Gisele @abducaoliteraria 07/04/2018Romance policial com sci-fiJohn Scalzi tem um estilo de narrativa estimulante e viciante. Mesmo quando você está diante de inúmeras informações que dão um nó na sua cabeça, não consegue diminuir o ritmo de leitura; você quer ler mais e mais. Encarcerados segue um estilo completamente diferente da série Guerra do Velho, mas o autor foi capaz de apresentar um mundo tão impressionante quanto.
Devido a uma pandemia global que matou milhares de pessoas no mundo, a humanidade é forçada a se reestruturar para lidar com as suas consequências, investindo valores exorbitantes em saúde, pesquisa e tecnologia. Depois de atingir a primeira dama dos Estados Unidos, Margaret Haden, sua mais notável vítima, o vírus ficou mundialmente conhecido como Síndrome de Haden. Um dos estágios mais cruéis da doença, leva o indivíduo à paralisia completa do sistema nervoso somático, sem chances de reversão. Sua mentalidade e consciência continuam em perfeito estado, mas você é incapaz de se mover; perde toda a capacidade física, inclusive a de se comunicar. Fica encarcerado dentro de si mesmo.
Uma das saídas para reverter essa situação foi implantar uma rede neural no cérebro dos que sofrem de encarceramento, permitindo que eles retomem as suas vidas através da transferência de sua consciência para androides, carinhosamente conhecidos como C3. Este é o plano de fundo para a história de Scalzi, que mostra através de Chris Shane, um Haden, como é viver dentro dessa perspectiva - a de também milhares de outras pessoas. Chris é o novo agente do FBI, e junto com a sua parceira Vann, precisa desvendar um crime estranho e misterioso logo no seu primeiro dia de trabalho.
Como fujo um pouco de sinopses, entrei de cabeça dentro dessa história sem saber absolutamente nada sobre ela. Acabei me surpreendendo bastante com o mundo futurístico e a forma que a trama foi se desenvolvendo. Me senti lendo à um romance policial, com ótimos elementos de ficção científica, à lá Isaac Asimov.
Como vocês devem ter notado, Scalzi nos oferece uma construção de mundo distópica intrigante e verossímil. Sem dúvidas, foi o ponto alto da trama. É plausível as várias possibilidades que a humanidade encontrou para se esquivar dos problemas, transformando o terrível acontecimento em algo positivo. Quando comecei a leitura, imaginei que o mundo sucumbiria por causa da doença, mas ele deu a volta por cima e conseguiu evoluir. Por conta desse período de transformação e readequação da humanidade, também nos deparamos com muitos jogos de interesses políticos.
Vann e Chris formam uma dupla sinérgica, divertida e promissora. Mesmo bastante diferente um do outro, o humor dos dois combina, e quando começam a trabalhar juntos, entram numa sintonia muito boa, digna de um bom par de agentes do FBI. Como sempre, os diálogos são ótimos, carregados de sarcasmo e um humor delicioso que já se mostrou a marca registrada do autor. Mesmo quando você está diante de uma situação que tem tudo para ser mais tensa, ele consegue encaixar motivos para te fazer rir e se descontrair - como por exemplo, Chris Shane é um desastre e ao mesmo tempo um perigo com uma panela.
Ao terminar a leitura, senti que faltou um pouco mais de tensão e emoção na história, principalmente na reta final. Gosto de temer pelos personagens principais e por aqueles que estão à sua volta, e sei que o autor sabe fazer isso muito bem.
Um fator interessante e que pode agradar aos fãs de Jogador Nº 1, é que existe um mundo não físico - não uma realidade virtual, porque para um Haden o mundo não físico é tão real quanto o físico - conhecido como Ágora, o local de maior ponto de encontro entre Hadens, que me fez lembrar muito do Oasis.
"Me disseram que meu espaço liminar é como a escuridão de um túmulo. Mas acho que é como a escuridão da outra ponta da vida. A escuridão de tudo o que está à frente, não de tudo que ficou para trás".
Como sempre costumo dizer, começar a ler ficção científica pelos livros de John Scalzi é uma ótima decisão. Ele é capaz de construir um mundo bem arquitetado, carregados de informações complexas, mas que são conduzidos por uma narrativa fluida e trama divertida que possibilitam você de acompanhar a história sem problemas. Muito pelo contrário, quando acaba, você quer mais. Ainda não entendo como é que os livros desse homem ainda não foram adaptados. Mais Scalzi, por favor!
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