Ivy (De repente, no último livro) 01/02/2019
Resenha do blog "De repente, no último livro"
Aqui conheceremos Rachel, a segunda irmã Walsh. Rachel é uma mulher independente, moderna, que há muitos anos vive em Nova York, dividindo apartamento com sua melhor amiga Brigit. Quando Rachel sofre uma overdose, a família Walsh decide intervir e forçar Rachel à voltar para a Irlanda. Mas não é apenas isso: Rachel deverá se submeter à três semanas de internação no Claustro, uma famosa clínica de tratamento para dependentes químicos. Rachel se recusa a enxergar-se como toxicômana. Para ela, é tudo um grande mal entendido. Porém, conforme os dias no Claustro vão passando, Rachel descobre que há mais de si mesma do que ela imagina. Sem amigos, sem namorado e sem emprego, Rachel precisa reavaliar sua vida, ser forte e assumir de uma vez por todas suas falhas.
O que mais gostei em Férias! com certeza foi a sensibilidade com que o tema da dependência química é tratado. Marian Keyes foge dos estereótipos e consegue trazer ao leitor uma história verossímil, que possui toques de drama e ternura. Uma mensagem sempre de esperança, capaz de fazer rir em certos momentos mas também que, acima de tudo, nos permite refletir e entender o que é a luta diária que algumas pessoas enfrentam tentando combater seus próprios vícios.
Eu amei o detalhe de que Marian não inclui apenas dependentes químicos no rol de seus personagens, mas também insere de maneira sucinta os viciados em jogos, em comida, os compulsivos em tantas coisas. A autora também abre um caminho para falar sobre disturbios alimentares, e com inteligência e sagacidade consegue fazer o leitor entender conceitos até mesmo complicados para um leigo no assunto, sinais e detalhes da dependência onde fica claro a experiência e segurança de Keyes ao discorrer sobre o tema. Depois de ler fiquei sabendo que a própria autora também foi durante anos alcoólatra, e só posso imaginar que muitas das experiências narradas possam ser, até certo ponto, baseadas em si mesma e em seu caminho pela recuperação.
Eu senti uma maior maturidade em sua narrativa nesta segunda parte. Os personagens me pareceram mais bem elaborados, e a trama me pareceu melhor cuidada. Em Melancia, a protagonista Claire fica dando voltas e mais voltas na mesma situação absurda. Já em Férias!, conseguimos acompanhar uma evolução tocante e notável no personagem de Rachel, o tipo de descobrimento que vai envolvendo o leitor, nos fazendo torcer por sua protagonista até o final.
Rachel não é nada fácil, mas é difícil não se apegar à ela justamente por isso. Rachel é humana, cheia de falhas, vícios e carências. Ela reage de maneira agressiva, pode ser egoísta e permite que o leitor entenda o que foi chegar ao fundo do poço. Mas essa mesma Rachel também sabe ser engraçada, carismática e frágil, até o ponto em que queremos colocá-la dentro de uma caixinha se possível para protegê-la do mundo malvado. E o grande trunfo de Keyes aqui foi esse: trazer-nos uma protagonista que condiz à perfeição com a realidade da situação narrada. Todas as atitudes de Rachel são coerentes, transformam seu drama em algo realista e duro.
Foi lindo ver como a literatura é poderosa, podendo abordar temas tão dífíceis de maneira leve, usando de uma linguagem que permite ao leitor compadecer-se sem julgar, sem criar nenhum pré conceito acerca da realidade dos personagens apresentados.
Como já disse acima, meu maior porém com o livro segue sendo a quantidade de páginas. Apesar da história de Rachel ser infinitamente melhor escrita do que foi a história de Claire em Melancia, sigo sustentando que ambos os livros possuem páginas em excesso. Férias! por exemplo poderia ter tido, no mínimo, 70 páginas à menos.
Outro ponto que me incomodou foi justamente a tal família Walsh. Em Melancia as atitudes da mamãe Walsh e de uma das irmãs, Helen, já havia me tirado um pouco do sério. Aqui ambos os personagens seguem sendo intragáveis. Helen continua sendo uma pirralha babaca, egocêntrica, arrogante e mimada. E a mamãe Walsh, na minha opinião, segue sendo uma senhorinha tola e vazia. Certamente, a minha decisão de não seguir lendo a série apesar de ter me saído melhor neste segundo livro foi justamente por conta desses personagens. Acho que não poderia lidar com mais Helen e mamãe Walsh, além disso não tenho curiosidade e nem interesse em conhecer o destino do restante das irmãs. Sorry.
De qualquer maneira, em termos de chick lit, acho que Férias! foi uma das leituras que mais gostei. O final foi encantador. Cheio de esperança e boa vibe, Marian Keyes deixou uma linda mensagem de superação nos capítulos finais através de seus personagens. É particularmente comovente acompanhar a trama pois a história não se trata apenas de uma viciada em cocaína, mas me parece muito mais profunda que isso. Há uma lição sobre recomeços, sobre perdoar e perdoar-se que me pareceu necessária e correta.
Algo que me surpreendeu foram as cenas mais apimentadas inseridas na história. Confesso que por ser chick lit não esperava encontrar algumas cenas de tom mais hot. Não chega a ser nada exagerado ou vulgar, estão até que bem inseridas na trama, mas, já deixo aqui o aviso de que esse não é um livro de teor juvenil, já que apresenta um tema sério e carrega cenas que o caracterizam como um chick lit mais adulto.
Apesar do teor mais duro da trama, achei Férias! mais engraçado que Melancia. As sacadas de Rachel, sua espontaneidade e sagacidade surpreendem o leitor, e os outros personagens secundários também ajudam bastante à sustentar a trama.
Apesar de não ter gostado nada de Melancia, recomendo ler a série na ordem, já que Férias!, apesar de não se centrar na mesma protagonista de Melancia, nos revela alguns pequenos spoilers da trama anterior. Além disso, há detalhes sobre a família Walsh que são mais evidentes em Melancia, e em Férias! ficam apenas um pouco mais ressaltados, portanto, dá pra concluir que a trama deste parte da idéia de que o leitor já leu Melancia.
Férias! foi uma leitura que, apesar de não ter me conquistado, me surpreendeu, já que não esperava gostar como gostei. Como já disse, é uma história escrita com uma sensibilidade ímpar, que se faz nítida em cada capítulo. E apesar do seu grande número de páginas, possuí essa magia de prender o leitor na história, nos fazendo sentir e sofrer ao lado de seus personagens, ansiosos pelo desfecho de cada um.
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