Mar 07/04/2023
Uma premissa não basta
Há pouco mais a ser dito sobre Encarcerados, de John Scalzi. O que há de melhor no volume - sua capa, com arte de Josan Gonzalez, e a premissa - não conseguem carregar nem mesmo o primeiro capítulo, no qual a prosa simplérrima e repetitiva de Scalzi entendia quem lê e deixa clara a falta de interesse do autor em estabelecer a visualidade de seu mundo. Nada em Encarcerados consegue transpassar seu nome em questão de descritivos, o protagonista Chris Shane habita um mundo de substantivos, exemplificados por como tanto seu corpo real, de carne e hoje, como os androides chamados de C3 que habita para viver não são descritos jamais, assim como qualquer sala, rua, escritório, conhecido, suspeito, e a lista continua para tudo, menos a sala de troféus do pai do agente Shane, uma passagem arrastada de longos parágrafos descritos da maneira mais factual e pouco inspirada possível para que se entenda algo óbvio, o talento e riqueza do pai de Shane. Scalzi simplesmente parece ter esquecido como escrever um bom equilíbrio entre mostrar e contar, assim como parece ter esquecido que para escrever uma FC convincente com algum tipo de crítica ou ponderação social, aqui, direitos de PCDs, é preciso de fato estatar uma opinião sólida sobre algo, não sair pela culatra com um criminoso bilionário cujo objetivo é ser mais bilionário.
Em suma, Encarcerados é um aglomerado de diálogos clichês de romance policial, mais de 300 páginas que se passam no flash de um filme Tela Quente que será esquecido em três dias. Os personagens já começam prontos, assim como muitos outros são introduzidos apenas para povoar o mundo, de forma tão descartável que é distrativa (como os gêmeos habitando a casa onde Shane vai morar). A lista continua.
Infelizmente, um desperdício de um punhado de ideias inteligentes e uma FC que ao menos tenta abordar uma questão com muita vazão de ser tratada em FC, sem sucesso.