Marcos Pinto 05/05/2016Uma ótima continuaçãoSabe aquela história de que tamanho não é documento? Marcelo Antinori mostra, mais uma vez, que esse ditado popular é verdadeiro. Novamente, com um livro pequeno, mas muito bem construído, ganha o leitor sem qualquer dificuldade. Como? Confira abaixo.
Outra vez, há um narrador-protagonista, o mesmo do primeiro enredo. Ele é empresário corrupto, visto que paga propina para integrantes do governo a fim de ganhar licitações. Não apenas, ainda tem envolvimento com Coutinho, chefe do tráfico da região central de SP. Está pouco? Tem mais. O narrador é casado com Luciana, mas é amante de Ana Pérsia, uma mulher que ganha um salário “por fora” vendendo drogas.
Apesar de não ter uma vivência dentro dos “padrões”, o narrador está com sua vida acertada. O casamento vai bem, os filhos, idem; os negócios estão ótimos e ele já consegue vislumbrar um futuro ainda mais próspero. Porém, quando tudo parecia perfeito, um defunto aparece na Praça da Sé, centro de São Paulo, área de Coutinho, o que incomoda muita gente. Pior: o assassino é sádico e dança na cena do crime. A partir daí, a vida do narrador começa a mudar.
“São Paulo despertou no meio da madrugada com um corpo retalhado no Marco Zero da cidade. Os pedaços ensanguentados estavam empilhados dentro de um carrinho de supermercado bem no centro da Praça da Sé. Por baixo, o torso sem cabeça protegido por um plástico azul empapado de sangue” (p. 7).
Partindo dessa premissa, Marcelo cria um livro bom e envolvente, principalmente por causa da verossimilhança. Afinal, basta fazer um check-in para perceber a realidade presente na obra: 1. Empresário corrupto se aproveitando da máquina pública: confere; 2. Empresário envolvido com o crime organizado: confere; 3. Político corrupto: confere; 4. Tráfico de drogas agindo com liberdade em uma grande cidade: confere; 5. Pessoas vivendo de aparências: confere. 6. A família tradicional brasileira composta de homem, mulher, filhos e amantes: confere. Preciso dizer algo mais?
Além da semelhança, outro ponto alto da obra é a boa construção dos personagens. O narrador é totalmente real, possível, aprofundado e consegue cativar o leitor, mesmo com sua vida não muito honesta. Ana Pérsia, peça fundamental no enredo, é uma mulher inteligente, forte e que toma as rédeas da própria vida, o que foge daquele clichê de mocinha indefesa. Além desses, ainda temos figuras marcantes como o Coutinho, o velho que toca violino na Praça da Sé, Luciana...
Se isso não fosse o suficiente, o autor ainda brinda o leitor com uma escrita rápida, chamativa e direta. Por sua diminuta quantidade de páginas e escrita acessível, o livro pode ser em algumas horas, o que torna tudo mais viciante. As páginas são devoradas e queremos saber sempre mais sobre o enredo e os personagens.
“Ana Pérsia conversava sobre os pontos de droga com a mesma naturalidade com que minha mulher conversava com as amigas depois das partidas de tênis. Curiosamente aquilo não me incomodava” (p. 13).
Quanto à parte física, o livro segue o padrão da obra anterior: tamanho de bolso – visto que o objetivo é criar pequenas leituras para serem desbravadas no transporte público –, páginas brancas e diagramação simples. Uma capa bonita e uma ótima revisão também continuam fazendo parte do repertório.
Diante desses aspectos, só me resta indicar a obra. Leiam, pois vocês não irão se arrepender. Para quem gosta de um suspense leve e uma leitura rápida, a obra é mais do que indicada.
Adendo: É possível ler esse livro mesmo sem ter desbravado o anterior. Apesar dos personagens serem os mesmo, os enredos são independentes.
site:
http://www.desbravadordemundos.com.br/2016/05/resenhadancarinodase.html