Outros cantos

Outros cantos Maria Valéria Rezende




Resenhas - Outros Cantos


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Tati 06/03/2016

Outros Cantos, Maria Valéria Rezende
Quando eu tinha uns 13 ou 14 anos, estava sentada perto da secretaria do departamento de Letras na Universidade Federal de Sergipe. Estudava no colégio de Aplicação e estava esperando a professora que fazia estágio em inglês para tirar uma dúvida. Ouvi uma conversa que me marcou profundamente e, de certa forma, me persegue desde então. Um aluno relatava ao professor que um geólogo estrangeiro, ao visitar o sertão nordestino, disse já ter visto muitos desertos em sua vida, mas habitado daquele jeito era a primeira vez. A maioria dos desertos tem população nômade porque seres humanos não aguentam ficar naquele solo durante muito tempo. Não sei a veracidade dessa informação. Na época não tinha internet para pesquisar e essa fala povoou meu imaginário por muito tempo. Sou filha de gente do sertão. Então, entender porque esse deserto é habitado sempre foi uma constante nas buscas sobre minha identidade. Como aquelas pessoas tinham raízes tão fortes em uma terra que tem por hábito rejeitar? Minha (mini) biografia aí do lado dá uma pista: com o tempo eu aprendi que podia levar o sertão para qualquer lugar do mundo. Ele está dentro de mim. A literatura de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Francisco Dantas e Antônio Carlos Viana me ajudaram a entender o que isso significa. Agora que eu estou morando em outra região, tão distante daquilo que eu conheci primeiro como casa, Maria Valéria Rezende aparece para lembrar que sim, o sertão finca raízes fortes dentro da gente. É um pouco sobre isso que fala seu mais recente livro, Outros Cantos.

Para continuar lendo: http://www.nopaisdasentrelinhas.blogspot.com.br/2016/02/outros-cantos-maria-valeria-rezende.html

site: http://www.nopaisdasentrelinhas.blogspot.com.br/2016/02/outros-cantos-maria-valeria-rezende.html
Rafael.Barroso 26/03/2016minha estante
Sua resenha me fez ficar com ainda mais vontade de ler esse livro, Tati! Saudades de você no snap falando sobre literatura e psicanálise!


Ana Carla Quintanilha 03/12/2017minha estante
Que emocionante a sua fala! Eu, que nunca estive no sertão, vim aqui em busca de ajuda pra entender e continuar lendo essa obra. Sua resenha me encantou.


Paizinha 10/03/2020minha estante
Estou lendo outro livro da Maria Valéria Rezende: Quarenta Dias. A personagem principal também é nordestina, como nós.




Thalyta Vidal 23/06/2023

"Outros Cantos", de Maria Valéria Rezende
"Pra ler o quê, aqui? Só se for marca de ferro em lombo de boi... Carece de ler não, toda velha sabe de cabeça"

Uma narrativa "on The road" que evidencia, mais uma vez, o caráter nômade das obras valerianas. Em "Outros Cantos", a nossa viagem será num ônibus, junto à protagonista, rememorando suas vivências na cidade de Olhos D'água. Como de costume, Rezende traz, para essa obra, as vivências interioranas, mostrando os ensinamentos aprendidos por alguém que ali foi para ensinar. Carregado ora de humor, ora de ironias, ora de denúncias, a romancista - através do relato de uma professora aposentada que decide alfabetizar jovens e adultos numa pequena cidade- nos revela a vivência de outros cantos, que, de tão pequenos têm como marca o esquecimento. Na trama, o (des)interesse governamental ao assegurar políticas de alfabetização, bem como o conhecimento e a persistência do povo vão nos sendo apresentados por meio da "contação de histórias" tão comuns à autora. Saímos de "Outros cantos", como se estivéssemos permanecido sentados, com uma caneca de café, em um tamborete na porta de uma casa, ao ouvir a voz do tempo e da experiência propagar suas histórias. É assim que me sinto quando leio Maria Valéria Rezende, numa roda de conversa, cujas histórias não são apenas narradas aleatoriamente, mas que carregam uma série de problemas sociais e, aqui, o homem da pequena cidade é reduzido ao voto, bem como as crianças não merecem uma escola, pois ainda não podem exercer sua cidadania por meio do voto, prática essa naturalizada: sabem quem é o candidato do prefeito? Claro que sim, filho e neto de prefeitos. Vocês acham que está certo? Certíssimo, pois, se ele não ajudar nem a família dele, a quem mais é que vai ajudar? (p.143). Dessa forma, os limites entre ficção e realidade são rompidos, constituindo uma teia no romance que, mesmo emaranhada, é percebida pelo leitor. Educação libertária, descaso governamental, sabedoria popular e resistência são temas que percorrem essa obra. Ah, um adendo! Preciso mencionar como alguns elementos vão saindo de um romance para outro, há sempre uma pista de outras obras de Rezende em seus escritos, aqui, o canto ouvido quando personagens caminham em meio à natureza, elemento presente em "Ouro dentro da cabeça" aparece novamente. Mais uma vez, leiam!
Caio.Victor 23/06/2023minha estante
Deu vontade de ler! ?


Thalyta Vidal 23/06/2023minha estante
Pode começar!




miriamz 17/07/2016

A poesia no sertão
Um livro que encanta por sua simplicidade, rusticidez, complexidade, poesia. A autora através de uma linguagem confortável e suave nos transporta para um sertão ríspido, seco, bruto, rústico, duro, miserável porém poético, sensível, delicado e humano. Nos é descortinado um sertão verdadeiro, real porém de longe inóspito e feio,
mas singelo, humilde, onde vidas vivem suas vidas, sem nada alem de um pedacinho de chão pra esticar sua rede e a insistente esperança saciada pelo eterno esperar.
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ViagensdePapel 16/11/2016

Em Outros Cantos, conhecemos a heroína Maria, uma professora que possuía uma vida inteira dedicada à educação de base. Em uma noite, durante certa viagem de ônibus até uma comunidade sertaneja, lhe vem a memória diversas lembranças. Lembranças de viagens passadas, experiências, aprendizados e amizades que ela fez.

A obra é toda narrada em primeira pessoa do singular e mescla acontecimentos presentes com memórias do passado. Na ocasião, ela está retornando, 40 anos depois, à cidade de Olho d'Água. Cada indivíduo, cheiro e movimento, faz Maria relembrar sua vivência passada naquela cidade que em breve ela irá reencontrar. A personagem conta desde suas viagens à França, Argélia, México, até sua experiência de vida na pequena comunidade de Olho D'Água, onde viveu, trabalhou e cultivou amizades.

Com uma linguagem poética e extremamente descritiva, você, caro leitor, caso resolva embarcar nesta viagem de poesia, irá enxergar e sentir um pouco do misto de emoções que invade a mente e coração de Maria, a cada momento de sua viagem.

Indico Outros cantos para quem cursa Jornalismo, e que assim como eu, curte embarcar em leituras que são poéticas e críticas ao mesmo tempo. Além disso, ao ler este livro, entramos em contato com uma escrita extremamente rica, descritiva, crítica e bem estruturada.


Leia a continuação da resenha, acesse o link abaixo:

site: http://www.viagensdepapel.com/2016/06/09/resenha-outros-cantos-de-maria-valeria-rezende/
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Lopes 17/11/2017

O Sertão que não é mais Sertão
Escolher naquele Sertão que não é mais Sertão o que inspira a vida é talvez o maior feito subliminar da escritora Maria Valéria Rezende em “Outros cantos”. Sua prosa de vocabulário melancólico, humilde e incansavelmente belo nos revela um traçado entre tempo, experiências e humanidade. Maria, personagem desta obra espiral, é levada ao mundo pelo toque humano, suas aventuras - que podemos dizer de pedaços da vida - esvoaçam quando ela retorna ao lugar que desenvolveu novas possibilidades, boas e ruins. Em qualquer lugar que Maria esteja provoca em nossos espíritos um delicado rebuliço sobre ter fé num mundo em que a literalidade das palavras faz surgir um vazio humano. Vazio esse diferente da personagem, que recorre ao outro sua fonte natural de suas inconstâncias. Valéria Rezende adota o tempo como seu parceiro secreto, desenrolando-o de acordo com sua proeminência artística. É do tempo a regra mais sombria, de traçar, quando ele quer, os motivos que a levam para esses cantos. Porém essa falta de luz não deve ser posta como algo negativo, esse antirreflexo faz parte do outro que Maria tanto pretende atender, é no outro, perambulando pelo seu tempo de estar e não, que a personagem se posiciona e vive. Não é apenas uma ajuda meticulosa, como se não houvesse um olhar para si, no entanto, o interno de Maria foi preenchido por tal fé no ato humano que pode surgir, mas infelizmente rebenta em não compreender que o mundo possui mais cantos do que esses outros que ela tanto retorna.
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Betinha 10/01/2018

Grande sertão
Hoje vou escrever um pouco sobre o belíssimo livro “Outros cantos”, da autora Maria Valéria Rezende e não posso começar sem falar um pouco sobre sua trajetória. Assim como a personagem principal desse livro, Maria Valéria é professora e teve experiência com a educação no meio rural nordestino. Isso é muito forte para um livro em que a personagem principal descobre o sertão, a pobreza e a beleza da vida sertaneja. O mergulho de Maria, a protagonista, nesse meio parece também uma viagem pelas memórias da autora.

Vamos para a história?

Quando jovem, Maria viveu por algum tempo no vilarejo Olho D’Água, com o propósito de alfabetizar jovens e adultos. Após 40 anos decide voltar ao local e, em sua viagem de ônibus, vai recordando sua estadia anterior e as pessoas que conheceu ali, além de outros cantos por onde passou e viveu.

É assim que descobrimos Fátima, mulher sofrida que suporta o fardo de viver com pouca água e comida e com muito esforço físico para garantir o sustento de seus filhos, e que acolheu Maria em sua chegada.

"Encontrei ofício e família naquele canto escondido. Podia ficar, preenchida de estranha euforia, e, subitamente livre de uma espécie de cegueira frente ao desconhecido, comecei a ver cada um, cada coisa, cada movimento na sua unidade e seu sentido. Pelas mãos de Fátima cheguei ali de verdade."

Diariamente Maria acordava cedo, buscava água para o dia, tomava café com Fátima e seguia para ajudar no tingimento dos fios, utilizados para tecer as redes para o “Dono”. Esse homem era dono das terras, da água e do trabalho.

"Nus vieram ao mundo e nele permaneciam, quase nus e inocentes, não por serem incapazes de fazer o mal, mas por serem ignorantes do mal que lhes podia ser feito."

Sua rotina é quebrada quando um vaqueiro aparece no povoado e desperta Maria para uma parte importante de sua vida: o rapaz de olhar penetrante que encontrou em diversos pontos do mundo. Ele sempre deixa sua alma marcada a cada visita, além de uma prenda que a moça guarda em uma caixinha no fundo de seu baú.

"(...) puxei lá do fundo a caixinha de madeira finamente entalhada por meu avô para servir-me de porta-joias. Ao abri-la, com o coração assustado batucando na garganta, depois de tanto tempo a carregá-la comigo sem mirar seu conteúdo, dei logo com um vistoso emblema niquelado, arrancado de uma motocicleta Harley-Davidson."

Maria entra em um estado febril, recordando não apenas o homem, mas o motivo de estar ali. Meses passaram e nenhum sinal dos materiais e da escola onde ela daria suas aulas.

"A vontade de chorar que eu retinha, por pejo, ganhou novo motivo além da comoção pela beleza de tudo aquilo. Poderia eu manter o que me trouxera para ali, despertar-lhes ainda esperanças terrenas quando o vivido só lhes permitia situá-las no céu e assim já se haviam consolado por séculos? Não ouvira tantas vezes dizer que a vida era plantar na terra para colher no céu?"

Embalada pela narrativa da Maria Valéria eu viajei pelo sertão e conheci personagens cuja simplicidade me encantou. O livro tem o tamanho certo e a medida exata de memórias para compor uma belíssima história. Espero que vocês gostem dele tanto quanto eu gostei!

site: http://pacoteliterario.blogspot.com.br/2018/01/resenha-outros-cantos.html?m=1
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paulia_barreto 29/03/2018

Duas viagens de ônibus
Vai ser difícil encontrar outro livro que me prenda da mesma forma que este; normalmente tenho que me esforçar um pouco mais para me concentrar na leitura quando estou em algum lugar barulhento, mas com este livro foi diferente.
É engraçado pensar como a 'personagem' viaja em suas lembranças em um estado de quase inconsciência de sono, enquanto está viajando de volta para o lugar em que grande parte delas teve seu berço. Minhas leituras mais longas desse livro se deram enquanto estava no ônibus voltando pra casa e pude realmente experimentar o que se descreve neste texto tão maravilhoso e poético; foi como se eu compartilhasse a história e os sentimentos com ela...
Simplesmente amei a leitura e aprendi com ela um pouco mais sobre o amor à profissão no magistério, ainda que seja exercido no lugar mais impossível...
Viajei junto com Maria em suas relembranças e, ao terminar de ler o livro, não consegui fechá-lo... Li as duas últimas frases mais ou menos umas 15 vezes e fiquei segurando-o na minha frente depois, quase não acreditando no amor que senti por tudo neste livro e pelo impacto que o final me causou, mas que não me fez deixar de me admirar imensamente com tudo que foi narrado nele.
Simplesmente amei o livro!!!!!
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Thiago Barbosa Santos 26/09/2018

Um canto especial
Maria Valéria Rezende é uma das escritoras brasileiras mais celebradas da atualidade. É minha autora predileta da contemporaneidade. Dela já li o excelente ‘40 Dias’, ‘Vasto Mundo’, e agora tive também a oportunidade de ler ‘Outros Cantos’, romance bastante premiado, indicado inclusive ao Jabuti. O livro só reforçou a grande admiração que tenho pela obra de Maria Valéria Rezende.

Em ‘Outros Cantos’ Maria, protagonista do livro, fala de um canto muito especial na vida dela, a cidade de Olho D’Água, que fica no sertão de um local desconhecido, totalmente à margem de qualquer prosperidade social. Passado e presente se misturam nesta história. Maria está em uma viagem de ônibus retornando para Olho D’Água 40 anos depois de sua primeira passagem pelo lugar. Durante o trajeto ela vai recordando todas as histórias que viveu por lá. As dores, as angústias, as dificuldades, a superação e as amizades que fez.

Maria dedica a vida dela ao ensino de base. Foi deslocada no período da Ditadura Militar para Olho D’Água com a missão de alfabetizar adultos naquela região. Ao chegar, foi muito bem acolhida por todos. Um povo humilde, que mesmo na extrema dificuldade, estava sempre disposto a ajudar ao próximo, estender a mão a quem está mais necessitado. Para iniciar a tarefa de ensinar aquela gente, dependia do material e da estrutura física que um vereador prometeu e estava demorando para cumprir. Ela parecia estar esquecida. Mas se fortalecia na amizade principalmente de Fátima, mulher que sustentava sozinha os filhos e a ajudava no trabalho de tear.

Muito tempo depois, o tal vereador finalmente cumpriu a promessa e, mesmo sem as condições ideais, mas suficientes, construiu a escola para que ela pudesse alfabetizar os adultos. No início, os pais queriam que os filhos menores aprendessem, e ela explicava que o método era para pessoas a partir dos 15 anos. No fim das contas, acabou ajudando também a ensinar aos mais jovens.

Maria estava vivendo um sonho em Olho D’Água, trabalhando com o que gostava, alfabetizando aquela gente humilde e também desenvolvendo nas pessoas um pensamento crítico, inspirado no método de Paulo Freire. Em uma noite, assim mesmo, de repente, ela foi acordada pelos moradores que, temerosos, pediam para ela sair urgentemente da cidade, pois ouvia-se dizer que o Exército estava chegando naquela região. Lembremos que era um período de absoluta repressão e não era visto com bons olhos quem estimulava o pensamento crítico.

Enquanto Maria relembrava todos os acontecimentos, ia tendo um reencontro com o sertão, ia ligando o tempo todo o passado e o presente. Este novo sertão que ela encontra ao longo do caminho, 40 anos depois, está modificado, mais ligado “ao mundo lá fora”, onde também chegaram o celular, a televisão e demais aparelhos que fizeram o ser humano mudar o comportamento. Ela estranha bastante isso, mas volta para tentar realizar um sonho que deixou para trás há quatro décadas.
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Mariana 23/11/2018

de uma sensibilidade que aviva assim como chuva no sertão
Maria é uma mulher sonhadora que, numa espécie de missão de vida, embarca numa viagem para o sertão ao aceitar um emprego de professora num vilarejo chamado Olhos D'Água. Enquanto não recebe o material escolar prometido pelo vereador que a havia contratado, passa seus dias trabalhando e vivendo na casa de Fátima, mulher sertaneja que cria dois filhos sozinha.

O livro é de uma narrativa encantadora ao descrever a simplicidade que vivencia em sua nova rotina no sertão: as mulheres que buscam água diariamente, o milho moído para fazer o cuscuz, as histórias contadas sob as algarobas e a força daquele povo em não perder a esperança de dias melhores.

"Aprendia eu, a cada dia, muito mais e indispensáveis saberes para a teimosa vida nos mais hostis cantos do mundo do que as letras que eu viera trazer-lhes, úteis apenas em mínimas ilhas de privilégio desigualmente espalhadas no globo terrestre."

Livro muito bonito! Me marcou bastante.

"Cuidei de agarrar tudo o que pude das utopias esfarrapadas, outros fios rotos com que urdir novos sonhos, por certo menores e mais humildes, ao rés do chão, mas vivos."
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Lívia 14/01/2019

Poesia em meio a secura do sertão
Que leitura tocante! Primeiro livro que leio da autora e despertou em mim a vontade de conhecer outras obras. A escrita poética e permeada de metáforas, torna a leitura agradável e extremamente profunda. A história é uma enxurrada de lembranças da protagonista, que está a bordo de um ônibus retornando ao lugar onde vivera quarenta anos antes como professora alfabetizadora popular. Não há muita ação no decorrer da história mas nem por isso ela é monótona, isso por causa da cativante escrita da autora. Maria Valéria Rezende dá voz a um povo sertanejo duramente castigado pelas intempéries do clima seco e árido do sertão e por aqueles que se aproveitam disso para explorar ainda mais aqueles já tão explorados pela vida. Fiquei envolvida pela doçura da narração da protagonista, uma personagem paradoxalmente romântica e pragmática. Sem dúvidas, a literatura brasileira contemporânea está muito bem representada por Maria Valéria Rezende. Poesia e encantamento em meio a secura e dureza do sertao. Recomendo muito!
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Jefferson Vianna 27/03/2019

Porque a vida mesmo longa, sempre será curta...
Maria Valéria Rezende é uma das autoras mais aclamadas da atualidade, estreou na literatura em 2001 com o livro: “Vasto Mundo”, recebeu inúmeros prêmios e as suas obras já foram traduzidas para diversos países. “Outros cantos” foi publicado em 2016, recebeu o Prêmio Casa de las Américas de 2017, prêmio Jabuti 2017 e Prêmio São Paulo 2017, ambos como melhor romance. É incrível como a autora possui extrema facilidade em dar vida a personagens muitas vezes “esquecidos”, como ela mesma disse numa entrevista ao canal Bondelê no Youtube ela é vista como “a escritora dos invisíveis”. “Outros cantos” é basicamente um livro de memórias, narrado em primeira pessoa o livro conta a história de Maria, uma professora que enfrenta inúmeros desafios para alfabetizar jovens e adultos de Olho D’Água, um vilarejo do sertão nordestino. Em meio à narrativa é possível perceber que Maria está retornando a cidade de Olho D’Água, após ausentar-se por 40 anos, e é durante esta viagem que ela nos convida a relembrar passagens e acontecimentos marcantes que compõe o enredo principal da trama. Trata-se de um livro extremamente poético, capaz de emocionar e por vezes nos faz refletir acerca do abandono e da desigualdade social, acometida na maioria das vezes pela falta de escolaridade, ou seja, em “Outros cantos” a autora descreve a dura realidade de um povo sofrido, trabalhador, que prioriza o suor de seu trabalho e jamais abandona sua fé, um povo que acredita na vinda de dias melhores, acredita em seus sonhos, luta diariamente pela dignidade e que jamais abandona suas origens. Leitura recomendada.

Quotes do livro: "A vida mesmo longa, sempre será curta.", "Não ouvira tantas vezes dizer que a vida era plantar na terra para colher no céu?" e "Os que acreditaram nas armas como estopim para que o povo se levantasse e se libertasse iam sendo dolorosamente dizimados"
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Ivandro Menezes 03/06/2019

Cantos de tão perto e tão longe
Outros Cantos, o premiado romance de Maria Valéria Rezende, narra a travessia de Maria por dois sertões. Um de quarenta anos atrás, rudimentar, bruto, precário e inexplorado, e; um outro, que ela observa através da janela de um ônibus e, em alguma medida, desconhecido e alheio.

A memória é elemento essencial para reconstruir os dias vividos em Olho D?Água, entre as histórias à sombra da algarobeira, trabalho e vidas tão áridas quanto o solo da caatinga.

Uma caraterística que se repete aqui é a construção de um espaço-protagonista, como ocorre com a Farinhada de ?Vasto Mundo?. Porém, usa Maria como um denominador comum para colacionar as histórias, mesclando com suas memórias da Argélia e outros cantos por onde passou e viveu.

Contudo, também guarda relação com ?Quarenta Dias? ao enfatizar o coque cultural entre Maria e os hábitos e costumes do lugar.

A noção de estrangeiro é presente na narradora, não apenas pela fluidez, ao percorrer o sertão à noite dentro de um ônibus, quanto na sensação de pertença ao sertão, mesmo sabendo-se alheia.

Assim, Maria Valéria constrói um retrato do sertão e do sertanejo das décadas de 1960 e 1970, oprimidos entre a seca e o sistema de poder e dominação vigente. Há um tom de mítico, trazido pela distância da narradora, e, pouco a pouco, próximo e verdadeiro.

Altamente recomendado para quem quer deitar na rede e aproveitar uma boa leitura.
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Biblioteca Álvaro Guerra 20/09/2019

Outros cantos é um romance magistral, sobre as viagens movidas a sonhos.

Empreste esse livro na biblioteca pública

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788556520012
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Toni 12/11/2019

Da última vez que encontrei a Maria Valéria, ela me disse, assim como quem corta um pedaço de bolo pra lanchar: “Agora que estou perdendo a memória, tem mais espaço na cabeça para a imaginação. Todo dia tenho uma ideia nova”. Quem já leu qualquer um de seus livros concordará: é justamente essa boa vizinhança entre fabulação e memória, histórias ouvidas e histórias possíveis, visões do eu e da alteridade, que fazem com que suas narrativas tenham uma forte ilusão de realidade, permanecendo conosco muito tempo após a leitura.
.
Em meio à miséria nordestina do celebrado (e falacioso) “milagre brasileiro”, “Outros cantos” conta a história de uma educadora popular que se embrenha no sertão paraibano com o projeto secreto de educação e emancipação política de comunidades excluídas, ainda que, oficialmente aos olhos federais, esteja ali como professora do MOBRAL, programa de alfabetização de adolescentes e adultos implementado pela ditadura nos anos 1970. O MOBRAL foi uma resposta da ditadura ao método Paulo Freire, espécie de “atualização” distorcida, piorada e uniformizante do “Educação como Prática da Liberdade”, de 1967.
.
Maria, a narradora-protagonista, mantendo seu olhar em nosso presente e nas reminiscências de 40 anos atrás, nos apresenta um sertão atravessado de pequenas estratégias de sobrevivência e resistência. Um profundo respeito se estabelece desde o início entre essa professora e o povo de Olho D’Água, sem condescendência ou romantização do pobre. Transformada pela economia dos gestos e pelo trabalho da terra, Maria aprende novas formas de perceber seu lugar no mundo e, de maneira análoga, nós leitores também reconhecemos a força de um povo que nem 21 anos de ditadura foram capazes de destruir os sonhos de chuva, de verde, e de uma existência com múltiplas histórias e dignidade conquistada.
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Paisagens Literárias 13/04/2020

Memórias de educação e militância política no sertão
Este é um livro baseados em memórias de Maria, narradora-protagonista, que viaja em um ônibus nas estradas do sertão brasileiro e narra suas experiências de quarenta anos atrás, quando vivera no pequeno povoado de Olho d´Água. Maria havia sido enviada a este povoado para ser professora do programa de educação para adultos do governo militar MOBRAL; o qual, foi caracterizado por uma distorção do método de Paulo Freire. Entretanto, ela quanto militante de esquerda prol democracia, tinha por objetivo propiciar consciência sociopolítica para os trabalhadores sertanejos. Sua tarefa de professora levou algum tempo para ser posta de fato em prática naquele local, já que nenhum recurso chegava para que se iniciasse as aulas. Maria nesse meio tempo foi se adaptando a vida em Olho d´Água com a ajuda de Fátima, que se torna a sua melhor amiga no povoado. Assim, ela desenvolve um profundo respeito pela população do povoado diante da complexidade do saber e dos costumes locais, sem romantizar o pobre do sertão. A condução narrativa de suas memórias não é linear e em segundo plano também nos são apresentadas outras de suas andanças por desertos, o Saara argelino e o de Zocateca, no México; as quais, retornam a partir de alguns objetos-lembrança [do olhar de alguns homens, naquele povoado era do vaqueiro Antônio] de sua caixinha de tesouros, que só para ela de fato tinham valor. São memórias de outros cantos, outros lugares, que se embaralham a outros ritmos, bem como a outras vozes narrativas das das histórias contatas pelos moradores de Olho d´Água. Por fim, logo após ter recebido o material e o espaço para ensinar do vereador depois das férias, precisa sair fugida do povoado; militares estavam chegando a região. A viagem de Maria termina com o retorno dela para uma palestra sobre educação para um sindicato local, o que nos enche de esperança de dias melhores virão.

site: https://www.instagram.com/p/B-7fsqyDroV/
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