Nélio 28/08/2021
Um livro incomum. Não parece com os outros de Agatha Christie.
Não há um crime, como um assassinato, por exemplo. A autora aborda temas longe dos que ela já apresentou. Aqui, ela envolve luta de minorias por direitos civis, novos gêneros musicais, movimentos populares anarquistas e socialistas, tudo construído dentro de um plano cujo desejo é a volta ao poder do nazifascismo. Dá para acreditar?
Esse é um dos seus últimos livros. Não sei se a idade – já contava mais de 70 anos - lhe trouxe certo ceticismo, o fato é que ela coroa esta obra com uma visão tão negativa sobre os anos de 1960/70 que incomoda. Considero que ele deve resultar da visão da escritora sobre sua época e das transformações que ela acompanhava à sua volta. Ela não era uma pessoa desinformada. Na própria introdução que faz da obra, ela afirma:
“Essa história é, em essência, uma fantasia. Ela finge não passar disso.
Entretanto, a maioria das coisas que acontece nela também acontece, ou está prestes a acontecer, no mundo atual. Não é uma história impossível – é só uma história fantástica.”
Uau! Uma Agatha visionária, sensitiva, “avant-garde”... O livro está cheio de passagens que parecem ter sido escritas para o hoje!
O enredo em si tem início com um encontro “casual” entre duas pessoas em um aeroporto. Uma garota reclama que está correndo perigo de morte e pede ajuda a Sir Stafford: ela queria o passaporte dele para embarcar disfarçada e poder escapar. O cavalheiro aceita ajudá-la e, depois de tudo pronto, a trama vai se desenvolver até que ele a encontra em uma situação inusitada. Pronto, uma terrível conspiração mundial lhe é apresentada e o que resta é tentar entender o que ocorre para impedi-la.
Há alguns pontos da obra que ficaram truncados, ou sem explicações claras sobre alguns porquês. Em alguns momentos fiquei até pensando que faltava algo, ou uma revisão. Nem isso desmerece a obra, ou justifica uma não indicação de leitura.
Não considero o melhor dela, é claro; mas foi muito bom encontrar-me com um que fugisse do estereótipo de que ela sempre escrevia seguindo uma receita.
Ela é uma escritora que sempre me surpreende!