Mariana - @escreve.mariana
11/06/2020"Não quero que ninguém além de mim ajude essa mulher a se libertar" [IG: @epifaniasliterarias_]O conto "O papel de parede amarelo", da autora Charlotte Perkins Gilman, é considerado um clássico da literatura feminista e foi uma releitura que fiz com o Clube #MulheresNoPapel, cujas discussões agregaram bastante à percepção de novas nuances presentes nessa história, se tornando novamente um favorito.
A narrativa tem início com uma mulher, cujo nome não é identificado, indo morar com seu marido John em uma casa de campo. Nas palavras do cônjuge e do irmão da narradora, ambos médicos, seria mais adequado se ela vivesse ali, especificamente em um quarto no segundo andar, com janelas gradeadas e um repulsivo papel de parede amarelo, com padrões irregulares e disformes.
No ponto de vista desses dois homens, sujeitos da ciência e do poder, a doença dessa mulher é considerada algo intrínseco ao universo feminino, sendo chamada de "histeria" e constantemente banalizada, uma vez que perpetuar essa invalidez é condição necessária para que o marido continue exercendo seu controle sobre ela.
Diante desse diagnóstico, a mulher é proibida de receber visitas e de escrever, um ato que para ela representa libertação – e é exatamente isso que seu marido não deseja. Assim, a todo momento ele a infantiliza, poda, ridiculariza e aniquila sua identidade, além de limitar seu mundo àquela casa de campo, ou melhor, aos padrões daquele sufocante papel de parede.
Seu único refúgio é escrever às escondidas e conter seus pensamentos na presença de John, o que se torna um esforço maior a cada dia.
"Acho que vou ter que voltar para trás do padrão quando vier a noite, e isso é difícil! É tão agradável estar nesse grande quarto e rastejar a meu bel-prazer!"
No momento em que começa a encontrar seus próprios meios para se libertar daquele quarto-prisão, apesar das cada vez mais nocivas proibições impostas por seu marido, nos deparamos com um desfecho aberto a inúmeras interpretações, mas todas muito próximas da realidade de mulheres que conhecem o papel de parede amarelo e seu bizarro padrão.
"[...] não quero que ninguém além de mim ajude essa mulher a se libertar".