Taize @viagemliteral 10/06/2020
Desde a infância, Audrey passa por episódios estranhos em sua vida: afogamentos, fraturas, perdas.
Com o passar do tempo, suas lembranças estavam sendo bloqueadas, não lembrava mais de como as coisas haviam acontecido, não lembrava o porquê de seu pai ter lhe deixado. Sua depressão apenas se agravava a cada dia, mesmo tendo toda proteção e assistência de sua mãe, que não media esforços para estar sempre ao seu lado, buscar ajuda, lhe mimar e dar conforto.
Após sua casa pegar fogo, Audrey junto com sua mãe e seu irmão Peter de 5 anos, seguiram rumo a um novo recomeço, na Granja, numa casa sombria, fria, escura e com um cheiro sufocante de mofo. Mas, o que poderia dar errado? Finalmente ela estaria livre da Coisa, essa que a manipulava para que ela se automutilasse, quebrasse seus ossos, que lhe adoecia, física e mentalmente.
Foram muitos psiquiatras, muitas consultas e medicamentos, mas a Coisa nunca fora embora de sua vida.
"A Coisa sussurrava que eu era uma inútil. A Coisa me dizia para não ter esperança. Que nunca haveria nada de bom para mim. Que eu merecia o castigo que me deram."
Ao chegar nesta nova cidade, Audrey conhece Leo, o único vizinho próximo daquela casa perturbadora. Mas, não estava afim de amigos, muito menos, atrair mais problemas para sua vida. Entretanto, Leo não era como todos os outros garotos, ele também tinha seus problemas e lutava diariamente para superá-los, tanto, que após ser internado em razão de um colapso nervoso, deixou a vida de luxo na casa de seus pais, e fora morar com sua queria tia Sue, na fazenda, longe das grandes tecnologias, longe da pressão psicológica e das cobranças de sua mãe.
A amizade fora inevitável. Ele iluminou seus dias e a Coisa quase desapareceu. QUASE.
No decorrer das páginas, vamos conhecendo melhor os personagens, Audrey é uma menina tímida e frágil, sem grandes avanços na melhoria de sua depressão. Ficamos esperando aquele velho clichê, mas ele não vem, o que torna o livro ainda mais instigante, pois, se o mocinho não salva a mocinha, o que estará por detrás de toda esta história?
No embalo da leitura, começamos a perceber uma certa "maternidade tóxica", podemos ver que Lorraine, mãe de Audrey e Peter, começa a colocar a autoestima da garota abaixo do solo, ferindo-a com palavras e no próximo segundo, sendo a boa mãe, que faz de tudo para que seus filhos sejam felizes.
Peter, é o anjo que dá vida a trama, que faz Audrey buscar melhorias, que a ama, abraça e sente sua falta a todo instante.
Falar sobre saúde mental, não é fácil. Essa é uma condição humana que abraça diferentes aspectos, é necessário uma pesquisa bastante minuciosa para abordar o que esse livro traz - segredo -. Ficamos aguardando o diagnóstico, - obviamente - já que ele se tornou um mistério, entretanto, quando ele surge em meio as páginas, nos surpreende e nos permite conhecer mais uma forma que a mente tem de nos ferir e manipular. A condução da trama fora feita de uma forma simples, sem grandes plots (apenas no final ?), mas que prende o leitor de forma surreal.
"A mentira sempre foi o local em que estávamos seguros. Que cresceríamos como as outras crianças, seríamos fortes, andaríamos de cabeça erguida e nossa vida seria boa. E vivemos aquela mentira por tempo suficiente para esquecermos que, quando ela estendia os braços para nós e nós abraçava, permaneceríamos gelados para sempre."