Pitaiazul 19/08/2021
A vida é assim
Não me lembro quando tive meu primeiro contato com ?O pato, a morte e a tulipa?, mas sei que me lembrava dele quando perdi meu avô materno. Babai (como eu carinhosamente o chamava) era um homem sorridente e de espírito forte e posso dizer com firmeza que, como neta, temi a morte dele mais que ele próprio. Em resumo da tragédia, ele se foi e por muito tempo não assimilei esse fato. Ainda no processo de luto, por dizer que tinha uma boa recordação dessa história, recebi ?O pato, a morte e a tulipa? de meu namorado que com toda gentileza e empatia que coube no coraçãozinho decidiu me presentear com o livro.
Se há uma definição meramente precisa que posso fazer dessa história é que ela diz tudo que uma alma perdida precisa ouvir. O Pato é um de nossos protagonistas que, depois de um tempo sentindo-se mal, nota uma criaturinha o seguindo e decide perguntar quem é. A tal criaturinha nada mais é que a Morte e depois do susto inicial pato e morte continuam a conversar. É assim que o livro toma seu curso: com diálogos que permitem não só o Pato, mas também o leitor a conhecer a morte e (porque não?!) a vida.
Com cara de literatura infantil essa obra não fala apenas com crianças. Não se surpreenda que aos 20, 30 ou 40 anos você se pegue chorando enquanto lê como o Pato compreende que a Morte não é tão assustadora assim ou como a Morte consegue aprender tantas coisas com o Pato. Erlbruch conseguiu fazer aqui um trabalho atemporal, direcionado para todas as idades e que ensina cada um na sua própria necessidade. O processo de identificação, empatia e compreensão da história quase como um conto pessoal é o ponto chave para essa leitura e a recomendo a qualquer pessoa que esteja aberta a esse processo.
Por fim, posso dizer que durante meu luto pela perda de meu avô somente compreendi a grandiosidade do ciclo da vida ao chegar (em prantos, não se engane) à última página deste livro. A amabilidade e suavidade com que a Morte é explicada me fizeram assimilar a ideia de que a ida de vovô Babai foi um processo tão natural quanto o acordar e que tudo que eu poderia desejar era que, mesmo com a tristeza que eu sentia com a perda, sua vida tivesse sido cheia de tulipas. Porque a vida é assim.