spoiler visualizarDimas Lins 17/07/2022
As lendas de Artur repaginadas
O Rei do Inverno é o primeiro livro da trilogia As Crônicas de Artur do escritor Bernard Cornwell, publicado originalmente na Inglaterra em 1995. Aqui no Brasil, o livro foi publicado pela Editora Record. A história de Artur, contada sem misticismo, cujos pagãos, que tem como principal referência o druida Merlin, já sofrem a disputa palmo a palmo do cristianismo.
Bernard Cornwell, nascido em 1944, hoje é considerado um dos mais importantes escritores britânicos e tem uma obra vasta e já foi traduzido em mais de 16 idiomas. Depois da morte de seu pai adotivo, o escritor formado em história, adotou o nome de sua mãe biológica Cornwell. Apenas com 50 anos, ele conheceu seus pais biológicos e ficou fascinado com a história da família paterna que remonta à Britânia do século 6.
Passado no ano de 480, O Rei do Inverno é contado pelo monge ancião Derfel Cadarn, à época guerreiro, comandante e o grande amigo de Artur. Embora tenha derrotado os saxões, Artur, filho bastardo do Rei Uther, é considerado responsável pela morte do Príncipe Mordred e exilado na Armórica. Norwenna, esposa grávida do príncipe morte em combate, dá a luz a um menino, também Mordred, que, graças a intervenção de Morgana, irmã de Artur e sacerdotisa de Merlin, escapa da morte em seu nascimento. Porém, a criança nasce aleijada de uma perna, considerado mau agouro. Um conselho é formado para garantir o reinado do futuro Rei Mordred, onde três guardiães são nomeados. Agricola, campeão de Gwent, sugere Artur como um dos guardiães, mas é rejeitado pelo Rei Uther. Morgana, substituindo Merlin no conselho, insiste que o druida só aceitará o juramento, se Artur for um dos guardiães, o que faz Uther recuar. Após a morte do Rei Uther, o Rei Gundleus, nomeado um dos guardiães do pequeno príncipe, mata Norwenna e acredita ter matado o bebê Mordred, que fora substituído pelo filha da empregada, depois de casar-se com ela, para tornar-se o Rei de toda a Britânia. De volta à Dumnonia, Artur derrota Gundleus, mas não o mata, porque ele é ainda um rei.
Pronto para unificar todo o reino contra os saxões, Artur vai a Powys para casar-se com Ceinwyn, filha de Gorfyddyd. Contudo, tomado de amor ao conhecer Guinevere, na mesma ocasião, Artur casa-se com ela, mergulhando a Britânia de vez na guerra.
O interessante da história é ver a fraqueza e as virtudes dos personagens, através dos olhos de Derfel. Artur, embora generoso, é ambicioso e não tem boa relação com os filhos que são mimados e querem poder. Guinevere é ainda mais ambiciosa que Artur e deseja colocá-lo no trono. Lancelot é covarde e traiçoeiro. Mais os melhores personagens são mesmo Derfel e Nimue, aprendiz de Merlin, considerada perigosa e louca e é banida para a Ilha dos Mortos, de onde ninguém jamais voltou.
A história de Artur contada por Derfel, é bem amarrada e não se perde mesmo com a infinidade de personagens. Na verdade, a narrativa prende o leitor, tornando-se uma boa viagem literária para quem gosta das lendas Arturianas. Um dos pontos fortes, aliás, é a liberdade que Cornwell toma ao mudar as lendas e repaginando-as substancialmente. Vale muito!