Domenica Mendes 30/08/2016Quem não se lembra do temível 21 de dezembro de 2012, dia em que o mundo iria acabar?
Independentemente da crença pessoal, sobrevivemos e o mundo não mudou em nada, apenas mais um dia após o outro.
Já na segunda obra de Loraine Pivatto, “Pseudônimo Mr. Queen” não foi bem assim.
A Profecia Maia e uma ideia legal
No livro “Pseudônimo Mr. Queen”, Loraine Pivatto utiliza essa passagem de fim de mundo para começar o enredo de sua obra. Nessa obra de ficção, os personagens se vêem sobreviventes da Profecia Maia, porém em um mundo com novas regras.
As regras são simples: nesse novo mundo não existirão diferenças sociais, doenças e mortes prematuras. Os sobreviventes continuam suas vidas com a idade que tinham quando o mundo mudou, vivendo até seus 70 anos. Quando alcançam essa idade, uma nova vida começa aos 20 anos e ela durará até que a pessoa complete 100 anos de vida, nem um segundo a mais. Ao todo, são 150 anos de vida.
O mundo parece perfeito e todos poderão ser felizes. Será?
A reflexão
“Pseudônimo Mr. Queen” é um livro que oferece diversas possibilidades de reflexões em seu enredo. Para começar, os sobreviventes se veem obrigados a viver por mais 150 anos sem a possibilidade de morrer. Embora isso pareça interessante, não podemos esquecer que a maior parte das pessoas que eles conheciam já não estão mais ali. Além disso, o mundo é novo, mas as mentes são velhas, a própria adaptação para as novas regras levará tempo e exigirá um esforço por parte de quem ficou.
Eles estão livres das desgraças do mundo e da vida, mas em troca não podem morrer e não podem mais agir como agiam no mundo com o qual estamos acostumados, onde existe relação de troca com dinheiro, status social, conforto diferenciado e tudo o mais que se quiser. Igualdade ao extremo é a palavra de ordem aqui e tudo o que é extremo acaba mais atrapalhando do que ajudando.
Dentro dessas regras, vemos personagens que seguem suas vidas e logo se percebem diferentes: existe sim uma forma de morrer, apenas uma. Eles sabem qual é e estão dispostos a esconder esse segredo de todos, para o bem geral.
São esses personagens que vivem onde foi a cidade de São Paulo que acompanhamos durante todos os 150 anos e seus descendentes, em uma história que segue e onde os acontecimentos acabam se cruzando.
Análise Crítica
“Pseudônimo Mr. Queen” merece um destaque especial às reflexões que são oferecidas pela escritora. Os personagens também são cativantes e facilmente acabamos nos interessando por eles.
As frases não são muito longas, porém pela estrutura de escrita é preciso prestar atenção pois é possível se perder nas cenas onde os personagens começam a pensar no passado, diante de uma tomada de decisão importante para eles. O desfecho da primeira parte da história de Victória Brandão e Vicente, por exemplo, me deixou confusa e precisei voltar para reler depois de algumas páginas.
Dentro da obra existe mistério, ficção científica e romance. Existem clichês e existem pontas que se cruzam. Existe também inovação, mas ela não está presente na parte dramática do núcleo central da obra. Nesse aspecto, acabamos facilmente imaginando o que pode acontecer, o que pode causar algum desconforto no leitor. A parte que mais me desagradou foi a revelação sobre a origem do personagem Paulinho, cheio de violência que julgo desnecessária dentro do universo da literatura.
Em “Pseudônimo Mr. Queen” temos vilões e temos mocinhos e mocinhas. Infelizmente, os vilões acabam tendo um final que exige uma interpretação muito pessoal para saber se aprovamos ou não. Isso pode parecer inovador, contudo da forma como o personagem é construído, achei que faltou um pouco mais de decisão sobre o seu destino final.
Loraine acertou em cheio ao criar as características dos personagens. Temos pessoas diferentes, em idades diferentes, com mentalidades diferentes. Conforme vamos acompanhando seu crescimento e amadurecimento, com alguns nos afeiçoamos mais e com outros menos. Mas o ponto acertado da escritora é mostrar como a humanidade é feita por gente, não apenas por regras. Assim, mesmo dentro de uma sociedade absurdamente igualitária, sempre existirão diferenças, devido à individualidade.
Outro ponto que gostei é que acompanhamos todos os primeiros 150 anos dentro da obra. Como é um espaço de tempo muito grande, se acompanhássemos apenas uma personagem o livro ficaria maçante e insuportável. Assim, acompanhamos três gerações e é interessante ver como elas se cruzam.
Por fim, o Mr. Queen é uma surpresa à parte e a revelação de sua identidade, realmente é algo que surpreende. Não há como prever, pois não existem sinais na obra que levem o leitor a juntar peças. Essas peças, não são indicadas.
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http://leitorcabuloso.com.br/2016/08/pseudonimo-mr-queen-book-tour-loraine-pivatto/