Caroline Gurgel 13/02/2016Singelo, delicado...Além do fato de ser um dos países mais pobres e mais corruptos do mundo, não sabia muito sobre a Somália, e tampouco me recordo de ter lido algum outro livro ambientado na África. Foi justamente a vontade de sair do lugar-comum que me fez querer ler O Pomar das Almas Perdidas. Que leitura incrível!
O livro se passa no fim dos anos 80, em Hargeisa, na Somália, quando o país, que vive sob uma ditadura militar, está prestes a mergulhar em uma guerra civil. Longe de pretender ser uma ficção histórica, O Pomar das Almas Perdidas tem seu foco na vida de três mulheres bem diferentes e de distintas gerações: Deqo, uma órfã de 9 anos oriunda dos campos de refugiados; Kawsar, uma viúva que ainda chora a morte da filha; e Fílsan, uma jovem soldado que se esforça para ser alguém em um meio extremamente machista.
Essa leitura é como um soco no estômago. A cada parágrafo o coração acelera e a apreensão aumenta com o medo do que vai e do que pode acontecer. A aflição é ainda maior, a dor ainda mais profunda, quando nos damos conta de que isso é e foi a realidade de muitas mulheres. São histórias que doem na alma e faz a gente manter os pés bem firmes e fundos ao chão.
Nadifa Mohamed, que nasceu na Somália, mas foi educada e vive na Inglaterra, tem uma escrita apaixonante, um pouco lírica, em uma narrativa muito bem estruturada, indo do presente às memórias das personagens com destreza. É bem estranho dizer que foi uma leitura gostosa, já que seu texto nos mostra o quão cruel o mundo pode ser, mas foi essa sensação que tive, apesar de tudo.
O Pomar das Almas Perdidas me trouxe de volta muitas reflexões, como o porquê de uns nascerem na Somália, sem grandes expectativas de vida, e outros na Suécia, com inúmeras e boas oportunidades. Mistérios da vida, eu sei, mas…
O livro é sensível, delicado, nos comove através da inocência de uma criança, da dor de uma mãe, do sofrimento uma senhora amargurada que não quer atrapalhar, da solidão de uma mulher que tentou, sem sucesso, ser o que os outros esperavam que ela fosse. Que mundo selvagem!
Leitura maravilhosa, enriquecedora e, apesar de triste, singela, com uma bonita mensagem de esperança. Entrou para minha lista de favoritos e recomendo de todo coração.
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