Edilayne 05/01/2017
Lindo e alucinante
Imagine-se sendo mãe, biológica ou adotiva. Agora, reúna todo o seu amor pelo pequeno indivíduo que está com você há algum tempo: os sorrisos, as primeiras palavras, as roupinhas e os beijos melados... De repente, tudo isso é posto em dúvida, incorrendo no risco de ir embora para sempre. Este é o pesadelo enfrentado por Ellen Gleeson, uma jornalista renomada que adotou Will, agora com três anos.
Após receber pelo correio um cartão com a foto de uma criança desaparecida, Ellen encara dolorosa e lentamente a possibilidade de naquela fotografia estar presente, na verdade, o seu filho. O menino da imagem, raptado em seu primeiro ano de idade, se chamaria Timothy, e foi levado de seus pais por um homem que mesmo recebendo a recompensa decidiu não devolvê-lo. As semelhanças entre os dois garotos são inúmeras, mas Ellen não questiona seu coração de mãe e o fato de ter adotado legalmente Will, então não se deixa incomodar. Mas, ao longo do tempo, as dúvidas começam a consumi-la.
A jornalista vai, então, numa busca desenfreada pela verdade, sempre priorizando o conforto de Will, disposta até mesmo a abrir mão – ainda que de forma penosa – de sua convivência com ele para desvendar os enigmas colocados em seu caminho. Seria um sacrifício perder seu filho caso ele fosse mesmo o garoto desaparecido; mas seria menos custoso esconder a verdade uma vez que ela fosse descoberta? Ellen dispôs-se a elucidar isso.
“Olhe outra vez” começa direto ao ponto, e segue nesta linha retilínea durante todas as suas mais de 400 páginas; muitos capítulos se fazem presentes nesta história, separada por curtas páginas, algo que faz a leitura fluir emocionantemente e o leitor não querer parar nem por um minuto de ler mais um, e outro, e depois novamente outro capítulo. A escritora, Lisa Scottoline, sabe bem como amarrar uma trama e não deixar nenhuma pergunta em aberto, pois são muitos os mistérios que surgem ao longo do livro, e em todos eles você se pergunta “isso é impossível, não é?”, mas a autora mostra que esta relação mãe e filho pode estar mais ameaçada do que imaginamos.
Ellen é uma mulher encantadora, inteligente e destemida, além de ser uma mãe gentil e paciente; seus momentos com Will nos fazem criar laços com esta família e chorar – de emoção, alegria ou desespero – a cada nova situação. Os outros personagens são muito bem criados, complementando-se ao longo deste suspense. E, de brinde para nós brasileiros, ganhamos outro personagem apaixonante, chamado Marcelo, o novo editor-chefe de Ellen que originalmente veio do Brasil. As referências brasileiras que a autora coloca na obra, bem como o jeito e as frases ditas pelo jornalista, fazem-nos perceber que a história foi, sim, muito bem planejada e escrita. Agradecemos você por isso, Lisa!
Por fim, depois de muito olhar uma e outra vez pelas páginas do livro a fim de entender se era possível mesmo que coisas tão absurdas estivessem acontecendo com uma mãe tão dedicada, o enlace final da história nos faz questionar o que realmente faríamos. Dividir-se entre a moral, a lei e o coração nem sempre é fácil. Ellen tomou as atitudes corretas, mas até que ponto é justo o sofrimento pertencer a uma só pessoa – muitas vezes a errada, inclusive?
É isso que você vai presenciar neste enredo ao mesmo tempo lindo e alucinante. Um obrigada, mais uma vez, a Lisa, que acalentou meu coração nos primeiros dias do ano com algo assim.
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