Duda 21/06/2023
Quarto de despejo.
Escrito por Carolina Maria de Jesus e publicado por Audálio Dantas, o romance em forma de diário retrata a vivência pessoal da catadora de papel e seus três filhos, moradores da comunidade do Canindé, em São Paulo. Ainda que suas palavras tenham sido escritas como forma de expressão e desabafo, o texto é uma grande denúncia à vida que muitas pessoas levavam e ainda levam, já que sua obra é atemporal. Mesmo depois de tantas décadas e tantas mudanças que ocorreram no mundo, muitas outras vidas vieram e passaram pelas mesmas dificuldades.
Se tratando de um mundo invisível aos olhos do poder público, Carolina passa para o papel aquilo que não querem ver, através de palavras que poderiam até perder algumas pontuações, mas que não deixavam escapar os pontos mais importantes e que eram tão presentes em sua vida: a fome, a amarela, pinta quase que completamente cada uma das folhas, sendo um dos protagonistas da obra.
Conforme nos aprofundamos nas páginas, fica claro que mesmo com tanta repressão e todos os fatores externos, Carolina não demonstra ter se tornado uma pessoa amarga, pelo contrário: em determinado momento do texto, é dito por ela que ?Quando falo com uma criança lhe dirijo palavras agradáveis (?) Sei dominar meus impulsos?.
É possível perceber a presença de palavras formais, mesmo que algumas vezes o texto fuja da forma culta, fica evidente a genialidade da escritora, que em alguns trechos utiliza metáforas poéticas para representar coisas comuns, como nascer do sol.
No trecho ?O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora?, a autora expressa que nem tudo é nos ensinado na vida acadêmica, certos conhecimentos são adquiridos através dos males da vida. É aqui que entendemos de onde vem tanta genialidade, mesmo com apenas 2 anos de escolaridade, Carolina sabe muito e sem dúvidas é capaz de ensinar lições importantíssimas.