spoiler visualizarAriel.Albuquerque 27/09/2020
Não terminei.
Essa review é mais um desabafo do que uma carta de não-recomendação. Pelo visto, eu estou na minoria que não gostou desse livro, então não deixem a minha opinião servir como parâmetro; deem uma chance ao livro se vocês acharem que vão gostar, eu realmente espero que a experiência de vocês seja melhor do que a minha.
Então. Eu comecei esse livro sem muitas expectativas, mas tudo parecia ok no início. Gostei da ambientação, a ideia das diferentes dimensões é bem interessante (apesar de eu sentir dificuldade em acreditar que Londres, de todos os lugares possíveis, é o centro desse multiverso), e o protagonista, Kell, tinha potencial pra conduzir a história de um modo cativante, ainda que ao personagem em si falte um pouco de personalidade. A leitura é fácil, os capítulos voam e dentro de algumas páginas somos introduzidos a um elenco de possíveis antagonistas muito promissor. No geral, tudo parecia apontar para uma experiência de leitura no mínimo divertida... E aí, aconteceu: a verdadeira protagonista entrou em cena.
Lila Bard é uma das personagens mais irritantes que eu já li na vida. É a típica protagonista "not like the other girls" que, em uma tentativa pífia de fugir da opressão do patriarcado, acaba reproduzindo os ideia sexistas que tanto deveria abominar.
Veja, Lila é *especial*. Ela não gosta de espartilhos e vestidos porque isso é coisa de garotas fúteis, que se recostam no peitoral de homens maiores e dão suspiros fingidos para seduzi-los. Ela prefere facas e navios a namoricos e maquiagem. Porque claramente, esses são gostos de uma mulher fraca e superficial, e não os traços que uma protagonista badass deve apresentar. Lila é forte, independente, faz o que quer e definitivamente não escuta opiniões alheias - mesmo que essas opiniões sejam pro seu próprio bem. E Lila é esperta, observadora, destemida e corajosa. Ela quer uma aventura e todo esse blá-blá-blá do qual supostamente a gente devia gostar.
Bom, não funciona. Lila é irritante, ponto. Ela tem um complexo de superioridade com relação a outras garotas que beira o ofensivo. Ela raramente mostra alguma consideração pelos sentimentos das outras pessoas e por Deus, a garota consegue ser burra feito uma porta às vezes, apesar da V.E. Schwab tentar com afinco nos convencer de que Lila é esperta e observadora.
Foi realmente tortuoso ler os capítulos narrados por ela, ver a linha de raciocínio que a levava a tomar decisões tão estúpidas. Eu estava torcendo por um desenvolvimento, algo que me fizesse entender o lado dela, mas até mais da metade do livro isso não aconteceu e chegou ao ponto em que se tornou insustentável continuar a leitura porque qualquer divertimento que ela pudesse me prover era imediatamente anulado pelos capítulos da Lila.
Quer dizer, ela chega em uma dimensão diferente, sozinha, depois de ter usado uma ferramenta mágica desconhecida e perigosa, e ela só... sai andando por aí? Alegando que Kell "a encontrou uma vez, ele pode encontrar de novo". Garota???? E quando Kell ousa apontar que isso foi impulsivo e imprudente ela tem a ousadia de se sentir... Ofendida??? Não dá pra mim. Eu até consigo ler sobre personagens que eu não amo, se a história for realmente boa, mas uma personagem insuportável nesse nível? E ter que assistir Kell se apaixonar por ela, por algum motivo inimaginável? E elogiá-la como se ela não fosse detestável e insensível e egoísta? E depois ler mais DOIS livros desse ponto de vista? Não, eu não me odeio a esse ponto.
Então é, Um Tom Mais Escuro de Magia tinha potencial, mas, infelizmente, por causa da protagonista, eu nunca conseguirei terminar essa leitura. Mas, de novo, minha opinião não deve ser usada como parâmetro. O livro ainda tem muitos pontos positivos, como eu disse, o world building é bem feito, tem uma premissa original, alguns personagens interessantes (Holland vem à mente). Se você conseguir olhar além da bagunça que é a Lila, então provavelmente vai ser uma leitura prazerosa. Eu não consegui, mas vai que, né?