Blog MVL - Nina 23/06/2011
Blog: Minha Vida por um Livro | Marina Moura www.minhavidaporumlivro.blogspot.com
Cassandra Clare é o novo nome da literatura fantástica. Com seu estilo sarcástico e refinado, tem levado milhares de leitores por todo o globo à loucura com a saga que conta a batalha travada entre nephilins (descendentes de anjos), e demônios. E acima de tudo, uma história de amor que comoveu a todos.
Dizer que Clare é ousada seria subestimar seu trabalho produzido até aqui, em apenas uma obra ela aborda tópicos como homosexualida, incesto e religião. Definitivamente uma autora que não tem medo de desenvolver suas idéias livremente, penso que deve ter sido difícil para os editores cortarem ou indicarem um caminho à Cassandra. Não acho que ela concederia esse direito a ninguém.
Em Cidades dos Ossos, primeiro volume da série publicado em 2010, o leitor foi introduzido ao universo dos Caçadores de Sombras. Nephlins (humanos híbridos de anjos) que protegem e guardam a sociedade “sobrenatural”, tudo aquilo do qual nós mundanos (na expressão criada pela autora) não podemos nos defender. Vampiros, lobisomens, fadas e bruxos. Eles são a grande CIA desse universo fantástico. Conhecemos também a protagonista Clary, aparentemente uma humana comum que após o ataque à sua mãe, descobre que pertence a uma longa linhagem de Caçadores de Sombras e que é filha do grande vilão da história desse mundo, que até então lhe era desconhecido. Clary conhece Jace, ambos se apaixonam e em seguida descobrem que são irmãos. Cidade dos Ossos termina concedendo a seguinte perspectiva a seus leitores: Valentim (pai de Clary e vilão nazista) está de volta e com o objetivo de governar o mundo, a Clave pode não ser suficiente para impedi-lo. Clary e Jace devem lidar com a realidade de que o amor que compartilham é o mais proibido e condenável de todos.
Existe, em qualquer vertente e gênero da literatura, uma linha tênue que separa o bons livros dos maus livros, ou apenas, o bons escritores dos maus escritores. O equilíbrio entre descrever em excesso ou não liberar suficientemente detalhes da história, a caracterização de personagens autênticos e carismáticos que consigam guiar o leitor pela narrativa sem se sentir enfadado,é o que decidirá se uma obra foi ou não escrita por uma mente habilidosa. Eu então afirmo que, literariamente, Cassandra Clare é capaz de transitar por essa linha com destreza e talento. É admirável a forma com que a autora consegue administrar e manipular as emoções e pensamentos do leitor.
Cidade das Cinzas é a colossal continuação da saga Os Instrumentos Mortais. Neste novo momento da estória,Clary descobre alguma novas características sobre si mesma,tenta lidar com o triângulo amoroso que lhe foi imposto pelo irmão Jace e o melhor amigo Simon. Apesar de algumas ácidas críticas sobre o romance entre dois irmão, assumo que o fato não me incomodou por questões morais ou religiosas,me ressenti da situação por querer que os dois protagonistas ficassem juntos. Obviamente, tive meu desejo negado.
Os personagens são tão carismáticos e interessantes quanto o próprio conceito do universo extraordinário criado por Cassandra. Magnus Bane é um dos meus personagens favoritos na série,a empáfia e o humor sagaz me fizeram dar boas e gostosas gargalhadas. E o romance protagonizado entre o bruxo e Alec é simplesmente delicioso de se acompanhar. A homosexualidade é cuidadosamente explorada, e obviamente um conflito real para Alec,que deve considerar revelar esse aspecto de sua natureza aos pais algum dia. Apesar de o livro ser de Fantasia,neste aspecto em especial o dilema vivido pelo personagem é tão real quanto o de muitos jovens por aí. Eu,pessoalmente,não me incomodei com o relacionamento amoroso e obviamente sexual entre Magnus e Alec,e me descubro torcendo ferozmente para que eles formem um casal à sério nos próximos livros.
Algumas pessoas me questionaram porque sou tão apaixonada pelo personagem Jace e eu ainda me surpreendo e penso “O que há para não gostar?”. Após pensar cuidadosamente sobre o assunto, cheguei à brilhante conclusão. Eu me identifico com Jace. Sinto uma intensa e profunda empatia pelo menino que ele foi,torturado pelo Pai,e depois pelo jovem que apesar de forte e capaz,não sabe ao certo onde e com quem é o seu lugar. Jace aparenta ser rude, charmoso, arrogante e impertinente. E eu não nego que ele o seja. No entanto a característica mais pronunciada e latente no personagem é a carência. Jace não sabe o que é ser realmente amado e cuidado. As pessoas mais sensíveis que você vai conhecer na sua vida são aquelas que usam máscaras. Proteções que lhes permitem sobreviver. Esse é Jace. E quando pela primeira vez ele realmente quis algo, seu desejo escapou entre seus dedos. Ela amou Clary praticamente desde a primeira vez em que se viram, e descobriu que esse amor jamais poderia se concretizar porque ambos compartilhavam o mesmo DNA. Tudo o que afirmei nasce da minha percepção individual do personagem, está além dos diálogos e do que a autora revela sobre Jace.
Clary é uma protagonista admirável. Determinada, impulsiva e ao mesmo tempo frágil e vulnerável. De uma perspectiva analítica, ela é a típica moçinha que “vende” bem na literatura. Próximo ao final do livro, a personagem faz escolhas e realiza coisas que ela nem mesmo se imaginava capaz. A Clary que conhecemos na boate Pandemoniom em Cidade dos Ossos já não existe. Ela amudereceu e seus talentos também. Cada vez mais a protagonista assume seu papel de guerreira e tenho a sensação e a certeza de que ela será o maior trunfo contra Valentim.
Cidade das Cinzas é ação, sem espaço para tomar fôlego. O ritmo da narrativa se estabelece em momentos de extrema tensão e lutas, não há descanso, nem para os personagens e muito menos para os leitores. O final poderá partir os corações mais frágeis e instigar as mentes mais aguçadas, já que várias pistas para o próximo livro foram lançadas. Basta que cada um crie suas próprias teorias agora e boa sorte ao tentar descobrir o que a mente insidiosamente brilhante de Cassandra Clare ainda vai aprontar.