DIRCE 26/07/2014
E o céu pode esperar.
Disse Drummond no seu poema Resíduo:“De tudo ficou um pouco”. Da leitura que fiz da obra O Mito de Sísifo também ficou um pouco, uma vez que minha familiaridade com a Filosofia se reduz a zero, portanto é com muita timidez que comentarei sobre o livro.
Não iniciei a leitura desavisada. Foi me dado saber por meio da leitura do "O Estrangeiro”- um convite as outras obras de Camus - que suas obras são permeada pela presença do absurdo, e foi a necessidade de entender um pouco mais sobre esse pensamento, somada a minha paixão pela Mitologia, que emendei uma leitura a outra – “O Estrangeiro” ao “Mito de Sísifo”.
O Mito de Sísifo é uma obra, um ensaio,de apenas 138 páginas( incluindo um apêndice sobre a esperança e o absurdo na obra de Kafka) que requer uma leitura cuidadosa o que me levou a releitura de vários parágrafos.
A questão levantada por Camus se concentra no princípio de que sendo a vida desprovida de sentido merece ser vivida? Ou seja, Viver ou Morrer,eis a questão (palavras minhas). Estando Deus "morto”, deixaremos de ser regidos por uma lei divina, não poderemos viver com a esperança - com a fé - de merecermos o paraíso em outra vida, tudo o que nos resta é a vida terrena repleta de desencantos, então o suicídio é o único caminho a ser percorrido?
Antes de seguir adiante, tenho que confessar que, por se tratar de um Ensaio, fui acometida, durante a leitura, vez ou outra, pelo fastio, mas isso não me impediu de ficar maravilhada(sim:é um paradoxo,eu sei) pela defesa que Camus faz da vida.
Entendi que Camus reduz o sagrado ao homem, portanto,a vida se torna sagrada, e assim sendo, o suicídio nada mais é do que uma ofensa à vida. Ele é nada mais é que um subterfúgio, é como se costuma dizer: jogar a tolha.
Mas se a vida é um absurdo como pode o homem viver,lidar com essa descoberta? Só lhe resta a revolta. E a revolta para Camus implica em ação – na manutenção consciente da vida absurda – e é essa revolta que dá valor à vida. É a revolta que leva o homem viver intensamente. (intensamente... - soa um tanto quanto Carpe Diem,não?)
A obra é composta de diversas partes e, na última,Camus dedica à analise do Mito de Sísifo.
Por amor à vida Sísifo pagou um preço alto: foi condenado pelos deuses a erguer por toda eternidade uma enorme pedra até o cume de um rochedo e quando era alcançado o cume, a pedra rolava rochedo abaixo.
Atesta Camus que Sísifo é um herói do absurdo.Tanto pela sua paixão como pelo seu tormento. E é se utilizando desse herói que Camus conclui seu discurso sobre o papel do homem na vida – lindamente, diga-se de passagem -: “(...)Esse universo, doravante,sem dono não lhe parece estéril nem fútil. Cada grão dessa pedra, cada fragmento mineral dessa montanha cheia de noite forma por si só um mundo. A própria luta para ao cume basta para encher o coração de um homem. É preciso imaginar Sísifo feliz”.
E, eu, concluo meu comentário me redimindo. Comecei meu comentário dizendo que tinha ficado um pouco da leitura que fiz, porém agora, depois de muito refletir, sei que ficou o BASTANTE. O BASTANTE para dizer que, no tocante a minha pessoinha, o Céu pode Esperar.Céu? Desviei de Camus com certeza, e aproveitando esse desvio, retorno ao meu passado, quando, ainda estudante, ouvi de um professor um poema do Tagore ( poeta indiano) que, até hoje, não entendia muito bem o significado porque, na ocasião, tive receio do ridículo e não ousei tentar esclarecer minha dúvida com o professor. Não sei dizer o que fez ficar cravada na minha memória a imagem do professor declamando: “ Terra te conheci estranho, despeço-me amigo”.
Minha dúvida: não sabia se a palavra TERRA tinha a conotação de mundo ou de pátria.Continuo sem saber, mas pouco importa. O que me importa é que, após a leitura do O Mito de Sísifo, essa palavra (TERRA) passou a significar VIDA. Quero, quando chegar a hora inexorável, me sentir assim: reconciliada com a vida, sua amiga. Quero ter chegado a constatação que consegui ser feliz mesmo diante dos infortúnios.