Mariana Dal Chico
03/01/2022Minha última leitura de 2021 foi “Notícia de um sequestro” de Gabriel García Márques, meu primeiro contato com a escrita de não ficção do autor. Escritores como ele, que transitam entre gêneros tão distintos e sabem como cativar seus leitores, sempre me deixam embevecida.
Maruja Pachón e seu marido, Alberto Villamizar, procuraram Gabo para escrever sobre as experiências dela durante seu sequestro. Ao longo do trabalho, o autor percebeu que precisaria contar a história de mais 9 sequestrados, já que este parecia ser um sequestro “coletivo” muito bem organizado, com vítimas cuidadosamente escolhidas e comandados pelo mesmo grupo de narcotraficantes Os Extraditáveis, liderados por Pablo Escobar. Foram quase três anos de pesquisas e entrevistas com muitos envolvidos para se chegar no trabalho final.
Um trabalho complicado porque as coisas vão além do eixo central Maruja e Alberto, envolve política - não apenas da Colômbia -, estratégia de negociação, escala de hierarquia do narcotráfico e a história pessoal de 10 sequestrados, que passaram por experiências diferentes durante o cativeiro.
A narrativa é tão envolvente que não fica cansativo ou confuso, mesmo com a grande quantidade - e variedade- de informações ao longo do livro.
Gabo se vale de uma linha do tempo descontinuada, que faz sentido para leitores que não conhecem previamente a história dos sequestros. Eu lembrava vagamente dos acontecimentos, mas a sensação de terror dos noticiários da época, voltaram com força durante essa leitura.
Leitura muito interessante para quem gosta de jornalismo literário e da história da Colômbia. Mas se você procura o Gabo romancista com toques de literatura fantástica/maravilhosa, não vai encontrá-lo por aqui.
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