Yehudi.Lima 28/11/2023
Uma boa surpresa
Quando eu vi o título desse livro pela primeira vez, eu fiquei um pouco receoso. Afinal, por se tratar de uma obra escrita por ninguém menos que *CLARICE LISPECTOR*, eu pensei que seria um livro difícil, cabeçudo e que eu não conseguiria entender nada. É um sentimento que sempre volta, mesmo que eu já tenha lido outras coisas da autora.
Entretanto, diferente do que eu imaginava, "A Via Crucis do Corpo" não é um bicho de sete cabeças.
Este livro, publicado pela primeira vez em 1974, é uma coletânea de contos, com treze histórias no total. Todos eles, se eu não estiver enganado, são protagonizados por mulheres e a maioria deles trata da sexualidade feminina e da condição da mulher. Eu achei interessante, as histórias são contadas com uma linguagem relativamente simples, mas mesmo assim isso não impede que a gente faça várias reflexões interessantes sobre o que elas falam. Esse livro também tem momentos que eu achei bastante engraçados, principalmente nos contos "O Corpo" e "Mas Vai Chover", que encerra a coletânea. Clarice também tinha um lado divertido.
Falando nisso, enquanto eu tava lendo isso aqui, eu li uma resenha de uma moça (não me lembro se foi aqui no Skoob ou na Amazon) de uma moça que disse que sentiu bem próxima da Clarice enquanto lia essa livro, tipo, como se tivesse tomando um cafezinho com ela no apartamento enquanto ouvia as histórias. Eu tive a mesma sensação, acho que a Clarice Lispector era uma pessoa super gente boa e engraçada quando era viva, isso ajuda a gente a desmitificar essa imagem "enigmática" que muitos têm dela e que a própria escritora não gostava.
Também vale ressaltar que a maioria dessas histórias tem uma pegada meio erótica e tudo mais e que por isso esse livro não foi muito bem recebido na época em que foi lançado. Essa foi outra surpresa, porque revelou um lado da Clarice que muita gente não conhece. Algumas histórias, aliás (as três primeiras) foram encomendadas por seu editor, que tinha dito que foram casos que realmente aconteceram. Clarice fala sobre isso em um texto intitulado "Explicação".
De qualquer forma, acho que Clarice foi bastante corajosa em abordar temas como os presentes aqui, ainda mais nos anos 1970, quando a sexualidade feminina era (e infelizmente ainda é) vista como um grande tabu.
Enfim, tem mais coisas que eu gostaria de falar mas acho que já me estendi demais. Recomendo demais, foi uma das melhores leituras que eu fiz esse ano.
Dos treze contos, "Miss Algrave", "O Corpo", "Via Crucis", "Praça Mauá", "A língua do 'p'" e "Mas Vai Chover" foram os meus favoritos.