Julhaodobem 09/05/2023
Uma proposta irrecusável de leitura
A literatura imita a vida em vários momentos de um romance, seja em momentos de felicidade ou dor onde somos sobrepostos em um ambiente que muitas vezes não poderíamos passar nem alguns minutos. Em certos livros por mais que alguns fatos sejam tão diferentes do nosso cotidiano, em algum momento acabamos percebendo que algumas coisas podem acontecer na realidade, de uma forma ou de outra. Provavelmente é algo do nosso intelecto em perceber que mesmo coisas horrendas feitas por certos homens, no fim sabemos que aquilo realmente aconteceu e somos forçados a esquecer tudo por conta de uma lei do silencio. É aquilo que muitas comunidades fazem, se você não falar mais talvez isso suma e uma paz se criará, até começar um novo ciclo de artimanhas e tudo se inicia novamente, algo que a mafia tem de melhor, um ciclo interminável de lutas que fazem parte da sua vida banal.
Atualmente ouvimos pouco a palavra mafia, ouvimos mais a palavra gangue, agiota, politico ou empreendedor. Em alguns grupos o que muda da mafia é pessoas não desparecem ou serem encontradas em sarjetas, hoje as pessoas perdem suas casas, seu emprego e a sua família para uma mafia muito mais poderosa e camuflada pelo consumo chamado capitalismo, e tambem em alguns lugares posso dizer tambem socialismo. Somos forçados a sermos julgados por um sistema de pessoas que muitas vezes nunca viram a dor de viver uma luta de trabalho e sustento, pessoas que focam no sistema e não nas pessoas, hoje as ideias são mais importantes de serem faladas aos quatro cantos do mundo do que realmente engolir o ego e fazer alguma coisa a respeito. O conceito de família, me referindo a amizade que temos entre pessoa do nosso sangue e fora dele não fazendo nunca uma distinção entre células, se perdeu mais em uma geração que se importam mais com a sua imagem nas redes sociais e não com o seu poder que poderia ajudar a si mesmo enquanto ajuda aqueles mais necessitados pelo bem da família. A politica é inútil e só o que poderíamos fazer é abraçar a família e sobreviver com eles, para criar um mundo novo dentro de nós mesmos.
Talvez seja isso que Don Corleone falaria se existisse no mundo de hoje, ou provavelmente se juntaria a eles para conseguir o seu lucro. Mas o importante é a mensagem que O Chefão escrito pelo norte americano Mario Puzo em 1969 passa para o mundo da mafia em Nova York daquela época. Em um momento de guerra fria, Mario Puzo escreveu uma obra que tinha o intuito de falar o mais realista possível sobre as famílias da mafia de Nova York de uma forma no qual nunca tinha sido feita até aquela época, sem alegorias de grandes metralhadoras ou homens maus que matavam por orgulho. O Chefão abriu um leque de possibilidades para tudo que temos atualmente de produção artística sobre a mafia, focando-se principalmente na mafia italiana, no qual no livro o autor se debruça durante a narrativa.
O que eu conhecia de mafia antes de ler este livro eram homens de terno e chapéu de coco que ficavam roubando bancos e transando com garotas jovens enquanto bebiam, uma mistura de Bonnie e Claudy por assim dizer. Mas durante a leitura é apresentado uma visão muito diferente do que estamos acostumados do que é a máfia. Ao longo do livro enquanto lia cada pagina em certos momentos me senti estar lendo o dia a dia de uma empresa de negócios como qualquer outra, claro que em certos momentos tinha mortes e golpes sendo cometidos, mas ai refletia comigo, e qual megacorporação não faz isso hoje ao fazer contratos em países pobres para pagar menos e ganhar mais?, as offshores, pequenas ilhas bancarias no meio do nada que presidentes do mundo todo e empresário já falaram abertamente que possuem dinheiro guardados nesses locais para não pagar impostos, isto não seria uma mafia legalizada?. Essas são algumas reflexões que no fim a própria democracia deveria ser repensada em seu real significado.
A violência silenciosa e crua é o ponto alto deste livro, onde em dados momentos sabemos que uma pessoa deve ser morta de uma forma ou de outra. A forma com que isso é projetado é realística e nada romântica, dando cada vez ao longo dos capítulos um tom de suspense e drama pois não sabemos quem sera próximo. Com o suspense, a todo momento parece que alguém ira se tornar o inimigo, dando uma leitura frenética e boa ao longo do livro, algo que deixa Mario Puzo como um dos maiores escritores policiais da atualidade. É de se esperar que depois este livro tenha sido adaptado para um filme, chamado O Poderoso Chefão e tendo mais duas continuações. O filme se difere em muitas partes do livro, com histórias diferentes e muitos pontos que são excluídos do filme que infelizmente deixam certos personagens vazios se compararmos com o livro. Mas como toda obra, o livro e o filme devem ser tratados separadamente, cada um com a sua visão e método.
O Chefão de Mario Puzo foi o meu primeiro livro do escritor e provavelmente o ultimo, sei que existem continuações na literatura desta historia mas este livro é tão belo em sua forma de escrita que para mim estragaria tratar como uma franquia literária com outras historias. Com uma leitura fácil de entender graças a tradução bem feita para o português, algo que as vezes com livros antigos é difícil de se promover uma linguagem mais adequada, consegue em cada pagina me transportar para um universo no qual não participaria mas observaria cada vez mais sobre esse mundo siciliano que se colocou como uma dar maiores obras literárias sobre a mafia nos Estados Unidos e deu uma nova visão do que é mafia, as vezes estamos mais perto de uma organização como essa do que imaginamos.
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