Joice (Jojo) 29/05/2017
Para lembrar de Kolimá
Meu primeiro contato com Varlam Chalámov foi na coletânea "A Paixão pelos Livros". Em seu depoimento, Chalámov falava de como os livros foram fundamentais para que o ser humano dentro dele ressurgisse após décadas de trabalhos forçados na região de Kolimá, no extremo norte da Sibéria. Ele imprimia tanto fervor e amor às duas palavras que eu imediatamente me apaixonei pela escrita do autor. Além disso, eu nunca tinha ouvido falar em campos de trabalhos forçados na União Soviética, então foi com avidez que agarrei este primeiro volume dos Contos de Kolimá - uma versão primorosa da Editora 34 -, e nunca vou esquecer o que encontrei naquelas páginas.
Após deixar a região da Sibéria, após quase duas décadas de uma situação que eu só posso descrever como a mais completa escravidão - de alma e de corpo -, Chalámov, preso anteriormente por propagação de ideias revolucionárias, voltou a Moscou, mas, ao contrário de vários dos sobreviventes de Kolimá, ele fez questão de registrar tudo o que viveu lá. Até o fim de sua lucidez, ele se dedicou a que gerações inteiras conhecessem a Kolimá onde ele passou parte da vida. E essa sua determinação resultou numa das obras mais magníficas da história humana.
Nas páginas de "Contos de Kolimá" são retratadas as piores situações de degradação às quais uma pessoa poderia ser exposta, mas Chalámov também consegue extrair beleza e camaradagem daquele cenário de inverno hostil. O autor deixa um registro histórico, e não à toa os seis livros de "Contos de Kolimá" são, hoje, leitura obrigatória na Rússia.
Mais do que uma poderosa obra da literatura mundial, "Contos de Kolimá" é leitura obrigatória também para aqueles que valorizam a história.