Tati 13/11/2020
Notícia de um Sequestro, foi publicado em 1996, sendo um trabalho jornalístico de livro-reportagem do autor, a respeito dos sequestros realizados por mandantes de Pablo Escobar contra políticos e a imprensa colombiana.
Contexto histórico
Maruja Pachón Castro, política e jornalista, amiga pessoal de García Márquez, foi casada com Luis Alberto Villamizar Cárdenas, antigo diplomata e político colombiano que em seu período ativo no país combatia o Cartel de Medellín: uma rede de narcotraficantes colombianos, entre eles, Pablo Escobar, que fazia o país cada vez mais refém de seus esquemas — não é por acaso que em vida, Escobar era classificado como um dos homens mais ricos do mundo pela revista Forbes.
Apesar de ser este um dos pontos que resultou no seu sequestro, Maruja também possuía outra ligação com inimizades do narcotraficante: era cunhada de Luis Carlos Galán, candidato à presidência colombiana em 1982 e 1989, que liderava as pesquisas de intenção de voto no país, e que a mando de Escobar, foi assassinado (inimigo declarado do Cartel de Medellín, tinha como uma de suas propostas políticas a extradição dos narcotraficantes colombianos para os Estados Unidos da América, local com maiores leis de punição, onde seriam julgados por seus crimes e muito provavelmente, passariam mais tempo presos, já que formavam o principal grupo de exportação de cocaína para o país).
Como parte do enfraquecimento da proposta, Pablo iniciou mandatos de assassinatos e sequestros, cujos reféns só seriam libertados quando a ideia da extradição para o país norte-americano fosse cancelada. A partir daí, uma onda de horror tomou conta da Colômbia.
O livro-reportagem
Quando começou a escrever o livro, García deixou claro que não queria que a obra fosse sobre o homem que atormentou o país e destruiu tantas vidas, e de fato, não o fez, tornando-o mais próximo de uma reunião de relatos das vítimas dos sequestros. Em concordância com a ideia do escritor, em entrevista, Juan Pablo, um dos filhos do famoso traficante, declarou que “A glorificação da vida de Escobar está afetando de maneira muito negativa as novas gerações no continente. Tanto que parte delas já acha que o mundo do narcotráfico é o mais cool do momento.” (Fonte). No ano da publicação, Escobar já havia sido assassinado há quatro anos, e portanto, a liberdade de imprensa na Colômbia se fazia mais presente.
Maruja, com quem o livro se inicia, ficou refém por 182 dias, e precisou, mais tarde, ser exilada com seus seis filhos. Por acaso, na data do sequestro, estava acompanhada de sua cunhada, Beatriz, que também foi levada. Apesar de ser Pachón a primeira refém citada no livro, ela foi a última a ser de fato sequestrada. Em relato, o próprio Pablo Escobar explicou o caso: “Eu estava sequestrando gente para conseguir alguma coisa e não conseguia nada, ninguém conversava, ninguém dava importância, e assim fui atrás de dona Maruja para ver se conseguia alguma coisa" (fonte). E de fato, como esperado, foi o seu sequestro que mais movimentou os noticiários e deu palco para os outros realizados. Ao todo, foram dez pessoas sequestradas, e a problemática ocorreu entre 1990 e 1991. Como descrito no livro, todos que trabalharam com o traficante conheciam muito bem as vítimas: sabiam seus horários, trajetos, e planejaram com muita antecedência quem seriam os escolhidos e como seriam pegos.
É interessante notar, ao longo da narração, o poder de Escobar: apesar de todo o contexto ter sido feito por ordens dele, Pablo nunca é apresentado aos reféns, e em momento algum toma as verdadeiras rédeas de tudo o que era feito. Em tudo o que construiu, ele era apenas um administrador com empregados fiéis.
site: https://www.ratadebiblioteca.com/2020/11/noticia-de-um-sequestro-de-gabriel.html