Gustavo195 08/02/2023
Leiam esse livro, sério! Eu imploro, leiam, leiam, leiam!
Eu entendo que, à primeira vista, esse livro parece ser muito chato, que vai falar de gramática, língua portuguesa e tudo mais. Ele vai, mas de um jeito completamente diferente e crítico. Bagno vai detonar, com classe e muito (muito mesmo) deboche, todos os pensamentos conservadores que tratam a Linguística como uma ciência exata do tipo "2 + 2 = 4, e essa é a única e absoluta resposta possível e jamais haverá uma resposta diferente". Bagno vai te mostrar que a linguagem é fluida, mutável e que evolui com o tempo. O que era errado ontem pode ser considerado certo hoje. Ele vai te mostrar (e te provar) que não existe "português errado", existe "português diferente do padrão"!
Ceci n'est pas une pipe.
(Isto não é um cachimbo)
Invoco, mais uma vez, a obra "A Traição das Imagens", de René Magritte, pela sua genial capacidade de ilustrar a verossimilhança. Do mesmo modo que a imagem de um cachimbo não é um cachimbo, gramática não é língua. A chamada "norma-padrão" é o conjunto de prescrições da gramática. É como se fosse a receita de um bolo.
A receita dita os parâmetros exatos para que o bolo dê certo, mas o seu pode ficar mais doce e o meu pode crescer menos porque, talvez, meu forno não seja tão bom, e está tudo bem.
Um dialeto é um regionalismo linguístico que designa a linguagem própria de uma determinada região. Falantes de uma mesma língua apresentam diferenças no modo de falar, de acordo com o lugar que vivem ou a situação socioeconômica, e está tudo bem também.
Na teoria, o preconceito linguístico ocorre quando uma pessoa é julgada pela sua forma de se comunicar, seja por escrito ou oralmente. Porém, esse mesmo preconceito ocorre, também, quando algum alecrim-dourado se acha tão superior a ponto de corrigir a linguagem de outra pessoa, ditando a forma "correta" de se falar. A verdade é que não existe uma única forma correta. A Linguística não é uma ciência exata. Ninguém, e eu reitero, ninguém está dissociado de variações linguísticas ou regionalismos no Brasil, simplesmente porque todos vêm de alguma região do país, e o dialeto é uma herança cultural inerente.
O Brasil é um país continental, diverso, plural e com uma variedade cultural gigante. Não podemos continuar permitindo que nossa riqueza, nossa pluriversalidade seja reduzida a estereótipos e padrões engessados e imutáveis.
Depois da leitura senti um grande apreço por Marcos Bagno, especialmente pela sua escrita responsável e ao mesmo tempo sarcástica. Suas críticas ao insistente desejo da Academia brasileira de se comparar e se igualar à antiga metrópole europeia me fizeram perceber o quanto o Brasil ainda está profundamente machucado pelos tempos de colônia. O Português de Portugal não pode continuar servindo de exemplo para o Português do Brasil. Nossa língua é mais rica, tem forte influência indígena e africana, o que a torna única no mundo. Espero um dia não mais dizermos "Português do Brasil" e sim "Língua Brasileira".