquela narrativa gostosa do Amado. Beleza, que venha o próximo: Tieta.
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Eduardo 12/06/2020

'A invenção do povo é a única verdade...
... nenhum poder conseguirá jamais negá-la ou corrompê-la'.
Jorge Amado é o homem da prosa poética e encantada, nunca nenhuma leitura de suas obras esteve abaixo de minhas expectativas, um homem merecedor de sua glória, sem que seja preciso ser destituído de sua própria história, como tentaram com Archanjo.
Pedro Archanjo Ojuobá é do povo e o povo é de Archanjo: um personagem cuja existência e ativismo mantém a sua memória viva e a sua leitura necessária. Como em todos os seus livros, Jorge Amado alcança a excelência através de sua visão crítica e palavreado sensual - simplesmente bom demais.
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Polly 11/06/2020

Tenda dos Milagres: um mesmo Brasil (#116)
Antes de Tenda dos Milagres, eu tinha lido apenas um único livro de Jorge Amado em minha estrada como leitora: Mar Morto. Na verdade, já tinha o lido duas vezes. A primeira, aos treze anos, e acho que por ser tão desinformada e ainda cheia de preconceitos, eu estranhei bastante a sensualidade e a religiosidade (diferente da minha) presentes na narrativa. Na segunda vez que o li, eu já tinha mais de 18 e tinha iniciado minha busca pela quebra dos meus preconceitos. Só então eu soube apreciar a beleza e a sacralidade da escrita de Jorge Amado.

Tenda dos Milagres estava aqui em casa, há anos, saindo da estante e voltando outra vez, só esperando o momento certo para ser lido. E, amigos, querem saber de uma coisa? Eu devia ter lido esse livro muito antes. Pois, que livro espetacular! Uma pena que a realidade descrita nele, mesmo depois de 51 anos, é ainda tão atual. Tenda dos Milagres é nosso Brasil de 2020, sem tirar nem pôr, cheio dos seus preconceitos e intolerâncias e desigualdades e, lamentavelmente, num flerte sem fim com o autoritarismo.

Pedro Archanjo é o nosso herói, que só será reconhecido 25 anos depois de sua morte, e apenas através do famoso estadunidense vencedor do Prêmio Nobel da Paz, James Levenson. Bem a cara do nosso país tupiniquim com síndrome de vira-lata, tão sedento por alguém que o colonialize, não é? No entanto, Archanjo não vai ser verdadeiramente valorizado por aqui, até por que Archanjo é tudo o que nossa elite odeia: mulato, pobre, filho de santo e, além de tudo, um agitador social, transgressor do sistema. As portas da universidade só se abrem para ele para o simples cargo de bedel, mesmo Archanjo merecendo muito mais do que isso.

O conhecido Ojuobá é um intelectual dos bons (autodidata, para dar mais raiva ainda). Um antropólogo daqueles que só Tio Sam pra reconhecer mesmo. Archanjo vai burlar o sistema e mostrar que o que falta é só oportunidades iguais, e o resto é balela de supremacista branco.

Archanjo vai escrever quatro livros, um deles estudando a genealogia das principais famílias da Bahia, livro este que será seu fim em vida e sua glória na morte. Sua obra mostrará e escandalizará à elite baiana mostrando que a miscigenação é a identidade do nosso povo e que, se teorias supremacistas já são absurdas por si só, aqui elas não fazem sentido algum, nem se sustentam.

A morte do personagem é linda e triste ao mesmo tempo. Por desafiar à elite, Archanjo vai perder o pouco lugar que conquistou com o seu mérito. Acabará maltrapilho, numa esquina qualquer, esquecido pela Academia ingrata, mas não estará sozinho. O ojuobá é o exemplo e a promessa de que o povo pode vencer. Ele é a fé e a fonte de admiração de um povo sofrido, seu funeral é cheio de poesia, de amor e de gratidão. E de alegria. Por quê, não?
A religiosidade que Amado descreve é uma das coisas mais lindas que já vi. Amo mesmo como os seus personagens se conectam com o Divino, ainda que eles duvidem de sua existência.

Enfim, Tenda dos Milagres só me confirmou o quanto eu preciso ler a obra de Jorge Amado. Acho que não falei nem metade de tudo o que esse livro me fez refletir. Tenda dos Milagres é, ainda, atual e reflete nossas persistentes desigualdades, sendo superválido lê-lo. Indico sem ressalvas!
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Leonardo 04/05/2020

Pedro Archanjo: um dos grandes personagens de nossa literatura nacional
Já conhecia a obra do Jorge Amado por meio de Gabriela e Dona Flor e seus Dois Maridos. Eu procurava algo diferente dentro daquilo que o autor oferecia e optei por Tenda dos Milagres. Embora seja considerado um romance de cunho regionalista, a exemplo de Dona Flor e Gabriela, Tenda dos Milagres é um romance que se diferencia por ter forte crítica social e por colocar o dedo em uma ferida muito ainda presente no Brasil. O romance aborda a questão da discriminação racial. Em vida, o personagem principal, Pedro Archanjo, era combativo. Pedro era um homem do povo, um praticante das festas que cultuavam os orixás. Ele era amigo dos amigos, mulherengo, estudioso autodidata e não dispensador de uma boa cachaça... enfim, um bon vivant. A partir de seus estudos e livros, Pedro começou a incomodar a elite social e acadêmica. Essas elites se escandalizavam com a teoria de Pedro (promoção da miscigenação das raças como forma de aprimoramento da diversidade racial). As elites se escandalizavam com essas teorias que não eram acadêmicas (havia na época uma forte cultura do bacharelado). Para eles só o que era acadêmico seria considerado um saber. Pedro incomodava, pois era mulato, era bedel (cargo administrativo subalterno na universidade). Para essas elites só o que vinha de fora tinha valor (eles cultuavam o famoso complexo de vira-lata). Eles se apegavam a teorias pseudo-científicas ultrapassadas de cunho racista que pregavam a superioridade da raça branca. Isso era uma forma de manter o status quo, as elites no poder. Pedro Archanjo viveu em uma sociedade que reprimia a cultura popular. Para essas elites tudo o que vinha de mestiços e negros não tinha valor e precisava ser banido. Pedro, enquanto vivo, incomodou muito essas elites com suas teorias e ações. Sua escrita combativa vinha da vida. Ela não era opaca como a retórica dos catedráticos de sua época. Pedro provocou muita polêmica ao provar que não havia nenhuma família inteiramente branca na Bahia. Todos tinham um parente negro na família. Depois de morto, por ocasião dos cem anos de seu nascimento, o famoso intelectual James D. Levenson viu em Pedro um grande propagador do estudo da miscigenação. James veio ao Brasil para conhecer a pátria de Pedro. James Levenson falou muito sobre o brilhantismo de Pedro e, aí, finalmente as elites abraçaram Pedro como um grande pensador. Ou seja, foi preciso que um estrangeiro reconhecido desse o devido valor a Pedro para que gente de sua terra o valorizasse. Mas esse “reconhecimento” foi totalmente torto. Promoveram um outro Pedro à condição de herói da pátria. Retiraram de Pedro todo o seu discurso contra o racismo. Fizeram de Pedro uma figura simbólica esvaziada de seu principal discurso. Políticos usaram os festejos para se auto-promover às custas do homenageado. Mesmo morto, Pedro Archanjo não deixou de sofrer discriminação. Em vida, Pedro morreu pobre, abandonado e não devidamente reconhecido. Quando o reacionarismo não vence um adversário, busca trazê-lo, cooptá-lo para o seu lado. Infelizmente ainda não era para a geração de Pedro um período de mudanças profundas na sociedade racista em que ele viveu. Mas uma forte semente foi lançada. Esse é o maior legado de Pedro Archanjo para as futuras gerações.

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Paizinha 28/04/2020

Todas as vezes que leio Jorge Amado, tenho a impressão de que seus livros têm um só personagem: o baiano.

Não é diferente em Tenda dos Milagres, que, como já se disse, é um canto à miscigenação e ao sincretismo, um belo registro da cultura popular e da ascendência negra - não só dos pobres e marginalizados, mas também dos aristocratas baianos do início do século XX.
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Caser 27/03/2020

Jorge Amado faz de Tenda dos Milagres um manifesto à miscigenação, traço idiossincrático do povo brasileiro: contribuição do Brasil à civilização. Vejo que Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, foi certamente um dos referenciais do autor, além, claro, de vários personagens reais e acontecimentos históricos de sua época.

Ler Amado é um prazer. Seus personagens cativam.

Nessa obra, acompanhamos as aventuras e desventuras de Pedro Arcanjo, ojuobá, olhos de xangô, aquele que tudo vê e tudo sabe. Defensor do povo baiano, mestiço, mestre de encantamentos do candomblé e da palavra. É uma referência a figuras históricas da Bahia, como a do antropólogo baiano Miguel Querino, Dorival Caymmi e do próprio Jorge Amado.
Além do protagonista, outros personagens merecem destaque como o amigo e parceiro Lídio Corró. A menção final a Lídio é uma das passagens mais comoventes do livro; Tadeu Canhoto, filho de Pedro Arcanjo – há referências nessa personagem sobre Marighella (Amado e Marighella foram redatores oficiais do PC do B). Rosa de oxalá, o amor não realizado de Arcanjo; a história surreal e lendária de Doroteia, orixá encapetada, mãe de Tadeu, entre outros.

A meu ver, as partes referentes ao tempo presente da narrativa, sobre o Nobel que se interessa pela obra de Pedro Arcanjo, a aspirante a poetisa Ana Mercedes e o jornalista Fausto Pena, é a parte narrativa mais fraca do livro em relação à riqueza da história de Pedro Arcanjo. Aí o autor desejava apontar as relações de aparência e vaidade da mídia, da publicidade e do meio intelectual da época (1969).

Antes de ler o livro, já tinha visto a minissérie da Globo, de 1985, aliás, excelente. Recomendo também (tem DVD).

Leia o livro e depois a minissérie, e, também, se puder e quiser, o filme de 1979, dirigido por Nelson Pereira dos Santos.
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Camila.Dias 20/02/2020

Racismo colocado em evidência
Jorge Amado aborda a questão do racismo e intolerância religiosa nesse livro, que são altamente importantes e atuais.
Leitura recomendada!
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Dandara 04/02/2020

Tenda dos milagres: candomblé em romance
O livro Tenda dos Milagres nos traz uma visão profunda da persecução sofrida pelos terreiros de candomblé nas décadas de 20 e 30. Para contar esse fato, Amado nos traz vários personagens que misturam características criadas e reais. Uma aula de história necessária e importante.
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yuri29 11/10/2019

Magistral, simples assim.
Nunca tinha lido um livro do Jorge Amado. Confesso que essa obra me deixou marcas importantes. Por exemplo, como o conhecimento é importante para nós. Esse livro é fundamental, e na minha opinião, poderia ser obrigatório nas escolas. Nos ajuda a compreender questões como o desdém das autoridades para com a população no Brasil e como, sempre, mas sempre, as questões sociais eram tratadas como coisa de polícia. Jorge Amado trata com maestria a questão do negro do Brasil, do preconceito, da luta do povo baiano e a perseguição religiosa. É até difícil sintetizar em palavras o significado de uma obra desta magnitude. Recomendo "Tenda dos Milagres" para todo mundo.

OBS: Pedro Archanjo já é meu personagem favorito disparado.
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Thiago275 17/03/2019

Um manifesto antirracista
Tenda dos Milagres é o terceiro romance de Jorge Amado que leio. Na escola, li Capitães da Areia e lembro de ter gostado muito. Ano passado, li O País do Carnaval, primeiro romance do autor, e achei apenas ok. Mas Tenda dos Milagres já mostra um escritor maduro, com um estilo bem marcante e sedutor, embora talvez não muito apropriado para as ultra sensibilidades de hoje em dia.

Acompanhamos a história em duas linhas narrativas diferentes. Em primeira pessoa, acompanhamos Fausto Pena, um poeta, e como ele recebeu a incumbência de pesquisar sobre Pedro Archanjo, personagem quase folclórico de Salvador, bedel da Faculdade de Medicina, que escreveu alguns livros sobre a cultura baiana e sobre a miscigenação brasileira. Ocorre que o Prêmio Nobel Americano James D. Levenson entrou em contato com a obra de Pedro Archanjo e de repente, de autor obscuro e rejeitado, ele virou cult. E, na segunda linha narrativa, em terceira pessoa, acompanhamos a trajetória do próprio Pedro Archanjo.

O jeito como Jorge Amado escreveu o livro é bastante interessante para fazermos uma comparação entre os diferentes momentos que o Brasil passava e de como as circunstâncias podem mudar, e as coisas permanecerem, de certa maneira, iguais.

O livro foi publicado em 1969 e a história de Fausto Pena se passa nessa época (é o tempo presente). Em plena ditadura militar, é interessantíssimo acompanharmos a censura (velada ou não) que havia, principalmente na ocasião em que um seminário sobre Pedro Archanjo e sobre miscigenação foi cancelado, pois daria ensejo a "ideias subversivas". Mas claro que o Governo não teve nada a ver com o cancelamento. Foram os próprios organizadores que, baseados num pensamento bastante sensato, decidiram não levar a ideia à frente.

As homenagens feitas a Pedro Archanjo por ocasião de seu centenário são tão distantes da realidade que chegam a ser cômicas (além de hipócritas).

Acompanhando Pedro Archanjo, conhecemos a Tenda dos Milagres, onde vivia seu amigo Lidio Corró, riscador de milagres, ou seja, pintor de cenas milagrosas encomendadas por devotos que iam entregá-las na Igreja. Mas não era só isso a Tenda. Era um misto de gráfica (onde os livros de Pedro eram impressos), teatro, local de reunião do povo, enfim, uma espécie de faculdade particular.

Em oposição, havia a Faculdade de Medicina, onde Pedro era bedel e muito querido entre os estudantes, mas local onde encontramos figuras odiosas, como o Prof. Nilo Argolo, racista convicto de que os negros eram seres inferiores e toda a sua cultura era inferior. Por ironia, a faculdade de medicina era um lugar onde grassava a anti-ciência.

Em contato com Zabela, mulher idosa, hoje pobre, mas que provém de uma família antigamente muito rica e influente, Pedro Archanjo começa a pesquisar sobre os antepassados de todas as famílias ricas de Salvador e, para surpresa de ninguém, desenha a árvore genealógica de figurões (inclusive Nilo Argolo) sem apagar a linhagem negra que todos têm.

Isso causa um escândalo sem precedentes, mas o que Jorge Amado quer nos mostrar aqui, de maneira lúdica, é que a miscigenação é um traço intrínseco da formação do Brasil enquanto país, não existindo brasileiro (com família aqui há gerações) sem traço de sangue branco, negro e indígena. E, longe de representar um demérito, ai reside a força e a beleza de nosso povo.

Para representar isso, Jorge Amado descreve dois episódios muito significativos. Primeiro, Pedro Archanjo se envolve com uma sueca (que na verdade, era finlandesa). Seu nome era Kirsi, branca como a neve, e o filho deles, de volta à Europa, será o Rei da Escandinávia, com traços de brancos e negros.

Outro episódio é quando um determinado personagem se forma na faculdade e a comemoração envolve uma roda de candomblé e também o can can parisiense. espetacular.

Jorge Amado descreve também a perseguição aos terreiros, à capoeira, tudo que fosse ligado à cultura afro-brasileira, perseguição que, infelizmente, não acabou até hoje.

Eu não poderia terminar essa resenha sem falar da linguagem de Jorge Amado, seu traço sensual e gráfico. Nenhum outro autor descreve a beleza feminina, carnal e angelical, como ele. Mas aqui, o politicamente correto passa longe. Amado chama as coisas pelo nome. Velha é velha. Gorda é gorda. Mulato é mulato etc. As pessoas que enxergam racismo e preconceito nisso infelizmente estão perdendo uma grande obra.

Não atribuí nota 5 por alguns trechos no final do livro, quando Pedro Archanjo já está no fim da vida, que achei prolongados demais sem necessidade. Mas, a despeito disso, o livro é sensacional.
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