Lennon.Lima 02/05/2018
Nessa continuação, O Espadachim de Carvão e As Pontes de Puzur, nos deparamos com o jovem e habilidoso espadachim Adapak, filho das potestades do fantástico e hostil planeta Kurgala, convivendo com sua parceira amorosa, a capitã do navio onde passar a viver escondido dos olhares da população do entorno que certamente ficaria perturbada ao ver figura tão exótica e improvável, Sirara, após os eventos do primeiro volume que o fez se retirar de uma ilha sagrada, local que convivia com um dos seus pais mitológicos, para percorrer os continentes do conturbado planeta atrás de respostas que explicassem a caçada de legiões de mercenários por seu sangue e o porquê de repetirem, incessantemente, a misteriosa palavra “Ikibu”.
Se no primeiro volume a narrativa estruturou-se de modo a contar os principais eventos sem seguir a linha cronológica clássica, início, meio e fim por meio, início e fim, este segundo livro também se esquiva de caminhar por linha reta, apesar dos eventos que envolvem os personagens serem cronologicamente interligados no tradicional molde causa e efeito. Em As Pontes de Puzur há a alternância de arcos, com um capítulo atendo-se as ações do Espadachim no presente e outro, logo na sequência, detalhando as aventuras e encrencas do Ushariani larápio Puzur que transcorreram em geração remota.
E essa forma de conduzir a narrativa considerei mais bem sucedida que na estória anterior. Na citada, entendi que a escolha contribuiu para gerar mais confusão do que saudável estranhamento, embora também tenha conseguido gerar esse efeito, por se tratar de um livro de introdução de um universo muito particular, com espécies, terminologias e mitologia bem distintas. Por se tratar de uma continuação direta, e com isto supõe-se que os interessados tenham lido e aprovado a primeira, essa segunda parte se beneficia por contar com leitores já familiarizados com o universo o que tornaria cabível replicar o modelo adotado no livro de estreia, porque já não precisaria lidar com o entrave que aquela ocasião em específico apresentava e provavelmente lograria melhor êxito, mas aqui decidiu-se trilhar via menos engenhosa e normalmente é que a oferece menos riscos. O que não é uma crítica, afinal, se o objetivo era oferecer uma leitura menos indigesta, creio, como já apontei, que foi bem sucedido e não se tratou de uma simplificação ou empobrecimento narrativo ultrajante.
O curioso dessa continuação é que o verdadeiro protagonista não se trata do personagem que nomeia a série, mas o tal Puzur do subtítulo.
Os capítulos que se dedicam a contar a sua jornada são maiores e com ocorrências mais interessantes, grandiosas, em relação aos perigos que Adapak enfrenta o que pode ser decepcionante pra quem espera ver muito mais das habilidades do espadachim em ação.
Mas eu não considerei isso um problema. Achei extremamente positivo, porque eu tenho predileção por enredos que não dependam única e exclusivamente de um personagem para desenvolver a dinâmica. Quando isso ocorre perde-se o fator imprevisibilidade, aumenta as chances de um prejudicial monotema e da ocasionalidade de inconsistências absurdas apenas para garantir a preservação da estrela maior no roteiro. É quando surgem interjeições do tipo:
“Nossa! Mas que mentira!”, “Como ele sobreviveu?!” , “Como ainda está andando?”.
Não é o caso de se afirmar que todo roteiro que se utiliza de tal fórmula infalivelmente será ruim ou não deveria existir. Claro que há boas estórias nesse molde e que se mostram mais adequadas para contar determinados eventos, mas prefiro que um personagem esteja a serviço da estória do que a estória a serviço de um personagem. E no caso de um universo fantástico como o do Espadachim de Carvão vem mais a propósito um ideal narrativo que permita a introdução de novas figuras e a consequente expansão da mitologia do que um modelo que se restrinja a ficar amarrado em torno de apenas um personagem. Imagine o desperdício e a frustração dos milhares de fãs das Crônicas de Gelo e Fogo ou do Senhor dos Anéis se os respectivos autores optassem em contar essas sagas sob o ponto de vista de apenas um dos protagonistas? Um universo fantástico pede por grandiosidade e para isso, no meu entender, é necessário um enredo que se dedique a desenvolver uma boa gama de personagens, concedendo e retirando espaços de forma equilibrada.
Confira o restante da resenha no Cartola Cultural. Link abaixo:
site: https://cartolacultural.wordpress.com/2018/05/01/resenha-o-espadachim-de-carvao-e-as-pontes-de-puzur/