Mayla Viviani 08/02/2016
Na noite de seu aniversário, dia 21 de Dezembro de 2012, Regina Brandão, presidente dos Laboratórios Brandão, localizado em São Paulo, flagra seu marido Maurício com sua melhor amiga Vanessa. Naquele momento ela descobre que seu casamento aconteceu apenas por interesse, era tudo mentira, seu marido não a amava e Vanessa não era sua amiga de verdade, não era a pessoa que ela imaginava. Em um momento de raiva, Regina comete um ato terrível e em seguida tudo, literalmente, se apaga.
Momentos depois Regina acorda em um ginásio escolar; confusa, ela não entende porque todas aquelas pessoas estão deitadas ali, algumas acordando assim como ela, outras repetindo sem parar que a profecia havia se cumprido, que agora viveriam em um novo mundo, haveriam novas regras, agora todos teriam duas vidas.
Então Regina se lembrou de seus sonhos. Em seus sonhos o mundo se tornaria outro; neste novo mundo não haveria doenças, desigualdade e morte prematura. Seriam duas vidas, uma até os 70 anos e depois outra dos 20 aos 100 anos, somando um total de 150 anos, nenhum minutos a mais, nenhum minuto a menos. Então Regina, com 45 anos, ainda teria mais 25 naquela vida que havia acabado de começar.
Conforme os anos vão passando, Regina conhece novas pessoas e faz amigos, uma em especial, Lúcia, uma mulher muito mais jovem que ela, mas que compartilham do mesmo ideal: manter o segredo da mortalidade.
Durante os anos que se passaram, Regina cuida da filha de Vanessa, Maria Eduarda, mas assim que Duda completa 18 anos ela desaparece pelo mundo, voltando anos depois. Sua visita a Regina não se tratava de apenas uma visita, ela havia ido até a casa de Regina para deixar sua filha Larissa a seus cuidados abandoná-la, para poder "curtir" o resto de vida que ela ainda possuía. Mesmo não se dando bem com Duda - havia cuidado de Duda apenas por desencargo de consciência - este foi o maior presente que Regina poderia receber, uma neta, ela amava Larissa, uma menina forte assim como ela, que não desistia de seus ideais.
A humanidade começa a ficar entediada com o novo mundo e encontra uma forma de burlar as regras, eles inventam a Tabela Universal de Valores, a TUV, quem possuía uma vida social mais "badalada", que era medida pelo número de postagens na rede social happiness book ou tinha o melhor emprego e a melhor qualificação neste emprego, era considerada um pessoa de status social alto.
A humanidade que deveria viver de forma pacífica e igualitária, começa a viver em clima de competição, beirando a obsessão, para ver quem fica com a maior pontuação na TUV, outras ainda buscando o segredo da mortalidade, e outras prejudicando todos ao seu redor para se dar bem, para chegar ao topo.
"Tenho nojo dessa raça humana! - ele havia dito muitas vezes naquela noite. - Essa tal reputação que os homens lutam a vida inteira para manter não passa de uma fantasia. E essa benevolência que se ouve falar só existe para satisfazer interesses pessoais. No íntimo, todos pensam apenas em si mesmos."
Os anos passam, Regina completa 70 anos e é teletransportada para outra vida. Larissa se torna uma mulher, se casa e tem uma filha, Vitória. Vitória possui o mesmo gênio forte da mãe. Na adolescência, por rebeldia, Vitória começa a "andar" por caminhos errados, no entanto, tudo muda quando conhece Ricardo Almeida, pai de sua melhor amiga Isabel, um empresário bem sucedido e misterioso que se torna uma pessoa muito especial para Vitória.
"Não insistiu. E eu acho que um homem que não insiste um pouquinho para se tornar especial na vida de uma mulher não merece muito mais do que uma sutil indiferença. A vida se encarregou de nos apresentar e ele teve oportunidade de se fazer importante, mas deixou passar. Então, ok. Passou. Perdeu o timing e aí ficou difícil da relação evoluir."
Nesta época a moda são os pseudônimos, artistas famosos que não revelam o nome verdadeiro para os fãs, e o artista pseudônimo do momento é o Mr. Queen, que ninguém faz ideia de quem é, considerado um deus para muitos, mas que está longe de ser um bom exemplo para qualquer pessoa.
No entanto ainda há uma esperança para a humanidade, um grupo de pessoas que ainda segue os preceitos revelados a elas naquela fatídica noite de 21 de dezembro de 2012, pessoas boas, que iram fazer de tudo para que a humanidade enxerguem a grande chance que tiveram para se tornarem melhores.
Pseudônimo Mr. Queen é narrado em terceira pessoa, dividido em três partes, cada parte focando em uma personagem, Regina, Larissa e Vitória. Uma distopia sem muita ação, focando mais nas discussões sobre o ser humano, levantando questões que nos levam a refletir sobre a atual sociedade: até onde iremos chegar se continuarmos com essa sede de poder? Quando vamos parar para pensarmos nos outros? Será que realmente somos felizes?
Gostei muito do mundo criado pela autora, como por exemplo, a mudança no nome das cidades, São Paulo, por exemplo, passou a ser Alberto Pereira as cidades ganharam os nomes dos seus governantes. Gostei também da autora criticar, de certa forma, essa necessidade das pessoas de postarem sua "vida perfeita" nas redes sociais, de ficar obcecado por ter que receber um número "x" de curtidas para se sentir uma pessoa completa e também sobre a discussão da depressão, uma doença muito presente nos dias de hoje.
Apesar de possuir um enredo lento, sem muita ação, possuindo apenas uma pitada de suspense, Pseudônimo Mr. Queen foi um livro que me surpreendeu, uma leitura que recomendo a todos que gostam de discussões sobre a sociedade, sobre o mundo, sobre a forma que vivemos.
site: http://www.tudoquemotiva.com/2016/02/pseudonimo-mr-queen-loraine-pivatto.html *** http://www.aartedeescrever.com/2016/06/03/pseudonimo-mr-queen-loraine-pivatto/